O Estado de São Paulo, n.46257, 10/06/2020. Metrópole, p.A9

 

STF manda e Ministério da Saúde volta a detalhar dados

Mateus Vargas

Paulo Roberto Netto

Rayssa Motta

10/06/2020

 

 

Plataforma que reúne informações sobre a pandemia voltou a apresentar número total de mortos e infectados

O Ministério da Saúde voltou a apresentar, na tarde de ontem, o número total de mortos e infectados pela covid-19 no portal covid.saude.gov.br, que reúne as informações do governo federal sobre a pandemia de coronavírus no País.

Na segunda-feira, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), mandou a pasta recolocar estes dados no ar, além de informações sobre a curva de notificações da doença no País.

O ministério chegou a retirar o site do ar na última sexta-feira. O portal retornou no dia seguinte apenas com dados de curados da doença e novos casos e óbitos. Todas as demais informações históricas da covid-19 no País foram omitidas.

Alexandre de Moraes classificou como “ameaça real e gravíssima” a situação atual da pandemia no País, e apontou que cabe às autoridades brasileiras, “em todos os níveis de governo”, a efetivação concreta da proteção à saúde pública – incluindo o fornecimento de todas as informações necessárias para o planejamento e combate à doença.

Para o ministro do Supremo, a transparência nos dados é importante na tomada de decisão pelas autoridades públicas e permite à população em geral “o pleno conhecimento da situação da pandemia vivenciada no território nacional”. A liminar foi proferida em ação movida pela Rede Sustentabilidade, PSOL e PCdoB.

Reação. Mudanças na forma de apresentar os dados da covid-19 pelo ministério provocaram forte reação negativa. A pasta atrasou a divulgação do boletim diário por quatro dias na última semana. O presidente Jair Bolsonaro chegou a comemorar a medida, afirmando que “acabou a matéria no Jornal Nacional” sobre a doença, telejornal da TV Globo, e cobrou que sejam divulgados apenas os números de pessoas que morreram naquele dia – e não os óbitos registrados em 24 horas.

Reportagem do Estadão revelou que a mudança na forma de divulgação dos dados ocorreu por pressão de Bolsonaro, que exigiu do corpo técnico do Ministério da Saúde um método de publicidade que exibisse menos de mil mortos por dia.

O ministério promete agora lançar novo portal de dados da covid-19. Apesar de Bolsonaro cobrar a divulgação apenas de óbitos que ocorreram no dia, o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, disse ontem que as vítimas de outras datas, mas que aguardavam confirmação da causa da morte, também devem ser divulgadas.

Crítica

“Não estamos aqui para agredir, enfrentar, pelo contrário. O que precisamos, independente de divergência política, é trabalhar para juntos.”

Rodrigo Maia

PRESIDENTE DA CÂMARA

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Brasil tem 1.185 novas mortes; total é de 38,5 mil

Mateus Vargas

Marlla Sabino

Sandy Oliveira

10/06/2020

 

 

Levantamento do consórcio de veículos de comunicação aponta ainda 31.197 infectados

O Brasil registrou 1.185 novas mortes e mais 31.197 infectados por covid-19 em 24 horas, segundo levantamento feito por Estadão, G1, O Globo, Extra, Folha e UOL. No total, o País tem 742.084 casos e 38.497 óbitos. Após ordem do STF, o portal do Ministério da Saúde voltou ontem a publicar número de mortos e infectados.

O Brasil registrou 1.185 novas mortes e contabilizou mais 31.197 infectados pelo novo coronavírus em 24 horas, segundo levantamento conjunto feito pelos veículos de comunicação Estadão, G1, O Globo, Extra, Folha e UOL divulgado ontem. Conforme os dados reunidos, o País soma 742.084 registros de contaminação e 38.497 óbitos pela doença.

Apenas o Estado de Mato Grosso não atualizou os dados até as 20 horas desta terça-feira. O Brasil é o terceiro país com mais mortos pelo vírus, atrás apenas dos Estados Unidos e do Reino Unido. Em relação ao total de infectados, o Brasil só fica atrás dos Estados Unidos, que já têm quase 2 milhões de contaminados, segundo levantamento divulgado pela Universidade Johns Hopkins (EUA).

A escalada do número de vítimas pelo coronavírus no Brasil ocorre em meio a anúncios de flexibilização da quarentena por governadores e prefeitos, como ocorre em São Paulo e no Rio, Estados com o maior número de casos e óbitos.

O balanço de óbitos e casos é resultado da parceria entre os jornalistas dos seis meios de comunicação, que uniram forças para coletar junto às secretarias estaduais de Saúde e divulgar números totais de mortos e contaminados. A iniciativa inédita é uma resposta à decisão do governo Jair Bolsonaro de restringir o acesso a dados sobre a pandemia, o que ocorreu a partir da semana passada.

Com esse consórcio dos veículos de imprensa, o objetivo é informar os brasileiros sobre a evolução da covid-19 no País, cumprindo o papel de dar transparência aos dados públicos. Segundo balanço divulgado pelo Ministério da Saúde no início da noite de ontem, foram notificados no País em 24 horas novos 1.272 óbitos e 32.091 infectados pelo novo coronavírus.

O ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, criticou ontem a forma de divulgação de boletins diários de infectados e de mortos pela covid-19 que era adotada pelo governo federal.

“Estava somando contas que não existem, que não eram somáveis. Marcando um horário para apresentar uma informação que não dizia nada aos gestores e ao nosso País”, disse ele, em audiência na Câmara dos Deputados.

Pazuello disse aos deputados que o ministério não deixará de divulgar mortes de outros dias que ainda estavam sob análise. “Não existe como reduzir ou limitar número de óbitos.”

“Se não olharmos para a data do óbito, o gestor não consegue entender o que está acontecendo na sua cidade,não consegue ter medidas para corrigir”, afirmou. Como o Estadão revelou ontem, a mudança na divulgação dos dados ocorreu após Bolsonaro determinar que o número de registros ficasse abaixo de mil por dia. A solução foi divulgar apenas dados de mortes das últimas 24 horas. A avaliação do Palácio do Planalto, porém, foi de que a equipe de Pazuello não cumpriu bem a determinação de Bolsonaro.

Segundo especialistas, ter transparência e qualidade na divulgação dos dados sobre infecções e mortes em decorrência da covid-19 é fundamental para compreender a evolução da pandemia. É isso que mostra onde novos casos estão surgindo, onde a epidemia ainda está em curva ascendente e onde está arrefecendo.

Sem clareza e segurança sobre esses números, apontam cientistas, é impossível tomar decisões sobre quais lugares precisam de reforço para a abertura de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), a oferta de respiradores ou mesmo em quais é possível iniciar os movimentos de abertura do isolamento social.

Interior. Ontem, o ministro voltou a afirmar que o aumento de casos de covid-19 em municípios do interior do País é o maior problema neste momento. A estratégia do governo, diz ele, será usar estruturas ociosas em regiões metropolitanas e capitais. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a América do Sul é o atual epicentro da pandemia e a crise ainda deve se agravar no continente