Valor econômico, v.21, n.5047, 21/07/2020. Empresas, p. B4

 

Novas vacinas avançam na luta contra covid-19

21/07/2020

 

 

A vacina contra o novo coronavírus desenvolvida pela Universidade de Oxford e a AstraZeneca mostrou sinais promissores na primeira fase de testes clínicos. O estudo ansiosamente aguardado e publicado pela “The Lancet” ontem, mostra que a vacina AZD1222 gerou “respostas imunológicas robustas” e foi tolerada por todos os pacientes.

Os resultados dão esperanças de que a inoculação poderá prevenir contra a doença, mas especialistas alertaram que ainda há um longo caminho a percorrer para que sua segurança e eficácia sejam comprovadas.

Os testes, que envolveram 1.077 adultos saudáveis entre 18 e 55 anos, induziram duas formas de resposta imunológica humana - gerando anticorpos e células T - por pelo menos 56 dias. “Os dados são fantásticos. O melhor que se poderia ter neste estágio”, disse Kate Bingham, presidente da Vaccine Taskforce, a força-tarefa criada pelo governo britânico para o desenvolvimento de uma vacina. Mas ela disse que os resultados preliminares encorajadores não garantem sucesso em testes abrangentes.

Mene Pangalos, diretor de pesquisa e desenvolvimento de biofarmacêuticos da AstraZeneca, disse: “As informações de hoje aumentam nossa confiança de que a vacina vai funcionar e nos permitirá continuar com os planos de fabricação da vacina em grande escala para que todo o mundo tenha um acesso amplo e equitativo”.

Todos os participantes tiveram uma resposta de célula T em até 14 dias após a vacinação e 91% desenvolveram anticorpos em 28 dias. Esse número aumentou para 100% após uma dosagem maior. A maioria das vacinas em desenvolvimento deverá exigir duas doses.

Pascal Soriot, presidente executivo da AstraZeneca, disse que há uma possibilidade, uma suposição cada vez mais apoiada por dados recentes, de que a resposta de célula T poderá ajudar a resposta de anticorpos e produzir maior durabilidade na resposta imunológica.

“Trabalhamos muito para aumentar a produção”, disse ele, observando que gora tem capacidade para fornecer 2 bilhões de doses sem fins lucrativos durante a pandemia. Ele acredita que essas doses poderão começar a ser distribuídas antes do fim do ano.

A fase um de testes da vacina que está sendo desenvolvida pela Moderna dos Estados Unidos induziu respostas positivas de anticorpos, enquanto as vacinas desenvolvidas pela CanSino Biologics e Pfizer e BioNTech também apresentaram bons sinais de provocar resposta dupla das células T, segundo dados divulgados ontem.

Perguntado sobre como os testes da vacina de Oxford/AstraZeneca se comparam com as demais, Soriot disse que todas elas vêm apresentando resultados positivos e é difícil compará-las diretamente enquanto todas elas não forem testas num mesmo laboratório.

Jonathan Ball, professor de virologia molecular da Universidade de Nottingham, disse que “embora os resultados sejam encorajadores, ainda há longo caminho a percorrer antes de podermos anunciar a chegada de uma vacina bem-sucedida contra o coronavírus”. Ele disse que não está claro se o nível de imunidade induzida nos testes protege contra a infecção.

“No mínimo, uma vacina bem-sucedida terá de proteger os mais velhos de uma doença grave ou evitar que as pessoas menos vulneráveis se infectem e espalhem o vírus”, disse ele.

A vacina de Oxford causou pequenos efeitos colaterais na comparação com os registrados no grupo de controle de pacientes que receberam um placebo de dose de vacina contra meningite, mas essas respostas adversas puderam ser reduzidas com o uso de paracetamol, segundo a publicação.

Os autores do estudo observaram que novos testes serão necessários, uma vez que a fase um demonstrou apenas a eficiência da vacina em condições de laboratório, e não durante uma situação de o contágio de comunidades.

A AZD1222 está agora sendo testada em dezenas de milhares de pessoas no Reino Unido, Estados Unidos, Brasil e África do Sul, para se descobrir se ela previne contra a covid-19 quando comparada com placebo.

O preço da ação da AstraZeneca subiu mais de 3% ontem depois da notícia, mas depois caiu para menos do patamar com que iniciou o dia. Adam Barker, analista da Shore Capital, disse que “foi bom ver as informações cumprirem com as expectativas”. Mas ele alertou que “os dados não nos dizem ainda se ela funciona ou não. De modo que é um bom primeiro passo, bom ver as respostas das células T e B, mas não sabemos ainda se vai funcionar”.

Em outra frente, um estudo inicial mostrando que um medicamento imunossupressor pode aumentar significativamente a probabilidade de recuperação entre pacientes hospitalizados pelo Covid-19 fez com que o preço das ações da empresa de biotecnologia Synairgen subisse ontem.

Em um estudo envolvendo 101 pacientes de nove hospitais do Reino Unido, aqueles que receberam interferon beta - que é comumente usado para tratar esclerose múltipla e disfunção tireoidiana - tiveram duas vezes mais chances de se recuperar e 79% menos chances de desenvolver uma versão mais grave da doença. A falta de ar também foi “marcadamente reduzida”, disse a empresa.