Valor econômico, v.21, n.5045, 17/07/2020. Brasil, p.A8

 

Ribeiro assume o MEC e promete ‘grande diálogo’

Fabio Murakawa 

Rafael Bitencourt

17/07/2020

 

 

O presidente Jair Bolsonaro deu ontem posse, em solenidade da qual participou virtualmente, ao seu quarto ministro da Educação. Visto com desconfiança por evangélicos e pela ala ideológica que apoia o presidente, Milton Ribeiro assumiu a pasta se comprometendo a construir um “grande diálogo” com educadores, com a valorização da educação pública.

Ribeiro assume a pasta em meio a um movimento do governo rumo à moderação e à pacificação com os demais Poderes. Seu antecessor, Abraham Weintraub, manteve uma conturbada relação com o Congresso e caiu após defender a prisão de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), em uma reunião ministerial em abril.

Em cerimônia no Palácio do Planalto, fechada à imprensa, Ribeiro assumiu um compromisso com a escola pública, base de sua formação. E, embora seja pastor da Igreja Presbiteriana, prometeu que sua gestão seguirá os princípios do Estado laico. “Conquanto tenho a formação religiosa, meu compromisso está bem firmado e bem localizado em valores constitucionais da laicidade do Estado e do ensino público”, afirmou.

O ministro, que se disse entristecido com a educação no Brasil, defendeu que seja restituída a autoridade do professor em sala de aula, pois tem sido comum registros até violência física contra docentes. Mas negou haver defendido castigos físicos a alunos.

“Jamais falei em violência física na educação escolar e nunca defendi tal prática, que faz parte de um passado que não queremos de volta", afirmou, sem mencionar o vídeo que circulou na redes sociais no qual sugeria a necessidade de maior “rigor e severidade” na educação de crianças.

O novo ministro disse que buscará deixar um legado positivo para o futuro das crianças, apesar de reconhecer que tem “a consciência de que não vamos solucionar o problema da educação no país”.

Ao encerrar o discurso, afirmou que, apesar de sua formação religiosa, “tem compromisso firmado e bem localizado em valores constitucionais da laicidade do Estado e do ensino público”.

Ribeiro assume o MEC no lugar de ministros marcados por posições polêmicas, Abraham Weintraub e Ricardo Vélez Rodríguez. Seu antecessor imediato, Carlos Alberto Decotelli, ficou menos de uma semana no cargo devido a inconsistências em seu currículo acadêmico.

Ele terá também como desafio se equilibrar entre as diferentes alas do governo, uma vez que o Ministério da Educação é objeto de interesse tanto de militares quanto da ala ideológica e dos evangélicos que apoiam o presidente.

Desde o início do atual governo, essas três alas, além de funcionários com viés liberal, vêm protagonizando uma disputa por poder dentro da pasta.

Em seu discurso, proferido desde o Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse que Ribeiro, “com toda a certeza”, estará voltado para o diálogo com os educadores. Mas sinalizou que o ministro terá uma autonomia limitada para montar sua equipe.

“Você terá como, pontualmente, colocar gente ao seu lado com o mesmo espírito seu”, disse. “Se bem que pode ter certeza que grande parte do ministério pensa como você”, acrescentou.