Título: Nas mãos do terror
Autor: Valente, Gabriela Freire
Fonte: Correio Braziliense, 19/01/2013, Mundo, p. 18

Extremistas islâmicos ainda mantêm sete estrangeiros reféns em campo de exploração de gás, no Saara. Estados Unidos avisam que não negociarão com sequestradores e admitem situação "extremamente difícil"

Pelo menos sete estrangeiros ainda estariam sob poder da facção “Signatários de Sangue”, que capturou um campo de exploração de gás na cidade de In Amenas, no sudoeste da Argélia. A informação foi confirmada pelo comando do grupo armado islamita à agência mauritana Nuakchott Informação (ANI), tradicional meio de comunicação dos fundamentalistas. Os reféns seriam três belgas, dois americanos, um japonês e um britânico. De acordo com a agência estatal APS, ao menos 12 reféns foram mortos desde o começo da operação do Exército argelino para retomar o complexo. “Além dos 18 terroristas, 12 funcionários argelinos e estrangeiros morreram”, indicou uma fonte, sob a condição de anonimato. De acordo com a agência France Presse (AFP), um francês está entre as vítimas.

Na tarde ontem, uma fonte informou à AFP que cerca de 650 reféns, incluindo estrangeiros, teriam sido libertados pela facção. Nesse grupo, estariam 100 estrangeiros — até o fechamento desta edição, 32 seguiam desaparecidos. Membros da facção ligada à rede terrorista Al-Qaeda ainda estariam no campo de gás, que emprega pelo menos 2 mil pessoas. O Exército argelino mantém a busca por reféns e por terroristas. “A situação está mudando rapidamente e é muito difícil saber o que está acontecendo”, admitiu um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Argélia. Os sequestradores estavam equipados com fuzis AK-47 e colocaram cinturões-bomba em alguns dos reféns. O líder do grupo seria Abdelrahmane, o “Nigeriano”, e não Abou Al-Baraa, como havia informado na quinta-feira um porta-voz do grupo extremista, que anunciara sua morte no ataque do Exército.

Troca

Os “Signatários de Sangue” estão ligados a grupos islamitas que lutam pelo controle do norte do Mali, país vizinho à Argélia, e teriam atuado em represália à ofensiva franco-malinesa na região. Ontem, o líder da facção pediu que a França “negocie” o fim do conflito no Mali e a libertação dos reféns na Argélia, em troca de extremistas detidos nos Estados Unidos. De acordo com a agência de notícias ANI, da Mauritânia, entre os terroristas estariam o egípcio Omar Abdel Rahman — um dos líderes do atentado de 1993 ao World Trade Center, em Nova York, e acusado de matar o ex-presidente egípcio Anuar Sadat — e a paquistanesa Aafia Siddiqui, presa por tentar atacar soldados americanos no Afeganistão.

Em resposta, o governo dos Estados Unidos avisou que não negociará com “terroristas”. O secretário de Defesa norte-americano, Leon Panetta, ainda afirmou que não haverá esconderijo para aqueles que atacarem seu país arbitrariamente. Por sua vez, a secretária de Estado, Hillary Clinton, afirmou que os reféns do campo de gás na Argélia “ainda estão em perigo” e que a situação é “extremamente difícil”. Ela pediu cuidado máximo para garantir a segurança dos funcionários e ofereceu suas condolências aos familiares dos mortos.

Mali

A ofensiva francesa no norte do Mali — que completou uma semana ontem — conseguiu retomar o controle da cidade de Diabali, 400km ao norte da capital, Bamako. O local tinha caído nas mãos dos islamitas, na segunda-feira, e foi bombardeado por aviões de Paris. Segundo o ministro da Defesa francês, Jean-Yves Le Drian, cerca de 1,8 mil homens dão apoio às tropas malinesas. “Éramos 1,4 mil, agora somos 1,8 mil. A progressão de nossa presença no terreno se mantém”, disse ele, durante encontro com forças especiais. De acordo com o Le Figaro, a Rússia também deve contribuir com reforço à ação da França na região, com o envio de um avião para o transporte de armas.

650

Número de funcionários que foram feitos reféns na madrugada de quarta-feira, em In Amenas

"No momento em que eram transferidos, eles (os reféns) carregavam explosivos presos ao corpo”

Eamon Gilmore, ministro das Relações Exteriores da Irlanda

"A operação ainda está em andamento, a situação permanece volúvel e os reféns continuam em perigo" Hillary Clinton, secretária de Estado americana