Correio braziliense, n. 20886 , 30/07/2020. Cidades, p.18

 

DF tem 82,7% de recuperados

Tainá Seixas

30/07/2020

 

 

O Distrito Federal registrou mais 28 mortes por causa da covid-19. Dessas vítimas, cinco moravam em Goiás. Com o balanço divulgado ontem, o número de óbitos por coronavírus na capital totaliza 1.419. Além disso, houve 1.616 novos casos registrados nas últimas 24 horas. O número total de notificações no DF é de 102.342. Atualmente, 82,7% dos pacientes estão recuperados (85.179) e há cerca de 15 mil casos ativos.

No boletim divulgado ontem, houve 16 óbitos de homens e 12 de mulheres. A maioria das vítimas tinha comorbidades, doenças que agravaram a infecção pelo vírus. A maior parte das mortes (9) ocorreu na terça-feira; as demais, entre 4 de julho e ontem. Ceilândia e São Sebastião registraram quatro mortes, cada. A primeira é a cidade com maior número de diagnósticos da covid-19, com 12.747, seguida de Plano Piloto (8.106), Taguatinga (7.283) e Samambaia (6.567). A letalidade também é maior em Ceilândia, com taxa de 2,3% e total de 289 mortes, maior número do DF. No Plano Piloto, a letalidade é de 1%. A média do DF é de 1,4%. Contudo, a região com maior incidência da doença, a partir da análise de diagnósticos por 100 mil habitantes, é Sobradinho.

Apesar de as mulheres serem infectadas com mais frequência (52,8%), os homens são os que mais morrem em decorrência da covid-19 (58,9%). A faixa etária que registra mais óbitos é de pacientes com mais de 80 anos, mas o número de casos concentra-se entre pessoas de 30 a 49 anos. Pacientes com comorbidades também mostram maior letalidade: 86,7% dos óbitos. Doenças cardiovasculares e distúrbios metabólicos são os principais fatores de agravamento da doença.

De acordo com a Sala de Situação, plataforma on-line que a Secretaria de Saúde disponibiliza dados sobre a doença no DF, na noite de ontem, 82,53% dos leitos destinados a pacientes da covid-19 na rede pública estavam ocupados. Na rede privada, a taxa é de 93,62%.

Seis unidades públicas estavam sem leitos disponíveis ontem à noite, segundo a plataforma. Eram eles: Hospital Regional de Planaltina, Hospital Regional de Brazlândia, Hospital Regional de Taguatinga, Hospital Regional do Paranoá, Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de São Sebastião e Hospital Universitário de Brasília (HUB). Além disso, o Hospital Regional da Asa Norte (Hran), Hospital Regional do Gama e UPA de Ceilândia apresentavam ocupação de mais de 90%. Na rede privada, nove hospitais estão com a ocupação máxima de pacientes em leitos.

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Pressão do Entorno sobre a saúde

Jéssica Eufrásio

30/07/2020

 

 

CORONA VÍRUS » Do total de pacientes com a covid-19 no Distrito Federal, 7,2% vivem em Goiás. Entre os que não sobreviveram à doença, 9,6% eram de municípios vizinhos. Mesmo assim, esses moradores relatam dificuldades para conseguir atendimento na rede pública da capital

Além da assistência prestada aos brasilienses em ritmo de sobrecarga, o sistema de saúde do Distrito Federal recebe uma demanda considerável de habitantes de estados como Goiás, Minas Gerais e Bahia. Dados do boletim de ontem sobre a situação da covid-19 no DF mostraram que 7.334 (7,2% em relação ao total) dos resultados positivos obtidos na capital são de moradores da parte goiana do Entorno. Entre esses pacientes, 124 (9,6%) morreram.

O Distrito Federal é vizinho a 33 cidades de Goiás e de Minas Gerais que fazem parte da Região Integrada de Desenvolvimento do DF e Entorno (Ride). Juntas, elas poderiam formar uma segunda capital federal, pois contam com 4,6 milhões de habitantes — 1,6 milhão a mais que o total de brasilienses. Boa parte dessa população visita o DF diariamente para trabalhar estudar ou buscar serviços de saúde.

Em 2019, das 221,3 mil pessoas internadas em unidades públicas de atendimento do Distrito Federal, 42,4 mil (19,7%) viviam na Ride. Neste ano, até 30 de junho, a quantidade de pacientes hospitalizados alcançou 16,4 mil. Em bairros como o Jardim Ingá, em Luziânia (GO), moradores encontram obstáculos para acessar a rede de saúde. Diagnosticado com a covid-19, Donizete Silva Júnior, 29 anos, só conseguiu fazer o teste para detecção do novo coronavírus após nove dias de sintomas.

