Título: Analistas aprovam ação de Argel
Autor: Valente, Gabriela Freire
Fonte: Correio Braziliense, 19/01/2013, Mundo, p. 18

Mesmo causando surpresa no Ocidente, a ofensiva aos terroristas do campo de produção de gás In Amenas indica coerência do governo da Argélia com sua doutrina para a segurança, concluem especialistas. O governo francês considerou que a operação teve um “caráter complexo”. Sob condição de não ser identificado, um investigado ocidental disse que a intervenção argelina foi “à la russa”, em referência à repressão a terroristas no teatro de Moscou e à escola de Beslan. “Mas funciona”, concluiu.

De acordo com o francês Frédéric Gallois, ex-chefe do GIGN (Grupo de Intervenção da Gendarmerie Nacional, especializada nesse tipo de operação), a Argélia adota “a estratégia de não dar chances para o terrorismo”. O “objetivo político” das forças argelinas “é, acima de tudo, neutralizar os terroristas em casa e a missão é salvar os reféns”, analisa. “O segundo objetivo é cortar a propaganda islâmica, eles não querem que isso dure uma semana”, acrescenta Gallois.

O ex-oficial das forças armadas argelinas avalia que a invasão terrorista foi “suicida” e pretendia “fazer o máximo de reféns e, talvez, destruir o campo de exploração de gás”. Isso explica, na visão dele, a reação imediata dos militares. "Os argelinos estão em melhor posição do que qualquer um para saber que não se negocia com eles. Há 20 anos estamos em guerra", disse Khadra.

Eric Denécé, do Centro Francês de Pesquisas sobre Inteligência (CF2R), avalia que Argel não é, a princípio, fechado a negociações. Ele lembra, em nota escrita para a France-Presse que, quando diplomatas foram sequestrados em Gao, em abril, “o governo preferiu negociar com os jihadistas”. Mas a “posição argelina evoluiu em poucos dias”, e o sequestro de In Amenas “confirma a determinação de Alger em continuar a luta contra os terroristas”.

Denécé ainda afirma que os argelinos só não podem ser acusados de incompetentes. As forças especiais agiram “no Chade, Níger, Mali, Mauritânia e Líbia para neutralizar o Grupo Salafista para a Pregação e o Combate (GSPC), hoje sob a bandeira da Aqmi”, escreveu. Eles têm, no sul da Argélia, 3 mil homens “em pé de guerra”. O Exército, a polícia, a segurança nacional e os serviços de inteligência têm “unidades antiterroristas”, como o Grupo de Intervenção Especial (SIG), criado em 1987, sob inspiração francesa e treinado pelos ocidentais.