Correio braziliense, n. 20884 , 28/07/2020. Cidades, p.17

 

Covid reforça alerta contra a obesidade

Jéssica Eufrásio

28/07/2020

 

 

O grupo representa 13% das pessoas que morreram desde o início da pandemia do novo coronavírus no Distrito Federal. Por causa desse fator de risco, especialistas chamam a atenção para os cuidados com a saúde e a importância da boa alimentação e dos exercícios físicos

Considerada um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de um quadro grave da covid-19, a obesidade tem preocupado quem se encaixa no perfil. Dados divulgados ontem mostram que 150 (13%) pessoas morreram no Distrito Federal por causa do novo coronavírus eram obesas. Mesmo assim, a taxa de recuperação desses pacientes tem se mostrado alta: dos 568 infectados na capital, 411 venceram a doença e sete seguem em tratamento. Para profissionais da saúde, cuidados com a alimentação, com o sono e a prática de atividades físicas são importantes para toda a população. No entanto, esses hábitos também podem ajudar a diminuir processos inflamatórios característicos da obesidade que resultam na queda de imunidade.

No DF, o ganho excessivo de peso aparece em quarto lugar entre as comorbidades detectadas em pacientes diagnosticados com a covid-19 ou que morreram por causa dela — fica atrás de doenças cardiovasculares (822 óbitos), distúrbios metabólicos (530) e problemas pulmonares (194). Professor de fisiologia do exercício na Universidade de Brasília (UnB), Guilherme Molina explica que a obesidade pode gerar complicações associadas ao aparelho cardiovascular, além de alterações no metabolismo. “Pessoas com sobrepeso ou obesas tendem a produzir substâncias que são pró-inflamatórias. Nesses casos, o corpo fica constantemente em uma condição de inflamação e obriga o sistema imunológico a ficar sempre atuando”, explica Guilherme.

O professor lembra, no entanto, que a pandemia provocou a redução da atividade física por parte da população e que isso pode ser um agravante para qualquer pessoa, independentemente do peso. “O ideal é a prática de 150 minutos de atividade leve ou moderada por semana. Isso pode ser 30 minutos de caminhada por dia. Qualquer passo conta”, destaca. Nos casos de atividades internas, o pesquisador recomenda a dança ou mesmo atividades domésticas. Se for ao ar livre, a indicação é dar preferência por locais sem aglomeração, usar máscara e higienizar as mãos.

A agente educacional Thais Soares da Silva, 39 anos, perdeu o pai, Nilson da Silva, 57, há pouco mais de uma semana por causa da covid-19. A médica que o atendeu informou à família que a obesidade pode ter agravado o quadro. O office boy pesava 100kg. “A nossa dúvida é se ele estava mesmo doente ou se pegou quando o levamos ao hospital. Ele ficou isolado, mas uma pessoa que dividia o quarto com ele testou positivo”, relata Thais. “Foi horrível, porque não teve velório. Foi do hospital para o cemitério e para a sepultura. Isso foi o que mais doeu para a gente”, lamentou.

Sinais

Os parâmetros adotados pelo Ministério da Saúde para avaliação de pessoas de 20 a 59 anos são os mesmos da Organização Mundial da Saúde (OMS). A análise leva em conta o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC): o peso — em quilos — dividido pela altura — em metros — elevada ao quadrado. Resultados entre 25 e 30 indicam sobrepeso. De 30 para cima assinalam obesidade. Dados da pesquisa Vigitel 2019, realizada pela Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do ministério, mostram que 19,6% das pessoas com mais de 18 anos do DF são obesas.

A endocrinologista Jamilly Drago afirma que estudos confirmam mudanças na imunidade de pacientes obesos. Ela explica que isso decorre de inflamações constantes no organismo, provocadas pela liberação da citocina pelo tecido adiposo. Ela explica que, apesar de, em algumas pessoas com sobrepeso ocorrerem processos semelhantes, esse padrão não pode ser considerado como fator de risco, como no caso específico da obesidade. “As substâncias inflamatórias alteram nossas defesas, e acabamos tendo dificuldade para uma recuperação rápida e imediata de uma virose ou síndrome gripal”, observa.

