Título: Expectativa por retorno
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 19/01/2013, Mundo, p. 19

Sob pressão do regime cubano, médicos podem transferir o presidente Chávez a Caracas para prestar juramento

A Venezuela viveu ontem um clima de expectativa ante supostos preparativos para um regresso de Hugo Chávez ao país. O diário on-line espanhol ABC publicou que os médicos cubanos que tratam do presidente venezuelano estariam recebendo uma "enorme pressão" do regime de Raúl Castro para estabilizarem o paciente, a fim de transferi-lo para Caracas. Horas antes, circularam informações, por meio do microblog Twitter, sobre uma intensa movimentação na Rampa 4 do Aeroporto Internacional de Maiquetía Simón Bolívar (a 21km do centro de Caracas) - de uso exclusivo de Chávez. De acordo com o ABC, Chávez seria trasladado ao Hospital Militar de Caracas, onde prestaria juramento ante o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) e permaneceria internado para tratar do câncer, supostamente em estado terminal. O mesmo veículo revelou que Chávez sofreu uma parada cardíaca, em 5 de janeiro, permaneceu em coma por 15 minutos e somente recobrou parcialmente a consciência dias depois. Os rumores sobre um suposto pronunciamento do próprio presidente, marcado para as 16h de ontem (18h30 em Brasília), aumentaram a ansiedade dos venezuelanos em torno de uma aparição. O analista político Pedro Mario Burelli " ex-diretor da estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA) " admitiu ao Correio ter recebido a confirmação de que uma transferência do presidente vem sendo discutida no alto círculo de poder bolivariano. "Não há muito a fazer por Chávez. Acredita-se que seja melhor ele passar seus últimos dias na Venezuela", observa. Segundo ele, os cubanos estariam receosos de que o comandante venezuelano morra sob os cuidados da ilha socialista. "Isso não falaria muito sobre a preferência pelo hospital cubano Cimeq, em relação a centros melhores da Venezuela e o Brasil", acrescenta. Burelli considera o juramento de Chávez em Cuba como algo impossível. "Para a Força Armada Nacional Bolivariana, isso seria um imenso ato de lesa soberania", reconhece. "Consciente" A imagem do governo venezuelano perante a comunidade internacional teria sido arranhada depois que o TSJ aprovou o adiamento da posse de Chávez. "Muitos países, inclusive o Brasil, acreditam que a fórmula do continuísmo sem um juramento cria vários problemas de legitimidade", explica Burelli. O ex-diretor da PDVSA comenta que não mais do que cinco pessoas do gabinete presidencial conhecem o real estado de saúde de Chávez. Victor J. Morales, 33 anos, militante do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) e funcionário da Assembleia Nacional, contou ao Correio ter sido informado de que Chávez está consciente e no comando do país. "Tenho fé de que ele retorne em três ou quatro semanas", disse. "Eu soube que ele tem apresentado uma melhora lenta. Já consegue respirar sem a ajuda de aparelhos, e a infecção respiratória foi controlada", afirmou Morales. Não há muito a fazer por Chávez. Acredita-se que seja melhor ele passar seus últimos dias na Venezuela" Pedro Mario Burelli, ex-diretor da estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA).