Título: Apelo por unidade
Autor: Valente, Gabriela Freire
Fonte: Correio Braziliense, 22/01/2013, Mundo, p. 16
Depois de prestar juramento para a posse de segundo mandato, Barack Obama — o primeiro presidente afro-americano dos Estados Unidos — discursou diante do Capitólio e clamou pela unidade e pela igualdade no país. Diante de um público estimado em 800 mil pessoas, ele defendeu os direitos dos homossexuais e uma nova política de imigração. Obama lembrou que o que une os americanos não é “a cor de sua pele” ou a “origem de seus nomes”, mas a lealdade à ideia de que todos os homens são iguais, descrita na Declaração de Independência, de 4 de Julho de 1776. Por diversas vezes, usou os termos “nós, o povo”, preâmbulo da Constituição, e “nossa jornada”. “Nossa jornada não estará completa até que os nossos irmãos e irmãs gays sejam tratados como qualquer outra pessoa sob a lei. Nossa jornada não estará completa até que achemos um modo melhor de dar as boas-vindas aos imigrantes esforçados e esperançosos que ainda veem a América como a terra da oportunidade.”
Calcado em ideias liberais, Obama defendeu a proteção aos pobres e sustentou que a recuperação econômica “deve pousar sobre os ombros largos da classe média” e não no enriquecimento de um pequeno grupo abastado. De acordo com Thomas F. Schaller, professor da Universidade de Maryland, o presidente tentou inspirar o público e expressou seus desejos como líder da nação. “Ele quer tornar a sociedade mais igual em termos de oportunidades, e suas políticas serão reflexos desse desejo.”
De acordo com Schaller, algumas das propostas de Obama — como a reforma das leis de imigração e um maior controle na venda de armas — devem enfrentar obstáculos do Congresso, dominado pela maioria republicana. O chefe de Estado democrata aproveitou para condenar o “absolutismo político”. “Não podemos confundir absolutismo com princípio, substituir a política pelo espetáculo, nem tratar xingamentos como um debate racional”, advertiu.
Na semana passada, Obama apresentou um pacote de medidas executivas para combater a violência armada. O plano foi elaborado pelo vice Joe Biden em resposta ao massacre na Escola Primária Sandy Hook, em Newtown (Connecticut). O presidente voltou a fazer menção ao caso ontem. “Nossa jornada não estará completa até que todos os nossos filhos, das ruas de Detroit aos Montes Apalache até as ruas de Newtown, saibam que eles são cuidados, amados e sempre protegidos dos males”, disse.
Política externa
Obama salientou que a política externa será pautada pelo diálogo. “Vamos mostrar a coragem de tentar resolver nossas diferenças com outras nações pacificamente”, disse, ao anunciar que a “década da guerra acabou”. Para Schaller, este pode ser um sinal de que o presidente buscará evitar uma ofensiva no Irã. “Obama finalizou duas guerras deixadas por seu antecessor e não quer deixar uma para quem o suceder.”
O apoio à democracia — “da Ásia à África, das Américas ao Oriente Médio” — e reações às mudanças climáticas foram defendidos pelo mandatário. “Nós, o povo, ainda acreditamos que nossas obrigações como os americanos não são apenas para nós mesmos, mas para toda a posteridade. Vamos responder à ameaça da mudança climática, sabendo que a falta de fazer isso seria trair os nossos filhos e as gerações futuras.(...) O caminho para as fontes de energia sustentáveis será longo e, por vezes, difícil. Mas o povo norte-americano não pode resistir a essa transição. Devemos liderá-la.”
Obama fez uma homenagem a Martin Luther King, no dia em que os americanos celebraram um feriado em memória do ícone do ativismo racial. O presidente proferiu o juramento com a mão esquerda sobre a Bíblia que pertenceu a Martin Luther. Uma segunda Bíblia, usada na posse do ex-presidente Abraham Lincoln, foi utilizada. Na tradicional parada, Obama e Michelle desceram da limusine e caminharam de mãos dadas pela Avenida Pensilvânia, sob o atento olhar de dezenas de agentes do Serviço Secreto.
Trechos do discurso “Vamos responder à ameaça da mudança climática, sabendo que a falta de fazer isso seria trair os nossos filhos e as gerações futuras.(...) O caminho para as fontes de energia sustentáveis será longo e, por vezes, difícil. Mas o povo norte-americano não pode resistir a essa transição. Devemos liderá-la”
“Vamos mostrar a coragem de tentar resolver nossas diferenças com outras nações pacificamente. (...) Vamos apoiar a democracia da Ásia à África, das Américas ao Oriente Médio, porque os nossos interesses e nossa consciência nos obrigam a agir em nome daqueles que anseiam por liberdade”
“Nossa jornada não estará completa até que os nossos irmãos e irmãs gays sejam tratados como qualquer outra pessoa sob a lei”
“Nossa jornada não estará completa até encontrarmos uma melhor maneira de acolher os que se esforçam, imigrantes esperançosos que ainda veem a América como uma terra de oportunidades”