Título: Papéis bem definidos em 2014
Autor: Correia, Karla; Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 22/01/2013, Política, p. 3

Assessores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva buscaram os holofotes ontem para afastar rumores sobre a possibilidade de ele tentar retornar ao Palácio do Planalto em 2014. “A nossa candidata em 2014 chama-se Dilma Rousseff”, afirmou o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, durante seminário organizado pela entidade para discutir a integração da América Latina.

Okamotto chamou de “especulação” os boatos sobre a intenção de Lula se candidatar a presidente nas próximas eleições. Ex-ministro do governo Lula e hoje diretor de seu instituto, Paulo Vanucchi apontou como papel do ex-presidente para 2014 a manutenção das alianças do governo Dilma com o PMDB do vice-presidente da República, Michel Temer, e com o PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que vem cada vez mais se posicionando como provável candidato ao Planalto nas próximas eleições. “Lula não parte do pressuposto de que Eduardo Campos será candidato em 2014. Ele está empenhado junto a Eduardo para manter a aliança”, reforçou Vanucchi.

De volta à carga na política nacional, o ex-presidente prepara uma espécie da reedição das Caravanas da Cidadania da década de 1990, quando percorreu o país pavimentando seu caminho para a corrida presidencial. Em tese, a série de viagens por municípios brasileiros que pretende começar neste ano servirá para fortalecer o PT em regiões consideradas estratégicas pelo partido, e fazer frente ao provável maior adversário de Dilma nas eleições de 2014, o senador tucano Aécio Neves (MG).

O próprio Lula aproveitou seu discurso de abertura do evento para enfatizar seu papel de “auxiliar” de Dilma, credenciando-se, de uma só vez, como um articulador político de seu governo e formulador de propostas nas relações externas do país. Não deixou de creditar, contudo, a eleição da presidente ao sucesso obtido em seus oito anos de governo.

“É um desafio extraordinário a gente aprender a ser ex-presidente da República”, disse Lula. “E eu tinha um pacto comigo mesmo de mostrar que é possível ser ex-presidente sem se intrometer no exercício da Presidência. Mesmo quando a pessoa que está exercendo a Presidência foi minha ministra, uma companheira da mais extraordinária confiança e que foi eleita graças ao sucesso do nosso governo.”

Imagem negativa Mas mesmo com o discurso de não interferência na gestão Dilma, o seminário organizado pelo Instituto Lula não escapou de causar uma saia-justa com o Planalto. Reservadamente, a presidente havia pedido cautela a seus ministros em uma eventual participação no encontro promovido por Lula.

No Planalto, ainda ecoa a imagem negativa gerada pela presença do ex-presidente em reunião entre o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e secretários municipais, na semana passada. A ministros próximos, Dilma não escondeu o desconforto que lhe causaria a presença de integrantes da sua equipe em um encontro em que Lula discutiria caminhos para a política externa de seu governo.

Ainda assim, compareceram ao evento o ministro da Defesa, Celso Amorim; o presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho; e o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia.

Diante deles, o ex-presidente ressuscitou bandeiras de sua administração, ao defender a busca por novos caminhos para uma maior integração entre os países da América Latina, e destacou a importância do meio acadêmico em desenvolver esse intercâmbio regional. “Queremos aprender com vocês, saber o que vocês estão pensando sobre esse tema na academia para que sejam criados instrumentos para avançar na integração”, disse Lula aos intelectuais reunidos no evento.