A nutricionista Camila Pedrosa chama a atenção para o fato de que os sintomas de inflamação que podem caracterizar a imunidade baixa também se apresentam em pessoas de peso considerado adequado, de acordo com o IMC. Sinais como fadiga ao acordar, mesmo após oito horas de sono; queda de cabelo; sonolência ao longo do dia; estresse e pele fragilizada são alguns dos indicativos que o organismo dá quando há algo de errado com a saúde. “Com falta de vitaminas e minerais, a pessoa está sujeita a qualquer tipo de doença infecciosa. A atividade física é um anti-inflamatório natural que, muitas vezes, passa a imagem de que é só para moldar o corpo. Mas não é. Mesmo que em pequena quantidade, ela deve acontecer diariamente”, pontua a nutricionista.

Dicas

Veja alguns hábitos e alimentos que ajudam a manter o corpo saudável:

• Em casa, movimentar-se é a recomendação mais indicada para todas as pessoas. Evite passar muito tempo sentado ou deitado

• Dançar, subir e descer escadas, brincar com as crianças, usar aplicativos de exercícios físicos, assistir a aulas de alongamento, ioga ou de outras modalidades pela internet são opções para se manter ativo em casa

• Fazer atividades domésticas também podem ajudar

• Caso tenha a opção de fazer atividades ao ar livre, em locais sem aglomeração, caminhar, pedalar ou correr de forma leve a moderada são alternativas. Lembre-se de usar máscara e de não tocar o rosto sem higienizar bem as mãos

• Beba bastante líquido, como água, sucos naturais ou água de coco

• Cuide da qualidade do sono: tente dormir de 7h a 8h por noite e evite usar o celular ou aparelhos luminosos antes de se deitar ou ao acordar

• Prefira alimentos naturais e feitos em casa. Alimentos de cor avermelhada ou arroxeada (amora, romã, beterraba etc.), ricos em ômega 3 (chia, linhaça, sardinha), além de alho, gengibre e açafrão-da-terra, ajudam o corpo a lidar com inflamações e, consequentemente, fortalecem a imunidade

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Mais 27 mortes no DF

Tainá Seixas

28/07/2020

 

 

O Distrito Federal registrou, ontem, mais 27 mortes de moradores por covid-19. Outros quatro óbitos de moradores de Goiás foram registrados na capital. Com o balanço divulgado ontem pela Secretaria de Saúde, o total de mortes na capital chega a 1.220. Dezessete das 31 vítimas eram homens, e 13 tinham mais de 80 anos. Além disso, a maioria das vítimas apresentava outras comorbidades que agravavam a doença, como doenças cardiovasculares e distúrbios metabólicos. Cinco óbitos aconteceram em Ceilândia; quatro, no Guará; e três, em Planaltina, Gama, Sobradinho e Samambaia. Três pacientes faleceram em casa. As mortes foram registradas entre 28 de junho e 27 de julho.

O total de casos da covid-19 no DF é de 98.480. São 2.148 notificações nas últimas 24h. Destes, 81.786 estão recuperados. A maior parte dos diagnósticos é de mulheres (52,8%), mas a letalidade da doença é maior entre homens (58,6%). A faixa etária com maior incidência da doença é de 30 a 49 anos, mas os óbitos concentram-se entre pessoas com mais de 80 anos.

Ceilândia é a região com maior número de casos (12.348), seguida por Plano Piloto (7.766), Taguatinga (6.956) e Samambaia (6.372). Ceilândia é, também, a região com mais óbitos (270). Em seguida, aparecem Taguatinga (119), Samambaia (117) e Plano Piloto (82), em número de mortes.

O sistema de saúde do Distrito Federal aproxima-se da capacidade total. Dos leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) destinados a pacientes da covid-19 na rede pública, 81,42% estão ocupados. Na rede privada, a taxa de lotação é de 92,48%. Os hospitais regionais de Planaltina e de Brazlândia, além da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de São Sebastião, estavam sem leitos vagos para a covid-19 ontem. Na rede privada, apenas 10 hospitais apresentavam leitos disponíveis. As informações são da Sala de Situação.