Correio braziliense, n. 20893, 06/08/2020. Cidades, p. 24

 

Dois militares são afastados

Darcianne Diogo 

06/08/2020

 

 

A Corregedoria-Geral da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) afastou dois militares, lotados no Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA), das atividades externas por suspeita de atrapalhar as investigações da Polícia Civil sobre um suposto esquema de tráfico internacional de animais exóticos e silvestres. Investigações apontam que os servidores estariam tentando proteger os alvos da Operação Snake, como Pedro Henrique dos Santos Krambeck Lehmkul, 22 anos, e Gabriel Ribeiro de Moura, 24.

Em entrevista ao Correio, um dos policiais afastados, o major Joaquim Elias Costa Paulino, declarou inocência e diz que se orgulha do trabalho que fez com a equipe. Além do major, o capitão Cristiano Dosualdo Rocha também foi afastado. O Correio apurou que, no lugar dele, assumiu o capitão Emerson Roberto Araújo Melão. Os dois PMs afastados são alvo de inquérito policial militar (IPM). O caso tramita no Ministério Público Militar e no Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).

Por meio de nota oficial, a corporação informou que o procedimento visa dar transparência às apurações e que a medida foi solicitada pelo Departamento de Controle e Correição da PMDF. A hipótese de que os dois militares estariam protegendo os suspeitos teria surgido no dia da captura da naja que picou Pedro Henrique, em 8 de julho. A cobra estava com Gabriel Ribeiro desde o dia do ataque, em 7 de julho, e foi deixada por ele próximo ao shopping Pier 21.

Segundo investigações, a Polícia Civil estava em contato com o jovem para a entrega da serpente. A princípio, estava tudo combinado para o estudante devolver o animal, mas, em determinado momento, ele teria mudado de ideia e informou aos agentes que só entregaria a naja aos policiais militares.

Envolvimento

Denúncias apontaram que a equipe do BPMA teria localizado a serpente um minuto depois de Gabriel Ribeiro tê-la deixado próximo ao shopping. Ao Correio, o major Elias Costa se posicionou sobre o assunto. “Naquele dia, estávamos correndo atrás disso desde cedo. O Gabriel me ligava a todo momento dizendo que iria deixar a cobra em tal lugar. Quando ele telefonou informando de que tinha deixado a serpente perto do shopping, estávamos próximo do local e chegamos rápido para pegar a cobra”, explicou.

O depoimento do major integra uma parte do inquérito policial, o qual o Correio teve acesso. Nele, o policial relata que Gabriel teria dito para a equipe ir a vários outros locais onde, supostamente, estaria a cobra. Os militares seguiram, então, para a Ponte Alta do Gama, Lago Norte, Lago Sul, Setor de Mansões Lago Norte, Guará e, por fim, no estacionamento do shopping, onde a naja foi encontrada em um recipiente plástico. “Tenho quatro meses no BPMA e temos feito um trabalho de destaque. Acho deselegante estarem desconfiando da nossa atuação. Sou aquela pessoa que, se eu descobrir que errei, prefiro deixar minha carreira do que passar por uma situação incorreta”, defendeu.

 Pedro Henrique é enteado do tenente-coronel da PM Clovis Eduardo Condi. Câmeras de segurança do condomínio onde o jovem mora com a família, no Guará 2, registraram o momento em que Clovis deixa o prédio carregando algumas caixas com serpentes, após o estudante ter sido picado. O militar foi multado em R$ 8,5 mil por crimes ambientais e por dificultar a fiscalização da polícia.