Os sinais da doença apareceram há duas semanas. Donizete teve febre, diarreia, tosse, perda do olfato e do paladar, além de dificuldade para respirar, problema que prevalece. “Deram um termo de isolamento para mim, mas o prazo acabou. Era para eu retornar ao trabalho hoje (ontem), mas ainda estou com a respiração muito ruim e não quiseram me dar outro atestado. Também não fornecem o reteste. Ainda bem que a empresa em que trabalho reconheceu que não melhorei e me deu mais alguns dias (de licença)”, conta o auxiliar de produção.

A mulher de Donizete, Sabrina Pereira Silva, 35, teve reações semelhantes. Ela passou por uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) e pelo Hospital Regional do Jardim Ingá, mas não conseguiu fazer o teste devido ao tempo de sintomas. Sabrina conta que o exame RT-PCR — com coleta de amostras do nariz e da garganta — só estava disponível na rede particular. “Eu me sentia mal havia cinco dias, só não tive febre. Mas a doença não provoca os mesmos efeitos em todo mundo. É um descaso com a população, só nos mandar para casa para aguardar”, critica.

Em maio, os governos do Distrito Federal (GDF) e de Goiás assinaram um Termo de Cooperação Técnica Interfederativa para regulamentar o acesso dos moradores da Ride às unidades de saúde da capital do país. O documento previa a adoção de medidas conjuntas de enfrentamento da pandemia, como testagem em massa, além de assistência e controle sanitário. Os valores dos tratamentos seriam repassados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para o DF.

A Secretaria de Saúde de Goiás informou que não encaminha pacientes para o DF, pois a rede estadual tem dado conta da demanda. A região dispõe de três hospitais de campanha, em Águas Lindas, Luziânia e Formosa. “O de Águas Lindas conta com 21 leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) e, até a tarde desta quarta-feira, todos estavam ocupados. Outros 110 leitos de enfermaria estão em funcionamento na unidade e, nesta tarde (ontem), 56% estavam ocupados. O hospital ainda pode ser ampliado com mais 19 leitos de UTI e 50 leitos de enfermaria, chegando a 200 leitos”, detalhou nota da pasta. O órgão acrescentou que o atendimento na unidade está dentro do planejado.

A técnica de enfermagem Maria da Conceição Morais Marques, 39, chegou a ficar internada nesse hospital de campanha. No entanto, a moradora de Águas Lindas não resistiu às complicações da covid-19 e morreu em 4 de julho. Ela trabalhava na Cooperativa de Trabalho dos Profissionais de Saúde (Coops), acompanhando pacientes em domicílio. “No meu último contato com ela, a gente conversou, ela chorou e disse que não estava podendo falar, porque estava com muita falta de ar. Ali, comecei a ficar muito triste. Vi que ela não estava bem. Comecei a sofrer e senti que algo não ia dar certo”, lamentou a irmã da técnica de enfermagem, Elisângela Maria Morais, 46.

Fechamento

Estudo da Companhia de Planejamento (Codeplan), divulgado na última semana, apresentou levantamento sobre a população da Área Metropolitana de Brasília (AMB), composta por 12 municípios de Goiás. A diretora de Estudos Urbanos e Ambientais do órgão, Renata Florentino, explica que trabalho e atendimento em saúde são os dois principais motivos pelos quais a população dessa região procura o DF. “Na hora em que analisamos dados sobre a capacidade instalada, dá para subentender que pessoas vão em busca de atendimento para situações um pouco mais complexas. Mas essa é uma questão estrutural, que acontece no país inteiro”, observa.

O secretário do Entorno do DF, Paulo Roriz, afirma que o fechamento de alguns municípios da Ride aos fins de semana tem conferido mais rigidez ao controle da pandemia. “Existe uma preocupação dos prefeitos para que esse fechamento permaneça até o fim de agosto, pelo menos. Existe preocupação com uma segunda onda (da pandemia) e havia outra com a de fazer os hospitais de campanha funcionarem na região metropolitana, mas todos estão operando agora”, comenta o secretário.

O Correio questionou a Secretaria de Saúde do DF sobre quantos pacientes da Ride estão hospitalizados no DF com covid-19 e em quais tipos de leitos. No entanto, o órgão informou que, até o fechamento desta edição, a área técnica não conseguiu levantar as informações devido à indisponibilidade nos sistemas do GDF.