Título: China desacelera e cresce 7,8%
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 19/01/2013, Economia, p. 13

PIB tem a menor elevação desde 1999. O país não deverá repetir os saltos de dois dígitos dos últimos anos, o que pode afetar o Brasil

O enfraquecimento da atividade econômica na Europa, um dos principais destinos dos produtos manufaturados da China, fez o país asiático registrar, no ano passado, a taxa mais baixa de crescimento desde 1999. A segunda maior economia do planeta teve expansão de 7,8%, conforme dados divulgados ontem em Pequim. A alta do Produto Interno Bruto (PIB) ficou acima da meta de 7,5%, estipulada pelo governo chinês, mas abaixo dos 9,3% registrados em 2011 e dos 10,4% de 2010.

Para economistas ouvidos pelo Correio, o desempenho ficou dentro do esperado, e as perspectivas são positivas, porque, no último trimestre, a alta anualizada alcançou 7,9%, um sinal de que houve melhora no fim do ano. “Acima de tudo, a economia se estabilizou”, avaliou, em comunicado, o escritório nacional de estatísticas chinês. Em valor, o PIB alcançou US$ 8,28 trilhões.

“O ritmo foi mais lento, mas o crescimento ainda é expressivo. Daqui para a frente, não iremos mais presenciar aqueles saltos de dois dígitos que o país apresentava antes da crise financeira global (de 2008 e 2009)”, afirmou Alcides Leite, professor de Economia da Trevisan Escola de Negócios. Ele estima que, neste ano, a China avançará entre 7% e 9%. “Essa será a nova realidade nos próximos anos”, afirmou.

Um estudo recente da consultoria Pricewaterhouse Coopers (PwC), considerado otimista por economistas brasileiros, prevê que o Brasil crescerá 4,4% ao ano até 2050, enquanto a China terá uma expansão anual média de 5,8%. O mesmo estudo aponta a economia brasileira como a quarta do planeta em 2050, com a chinesa em primeiro lugar, à frente da norte-americana.

Novo patamar A importância da China é incontestável para os especialistas. “Ela continuará sendo o motor da economia global. Enquanto continuar crescendo, o mundo irá a reboque”, disse o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Na avaliação dele, se a economia chinesa crescer menos do que 7% a partir de agora, os demais países podem se preocupar. “Haverá uma mudança de patamar. Por enquanto, a situação não piora para o Brasil”, afirmou. “Os chineses continuarão comprando alimentos e minério de ferro brasileiros”, completou Alcides Leite, da Trevisan. José Augusto de Castro prevê avanço de 7,5% neste ano. A estimativa média dos economistas consultados pela France Presse é de 8%.

A China é hoje a maior parceira comercial de quase 80 nações, incluindo o Brasil. Com a crise, porém, as exportações brasileiras para lá caíram quase 7% em 2012, totalizando US$ 41,2 bilhões. O saldo comercial despencou de US$ 11,5 bilhões, em 2011, para US$ 6,9 bilhões no ano passado, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).

Em 2012, além de principal importador de produtos brasileiros, o país asiático se tornou também nosso maior fornecedor de mercadorias, deixando os Estados Unidos em segundo lugar. “A tendência é que essa situação permaneça pelos próximos dois anos, mas é possível que os EUA recuperem a liderança. O governo norte-americano vem incentivando o retorno de fábricas que hoje estão na China”, disse o presidente da AEB.

Diante da recessão na União Europeia, a produção industrial chinesa recuou 3,9 pontos percentuais e cresceu 10% em 2012. As vendas no varejo subiram 14,3%, 2,8 pontos percentuais abaixo do registrado no ano anterior. Já o investimento no setor imobiliário aumentou 16,2%. Esse é o principal segmento da economia local, representando mais de 10% do PIB total.

Apesar de a taxa de crescimento de 2012 ter sido a mais baixa em 13 anos, a expansão registrada no quarto trimestre foi bem recebida pela Bolsa de Xangai, que encerrou o pregão de ontem com alta de 1,41%. “O cenário internacional continua difícil e a economia chinesa ainda tem desequilíbrios”, disse o porta-voz do escritório nacional de estatísticas, Ma Jiantang.

Preço da energia dispara O atraso das chuvas tem feito o custo da eletricidade no Brasil disparar. Segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), o Preço de Liquidação de Diferenças (PLD), que serve como base para a negociação de fornecimento de energia a curto prazo entre usinas, distribuidoras e grandes empresas consumidoras, subiu 40,6% para o período de 19 a 25 de janeiro, alcançando R$ 489,62 por megawatt-hora. Na semana anterior, o valor era de R$ 341,70. A alta ocorreu porque o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) reduziu a estimativa de vazão dos reservatórios das hidrelétricas, o que aumentou o custo marginal de operação das usinas.

Ritmo mais lento Projeção de variação anual (em %) do Produto Interno Bruto (PIB) até 2050

Vietnã 8,0 Índia 8,1 China 5,8 África do Sul 5,0 Argentina 4,9 México 4,7 Brasil 4,4 Rússia 4,0 Estados Unidos 2,4 Canadá 2,2 Espanha 1,9 França 1,7 Itália 1,4 Alemanha 1,3 Japão 1,0

Parceiro decisivo Intercâmbio comercial Brasil x China Em US$ bilhões

Exportação 2002 2,52 2003 4,53 2004 5,44 2005 6,83 2006 8,40 2007 10,75 2008 16,52 2009 21,00 2010 30,78 2011 44,31 2012 41,23

Importação 2002 1,55 2003 2,15 2004 3,71 2005 5,35 2006 7,99 2007 12,62 2008 20,04 2009 15,91 2010 25,59 2011 32,79 2012 34,25

Saldo comercial 2002 0,96 2003 2,38 2004 1,73 2005 1,48 2006 0,41 2007 -1,87 2008 -3,52 2009 5,09 2010 5,19 2011 11,52 2012 6,97

Fontes: Secex/Mdic e PwC