Título: Pressão pelas armas
Autor: Valente, Gabriela Freire
Fonte: Correio Braziliense, 18/01/2013, Mundo, p. 17

Associação Nacional do Rifle promete lutar no Congresso contra pacote de Barack Obama que restringe comércio

Depois de aprovar um pacote para combater a violência armada, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deve enfrentar dificuldades para proibir a venda de armas de perfil militar no país. Na quarta-feira, ele disse que usará todo o peso do posto presidencial para "tornar essas medidas realidade". No entanto, o lobby da Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês) e a oposição ao governo no Congresso devem dificultar seus planos.

Em resposta ao presidente Obama, a NRA divulgou ontem uma carta em que promete agir no centro da política americana. "Estamos ansiosos para trabalhar com o Congresso em uma base bipartidária", dizia o texto de assinado por Wayne LaPierre, vice-presidente executivo da organizaçãoque defende a indústria do setor. O presidente da NRA, David Keene, afirmou à CBS que não é contra melhorias na checagem de antecedentes, como quer Obama. No entanto, ele disse que a medida, assim como a proibição de armas de assalto, não diminuirá a violência. "A questão não é o que fazemos sobre armas, mas o que podemos fazer para tornar nossas escolas mais seguras", falou.

Além da influência da organização, a formação do Congresso americano pode ser outro obstáculo para leis mais rígidas. "Não há como aprovar o projeto com uma maioria de republicanos (que controlam a Câmara do Representantes). Isso demandaria o apoio de todos os democratas e nem todos vão votar a favor dessa lei", disse Nathan Gonzales, editor adjunto do The Rothenberg Political Report, em entrevista à CNN.

Na quarta-feira, Obama afirmou que acredita no direito individual ao porte de armas e que os Estados Unidos "sempre serão a terra da liberdade". No entanto, ele cobrou que a legislação exija a verificação de antecedentes criminais em todas as compras, a recuperação da lei que restringia a venda de armamento de assalto e com capacidade de disparo superior a 10 tiros — que vigorou até 2004 — e o endurecimento da pena para quem revender armas a criminosos.

No mesmo dia, o deputado estadual republicano do Texas Steve Toth disse à CNN que trabalhará para tornar ilegal qualquer determinação federal contra armas. "Faremos tudo para chamar as pessoas de volta à crença de que somos uma república constitucional e que nossos direitos não vêm do Congresso, mas de Deus, e são enumerados na Constituição", falou.

A reação negativa em estados conservadores já era esperada, de acordo com Scott Melzer, professor da Universidade de Albion. Até o momento, apenas os governadores de Nova York e de Massachusetts solicitaram o endurecimento das leis estaduais.

Pesquisa

Uma pesquisa realizada pela CNN e pela revista Time indica que o apoio à restrição de armas semiautomáticas caiu desde o massacre em Newtown, Connecticut. O episódio deixou 26 mortos vítimas de armamentos de alto poder de fogo, em 14 de dezembro do ano passado, e reascendeu as discussões sobre a legalização no país.

Os resultados da pesquisa foram divulgados na última quarta-feira e mostram que 56% dos participantes apoiam a proibição de venda de armas semiautomáticas. Em uma pesquisa feita dias após o massacre de Sandy Hook, este número era de 62%. A porcentagem de pessoas a favor do registro de armas perante o governo também caiu, de 78% para 69%, segundo a CNN.

62% Índice de americanos que apoiavam a proibição de venda de armas semiautomáticas após o massacre na escola primária de Sandy Hook, em dezembro

58% Parcela de cidadãos que continuam a apoiar a ideia, pouco mais de um mês após a tragédia em Newtown