Título: Caciques do PT ficam de fora
Autor: Correia, Karla; Chaib, Julia
Fonte: Correio Braziliense, 18/01/2013, Política, p. 3
Sem a presença de integrantes da cúpula nacional do partido, cerca de 80 petistas participam de jantar destinado a arrecadar fundos para pagar as multas aplicadas aos quatro filiados condenados pelo Supremo
Cerca de 80 militantes petistas atenderam ao apelo da Juventude do PT do Plano Piloto e compareceram ao jantar destinado a arrecadar fundos para ajudar a pagar as multas impostas a petistas condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do mensalão. O evento ficou esvaziado na maior parte do tempo. Nenhuma das estrelas nacionais do partido compareceu ao jantar, nem mesmo nomes dados como certos, como o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP) ou o deputado Zeca Dirceu (PT-PR), filho do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
De acordo com os organizadores do jantar, foram vendidos 150 convites. "O importante é que alcançamos a expectativa de demonstrar a solidariedade da militância petista com os nossos companheiros", minimizou Pedro Henrichs, da Juventude do PT. Segundo ele, outro evento no mesmo formato já está sendo planejado para ser realizado em Porto Alegre nas próximas semanas. Ainda segundo Henrichs, a Juventude do PT deve entregar uma carta à Organização dos Estados Americanos (OEA) pedindo a revisão da sentença dos quatro petistas condenados no processo.
Os discursos feitos durante o jantar deram o tom de ato político do evento. Convidado pelo PT, o advogado Marthius Sávio, responsável pela defesa do ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato no julgamento do mensalão, se concentrou no período de recursos na ação penal ao dizer que a decisão do Supremo ainda poderá ser revertida. "Acredito que esse processo ainda não terminou", disse Sávio. "Vamos demonstrar nos autos as injustiças que foram cometidas. A ação ainda não terminou, ainda temos muito o que fazer", afirmou o advogado. A deputada Érika Kokay (PT-DF) fez coro. "A lucidez vai imperar e aclarar as peças dessa ação penal. As injustiças não são permanentes, o resultado será revertido", afirmou a deputada.
Mesmo sem conseguir mobilizar as lideranças nacionais do partido, a militância do PT-DF manteve o tom elevado das manifestações em defesa de José Dirceu, do ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares e dos deputados José Genoino (SP) e João Paulo Cunha (SP), todos condenados pelo Supremo na Ação Penal 470. O sindicalista Cícero Rôla disse ter comprado cinco ingressos de R$ 200 para o jantar. "Vou atrasar uma prestação da minha casa para isso, mas vale a pena. Temos que defender o nome dessas pessoas que ajudaram a construir o partido", afirmou. Ao discursar, o sindicalista se inflamou. "A gente tem que entender que isso (o julgamento do mensalão) não foi contra o Zé, contra o Delúbio. Isso é contra o PT. A burguesia desse país não admite isso. Vão ter que engolir mais um projeto de 20 anos nosso", afirmou Cícero.
Cada participante do jantar teve que comprar um convite a preços que variavam entre R$ 100 e R$ 1 mil. O PT não divulgou o montante arrecadado com o evento, realizado em uma galeteria no Lago Norte. Os recursos serão repassados ao PT Nacional para ajudar a pagar as multas impostas aos mensaleiros que, juntas, somam em torno de R$ 1,8 milhão.
Antes do início do jantar, uma jovem se postou em frente à porta da galeteria em protesto contra o evento. A advogada Marília Gabriela Ferreira de Farias levantou um cartaz defendendo que os militantes petistas dividissem as penas de prisão com os condenados no processo do mensalão. "Moro aqui do lado, estava vendo essa palhaçada e resolvi descer aqui para protestar. Quem ajuda bandido colabora com o crime", disse Marília.