Correio braziliense, n. 20884 , 28/07/2020. Brasil, p.7

 

3 milhões de casos na próxima semana

Bruna Lima

Maria Eduarda Cardim

28/07/2020

 

 

Com mais 23.284 infectados em 24 horas, país tem 2.442.375 casos confirmados; o número de mortes é de 87.679. Previsão do Portal Covid-19 Brasil é que aceleração de contágio nos próximos dias deve impactar o registro de novos óbitos

Sem trégua da constante de novos casos e mortes, o Brasil tem 2.442.375 infectados e 87.618 mortes pelo novo coronavírus. Ontem, foram somados 23.284 diagnósticos positivos para a doença e 614 óbitos. De acordo com as últimas análises do boletim Infogripe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o país segue apresentando tendência de crescimento após bater recorde de contágio na semana passada. A previsão do Portal Covid-19 Brasil, iniciativa de pesquisadores das universidades federais de Brasília (UnB) e de São Paulo (USP), é que o país atinja 3 milhões de confirmações na próxima semana, o que deve impactar na continuação de registro de novas mortes nos dias subsequentes. A estimativa é que o país tenha 100 mil mortos pela doença até o fechamento da semana epidemiológica 32, em 8 de agosto.

Sem uma expectativa de queda sustentada dos números, a esperança do brasileiro está na vacina contra a covid-19. Governador de São Paulo, João Doria afirmou, ontem, que prevê para janeiro o início da vacinação com a CoronaVac, vacina produzida pela empresa farmacêutica chinesa Sinovac. “Nessa circunstância, já poderemos iniciar a produção da vacina em dezembro e, imediatamente na sequência, iniciar a vacinação, com o SUS e com o Ministério da Saúde, de milhões de brasileiros. Não apenas em São Paulo, mas também nos demais estados do país”, disse em coletiva de imprensa.

Vacina que já está sendo testada em nove mil brasileiros em parceria com o Instituto Butantan, a CoronaVac está na última fase do estudo clínico, a terceira. O secretário de saúde do estado de São Paulo, Jean Gorinchteyn, explicou que é na fase três que se avalia a produção de anticorpos sustentados em nível alto. Por isso, ele acredita que, caso os testes mostrem que o imunizante produz os anticorpos de proteção e que eles se mantêm por um período prolongado, ela deve ser aprovada.

“Como estamos no meio de uma pandemia, nada mais justo que as autoridades sanitárias promovessem emergencialmente a liberação. Se tenho segurança e estou produzindo anticorpos nesses três meses, vamos utilizar [a vacina para a população]. Claro que todo o estudo deve continuar até para saber se vai precisar dar doses de reforço com o decorrer dos anos”, declarou.

Cenário atual

Mesmo diante de atualizações abaixo da média de 30 mil novas confirmações e óbitos abaixo da casa dos mil, os números contabilizados a cada segunda-feira não demonstram uma inflexão da curva brasileira. O comportamento de menos registros no início da semana epidemiológica é comum devido aos atrasos típicos do fim de semana.

De acordo com o coordenador do Infogripe, Marcelo Gomes, dados com data de notificação ou de digitação não necessariamente refletem o momento atual. “É preciso levar em conta a data de primeiros sintomas ou data do óbito, por exemplo. Justamente por isso que nós trabalhamos com o dado corrigido pelo atraso de digitação, com base no perfil histórico desse atraso. O que se nota, atualmente, é uma tendência de crescimento no país, com possível reversão da tendência de queda em alguns estados”, detalha Gomes.

Outro viés importante levado em consideração é a diferença de momentos da epidemia nas diversas regiões do país. Apesar de ser recorrente avaliar a situação da covid-19 a partir de uma curva nacional, o acumulado serve para mostrar que os números brasileiros estão em um alto patamar de estagnação, mas não pode servir como base para definir os próximos passos de flexibilização ou restrição de atividades de cada local.

Estados

Atualmente, 20 estados acumulam mais de mil óbitos pela doença. Quem lidera o ranking é São Paulo, com 21.676 óbitos. O Rio de Janeiro é o segundo, com 12.876. Em seguida estão: Ceará (7.509), Pernambuco (6.376), Pará (5.729), Bahia (3.227), Amazonas (3.224), Maranhão (2.943), Minas Gerais (2.461), Espírito Santo (2.436), Paraíba (1.727), Paraná (1.703), Rio Grande do Norte (1.697), Mato Grosso (1.625), Rio Grande do Sul (1.611), Alagoas (1.514), Goiás (1.400), Sergipe (1.340), Distrito Federal (1.339) e Piauí (1.259).

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Até 20% para imunidade coletiva

Bruna Lima

Maria Eduarda Cardim

28/07/2020

 

 

Um novo estudo desenvolvido por pesquisadores do Brasil, Portugal e Reino Unido estima que a imunidade coletiva ou de rebanho pode ser alcançada em uma determinada região se uma média de 10% a 20% da população for infectada, criando uma barreira natural contra a infecção. O percentual para a chamada imunização rebanho ajuda a definir estratégias de políticas públicas e serve como referência para estimar a quantidade de pessoas que precisarão receber uma vacina para que a transmissão da covid-19 seja interrompida.

Publicada na plataforma medRxiv (site de arquivamento e distribuição de artigos que ainda aguardam revisão por pares), a análise usa a curva epidêmica de países nos quais a epidemia está em fase avançada para calcular o coeficiente de variação e estimar a suscetibilidade da população em contrair o novo coronavírus.

“Em locais onde o limiar de imunidade coletiva já foi alcançado, a tendência é que o número de novos casos continue a cair mesmo se a economia for reaberta. Mas caso as medidas de distanciamento forem relaxadas antes de a imunidade coletiva ser alcançada, os casos provavelmente voltarão a subir e os gestores devem estar atentos”, explicou o coautor do estudo e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Rodrigo Corder. “Conceitualmente, após atingir a imunidade coletiva, a transmissão tende a se prolongar caso as medidas de controle sejam retiradas rapidamente”, alertou.

Segunda onda

Caso a projeção se confirme na prática, o estudo indica, portanto, ser baixo o risco de uma segunda onda de casos do novo coronavírus com picos tão altos quanto na primeira; e que é possível alcançar uma imunidade coletiva nos municípios que aderiram à quarentena e que não deixaram a doença se espalhar sem controle. Vale dizer também que houve ganho quando os gestores equiparam os hospitais para evitar um colapso no sistema de saúde, e que essas medidas não foram somente uma tentativa de retardar um “cenário inevitável”. 

Inicialmente, estudos revelavam serem necessários mais de 60% de infectados em um determinado espaço para se atingir a imunidade coletiva. Apesar da mudança nas análises, isso não significa que a manutenção do distanciamento social seja menos importante. “Se algum gestor defende a imunidade coletiva como política pública, ele está equivocado. As medidas de controle são importantes para não sobrecarregar o sistema de saúde. Mas o novo entendimento da dinâmica de transmissão da covid-19 que nosso modelo traz aponta para um cenário mais otimista”, explicou o pesquisador Rodrigo Corder.