Correio braziliense, n. 20889, 02/08/2020. Brasil, p. 5

 

Gilmar Mendes critica governo e elogia SUS

02/08/2020

 

 

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes voltou a criticar, ontem, a forma como o governo federal atua no combate ao novo coronavírus. Em transmissão ao vivo promovida pelo Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), ele disse que o país vive uma situação de “constrangimento” e que há “certa ausência de atuação” por parte do Ministério da Saúde. “Vemos que aquilo que os burocratas chamam de a cabeça do sistema acabou sendo assaz comprometido, e isto é extremamente grave”, afirmou.

Conforme o ministro, o país só não chegou “a resultados ainda mais massacrantes e piores graças ao Sistema Único de Saúde (SUS)”. “E isso tem sido falado pelo ex-ministro (Luiz Henrique) Mandetta. Ele (o SUS) revela-se um grande ativo nesse contexto. E, acho, graças às ações dos governadores, que foram extremamente pró-ativos nesse contexto”, afirmou.

O ministro ainda ressaltou o fato de as mortes no país continuarem crescendo. O Brasil é o segundo país com maior número de casos e óbitos pela doença no mundo, atrás, apenas, dos Estados Unidos. “Eu acredito que nós estamos, agora, em tempos de pandemia, com esse alto constrangimento que estamos a enfrentar. São mais de 92 mil mortos a esta altura e nos avizinhamos desse macabro número de 100 mil mortos no Brasil. Um campeonato realmente constrangedor, que nós nunca gostaríamos de vencer, nem querer vencer”, disse.

Na última quinta-feira, também em uma transmissão promovida pelo IDP, o ministro falou em “crise de gestão” no combate à covid-19, afirmando que há consenso entre especialistas de que o país poderia ter adotado outra forma de enfrentar a pandemia. “Poderíamos ter tido outro manejo dessa crise, que, talvez, pudéssemos ter reduzido significativamente os danos causados por essa pandemia. Estamos disputando um campeonato com os EUA em quem tem mais número de mortes, e, certamente, é um campeonato que não se quer nem se pode ganhar. Acho isso bastante sério e espero que tiremos aprendizado disto”, ressaltou, na ocasião.

Ainda neste mês, em uma transmissão ao vivo realizada pela revista IstoÉ, Mendes criticou o fato de o Ministério da Saúde estar, até hoje, sem ministro, sendo comandado interinamente pelo general Eduardo Pazuello desde a saída de Nelson Teich, em maio. “Isso é ruim, é péssimo para a imagem das Forças Armadas. É preciso dizer isso de maneira muito clara: o Exército está se associando a esse genocídio, não é razoável. Não é razoável para o Brasil”, afirmou. A declaração gerou crise entre os Poderes. (ST)