Correio braziliense, n. 20880 , 24/07/2020. Economia, p.8

 

Para ter o auxílio emergencial de volta

Marina Barbosa

24/07/2020

 

 

CORONAVÍRUS » Caixa define calendário de modo que titulares de contas bloqueadas possam recuperar o acesso ao benefício. Erros de cadastro podem ser resolvidos por meio do aplicativo do banco. Casos em que há indícios de fraude exigem comparecimento às agências

O bloqueio de 1,3 milhão de contas usadas para o pagamento do auxílio emergencial provocou, ontem, mais um dia de filas nas agências da Caixa Econômica Federal. Por isso, o banco decidiu criar um calendário específico para o atendimento das pessoas que precisam recuperar o acesso ao benefício de R$ 600 mensais. O cronograma começa hoje e vai até 21 de agosto.

“O calendário segue as datas de depósito do auxílio, porque quem vai receber em agosto não precisa realizar o desbloqueio agora. O objetivo é reduzir aglomerações e agilizar o atendimento”, informou o presidente da Caixa, Pedro Guimarães.

Mesmo quem ainda tem algum dinheiro dos depósitos anteriores do auxílio emergencial deve esperar a data marcada para o desbloqueio. “Se todos forem ao mesmo tempo, teremos filas. Então, a prioridade é de quem está recebendo o depósito agora”, alegou Guimarães.

Guimarães destacou que muitas das pessoas que foram às agências, ontem, poderiam ter restabelecido a conta sem sair de casa, por meio do aplicativo Caixa Tem. Segundo o banco, 49% das contas bloqueadas têm apenas problemas de inconsistência cadastral, que podem ser resolvidos de forma digital.

Outras 51% das contas cujo pagamento foi suspenso, no entanto, estão sob suspeita de fraude. Nesse caso, o titular precisa comparecer a uma agência da Caixa, portando documento de identidade, para comprovar que tem direito ao benefício. 

Guimarães orientou as pessoas, antes de tudo, a acessarem o Caixa Tem para ver qual a orientação específica para o seu caso. Desde ontem, o aplicativo indica o caminho para resolver as inconsistências cadastrais de forma digital, e também aponta os dias corretos de ir à Caixa nos casos em que é preciso fazer a verificação presencial dos documentos. Segundo o executivo, se todos seguirem as orientações, será possível fazer o atendimento de quem precisa ir ao banco em apenas 15 minutos.

A Caixa bloqueou 1,3 milhão de CPFs no Caixa Tem, por orientação do Ministério da Cidadania, depois que hackers invadiram contas do aplicativo. Segundo Guimarães, a medida foi necessária para coibir as fraudes e teve êxito nesse sentido, pois impediu os hackers de desviarem o recurso dessas contas. "Do ponto de vista de fraude efetiva, é muito pequeno”, afirmou, assegurando que “não houve nessas contas perda para o erário”.

O executivo admitiu, contudo, que isso acabou penalizando “a parcela mais carente da população”. “Ao evitar fraudes, bloqueamos as contas, e, agora temos de revalidá-las. Acreditamos que faremos rápido, mas gera algum desconforto”, comentou.

Celular

O próprio Guimarães teve o celular hackeado no último fim de semana. Segundo ele, a invasão provocou o vazamento de “números, e-mails, placas de carro e endereços de apartamento” da família. Ele acredita que o responsável “é o mesmo fraudador” do auxílio emergencial. E lembrou que as investigações sobre o assunto “estão bem-adiantadas”. “Vamos resolver essas questões com a Polícia Federal. Até porque hackear é crime, e bastante grave”, afirmou.

Como regularizar

O Caixa Tem informa o que é preciso fazer para desbloquear a conta:

» Se for uma inconsistência cadastral, o problema pode ser resolvido mediante o envio de fotos dos documentos para o Caixa Tem e o WhatsApp da Caixa

» Se for suspeita de fraude, é preciso ir a uma agência da Caixa, nas datas estabelecidas pelo banco, com o documento de identidade

Veja o calendário

Nascidos em    Desbloqueio

Janeiro, fevereiro e março    até 24 de julho

Abril e maio    de 27 a 31 de julho

Junho e julho    de 03 a 07 de agosto

Agosto, setembro e outubro    de 10 a 14 de agosto

Novembro e dezembro    de 17 a 21 agosto

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Benefícios à metade da população

Marina Barbosa

24/07/2020

 

 

Benefícios liberados pelo governo, como o auxílio emergencial de R$ 600 têm ajudado quase metade da população brasileira a fazer a feira do mês e a manter as contas em dia durante a pandemia do novo coronavírus. De acordo com dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 43% dos domicílios receberam ajuda do governo no mês passado.

Segundo o IBGE, 29,4 milhões de domicílios brasileiros receberam algum benefício relacionado à pandemia de covid-19 em junho, sobretudo o auxílio emergencial. Esses lares concentram 104,5 milhões de pessoas. Por isso, é possível dizer que 49,5% da população foi beneficiada por esses auxílios no mês passado.

E o percentual é muito maior entre as classes mais baixas, pois 75% dos recursos liberados pelo auxílio emergencial em junho foram direcionados aos brasileiros cuja renda domiciliar per capita não passa de R$ 665,11, segundo o IBGE. Por isso, o auxílio também tem ajudado a elevar a renda per capita de muita gente.

O IBGE calcula que 17,7 milhões de domicílios do estrato mais baixo da população brasileira poderiam estar enfrentando a pandemia de covid-19 com uma renda domiciliar per capita média de apenas R$ 7,15. Porém, estão vivendo com R$ 271,92 por pessoa graças ao auxílio emergencial.

“As mães solteiras do Bolsa Família, por exemplo, recebiam R$ 200 por mês. Mas, agora, estão recebendo R$ 1,2 mil. Por isso, o auxílio manteve a renda básica dos trabalhadores informais e autônomos e ainda elevou o rendimento dos lares das pessoas mais pobres”, avaliou o professor do Programa de Pós-Graduação em Economia Regional e Desenvolvimento da UFRJ, Joilson Cabral.

Efeito

De acordo com o pesquisador, o aumento da renda dessas parcelas da população tem sido importante também para a economia do país. “O primeiro impacto é social, porque garante que essas famílias vão subsistir e conseguir fazer o isolamento social necessário na pandemia. E o segundo é econômico, porque essas famílias usam o dinheiro para consumir. Por isso, o auxílio serve de socorro para os setores produtivos de bens essenciais, como os de alimentos e produtos de limpeza”, afirmou Cabral.

Estudo realizado pelo professor, com outros pesquisadores da UFRJ, calcula até que, por conta disso, o auxílio emergencial deve conter em até quatro pontos percentuais a retração do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil neste ano.