Título: Maluf devolverá R$ 57 milhões
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Fonte: Correio Braziliense, 19/01/2013, Política, p. 6

Corte da Ilha de Jersey, paraíso fiscal britânico, calcula o valor que empresas ligadas ao ex-prefeito têm que ressarcir ao município de São Paulo. Além dessa soma, deputado arcará com custas do processo

Após recalcular os valores que empresas ligadas ao ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf têm que devolver ao município, a Corte da Ilha de Jersey — um paraíso fiscal britânico — anunciou o tamanho da dívida: US$ 28,3 milhões ( cerca de R$ 57,9 milhões). Além dessa soma, as empresas offshore administradas pela família Maluf terão que pagar pelo menos outros US$ 4,5 milhões (aproximadamente R$ 9 milhões), referentes aos custos da prefeitura de São Paulo com advogados, nos últimos nove anos, no processo que ainda tramita na Europa. Somados os valores e convertendo para reais, o ex-prefeito poderá ter de ressarcir os cofres públicos em R$ 67 milhões.

Inicialmente, a Justiça da Ilha de Jersey havia informado, em novembro do ano passado, que o valor a ser devolvido seria de US$ 10 milhões, referentes a desvios da prefeitura de São Paulo. A soma foi atualizada aplicando-se multas, correções e juros compostos. Hoje deputado federal pelo PP-SP, Maluf é acusado de uma série de irregularidades envolvendo obras públicas na capital paulista, entre elas a construção da Avenida Águas Espraiadas, entre 1997 e 1998, quando o prefeito era Celso Pitta. Afilhado político de Maluf, Pitta chegou a ter a perda do cargo determinada pela Justiça devido a inúmeros indícios de corrupção, mas recorreu e terminou o mandato. Ao sair, o valor das denúncias contra ele alcançou quase R$ 4 bilhões.

No caso da Avenida Águas Espraiadas (atual Avenida Jornalista Roberto Marinho), a Corte de Jersey entendeu que o desvio de 20% do valor total da obra foi orquestrado por Paulo Maluf durante os quatro anos em que comandou a prefeitura paulistana, de 1993 a 1996, e que ele ou laranjas teriam sido beneficiados com uma série de 15 pagamentos secretos entre janeiro e fevereiro de 1998, já na gestão Pitta. O dinheiro teria sido enviado para contas da família nos Estados Unidos e, em seguida, para a Ilha de Jersey.

Paulo Maluf alega, desde o início do processo, que não pode ser responsabilizado pelos desvios, pois estava fora da prefeitura há mais de um ano, e que não tem e nunca teve conta no paraíso fiscal nem relação com as empresas citadas no processo. A Corte de Jersey argumenta que tem no processo documentos assinados por Maluf, que comprovam a ligação com as empresas, que já recorreram da decisão. O veredito final deve sair em março. O deputado federal foi procurado pela reportagem do Correio, mas não atendeu as ligações.

US$ 4,5 milhões Valor que as empresas ligadas à família Maluf terão que pagar apenas referente aos custos da prefeitura de São Paulo com advogados nos últimos nove anos