Título: Brasil e UE buscam acordo
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 25/01/2013, Economia, p. 11

Reunião de cúpula em Brasília reabre as negociações, interrompidas desde 2009, para que o bloco europeu se associe ao Mercosul. Crise na Zona do Euro, que se arrasta há cinco anos, domina boa parte das conversas

A crise na Zona do Euro dominou a pauta da reunião de VI Cúpula Brasil-União Europeia, realizada ontem no Palácio do Planalto. Apesar do consenso de que o pior das turbulências iniciadas em 2008, com o estouro da bolha imobiliária dos Estados Unidos, ficou para trás, a maior parte dos países do Velho Continente se debate para sair do atoleiro, o que provoca estragos mundo afora. “A situação hoje está um pouco melhor do que no último encontro em Bruxelas (em 2012), mas houve um consenso aqui de que a pior parte já passou e avaliamos as perspectivas daqui para frente”, afirmou a presidente Dilma Rousseff. “O encontro foi muito produtivo”, acrescentou.

Às vésperas da reunião de presidentes e chefes de Estado da UE e América Latina e Caribe, marcada para este fim de semana em Santiago do Chile, a governante brasileira e o presidente da Comissão Europeia (CE), José Manuel Durão Barroso, ressuscitaram o interesse na retomada das conversas do tratado de livre-comércio entre UE-Mercosul, travado desde 2009, devido à crise financeira global e ao anúncio, naquela época, da entrada da Venezuela (formalizada no ano passado) como membro do bloco integrado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai — esse último, suspenso até as próximas eleições presidenciais.

“Queremos avançar em direção ao um acordo UE-Mercosul ambicioso e abrangente”, disse Barroso. Ele destacou a necessidade de aparar as arestas que ainda existem entre os dois blocos, especialmente em áreas sensíveis, como a de agricultura. Dilma e Barroso informaram ainda que, em paralelo à cúpula na capital chilena, ocorrerá, neste fim de semana, uma reunião ministerial com o objetivo de avançar o diálogo bilateral. “Teremos uma reunião de alto nível, que nós consideramos estratégica. Teremos a oportunidade de definir os próximos passos da negociação do acordo de associação entre o Mercosul e a UE, que seria muito importante para as duas regiões”, comentou a presidente brasileira. No entender dela, o acordo deverá buscar, dentro das relações comerciais, um reequilíbrio das assimetrias e o avanço nas ofertas brasileiras para se chegar a resultado bom para ambas as partes.

Dilma ressaltou a importância do comércio entre o Brasil e a UE. Os europeus são os maiores investidores, em conjunto, na economia brasileira, respondendo por cerca de 40% do fluxo de Investimentos de Estrangeiro Direto (IED), que, ano passado, totalizaram US$ 65 bilhões. Em bloco, a UE também é o nosso principal parceiro comercial, comprando pouco mais de 20% das exportações do Brasil no ano passado, apesar da queda de 7% em relação a 2011, conforme destacou o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy. “O Brasil é e continuará sendo um parceiro estratégico para a União Europeia e, hoje, é o quinto maior investidor na região. O país representa quase a metade do Mercosul e é a maior economia da América Latina”, comentou.

Ciência sem Fronteiras A presidente brasileira, Barroso e Rompuy manifestaram interesse de ampliar as parcerias bilaterais em diversas frentes de diálogos para que a competitividade das indústrias dos dois lados seja ampliada. “Achamos que é muito importante a cooperação da UE com o Brasil em todos os âmbitos. Ela é importante no G-20, é importante em todas as esferas internacionais”, disse Dilma.

Durante o encontro de ontem, foram assinados dois atos institucionais entre Brasil e UE. O primeiro, um memorando de entendimento entre o Ministério da Agricultura do Brasil e a diretoria-geral de saúde e proteção do consumidor da Comunidade Europeia, com finalidade de criar um grupo de trabalho para o intercâmbio de informações e cooperação técnica. O segundo, entre os Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação e o Joint Research Centre (JRC), para a cooperação científica em áreas de interesse comum. Uma das iniciativas desse acordo será a concessão de 100 bolsas de pós-doutorado a pesquisadores brasileiros no JRC no âmbito do programa Ciência sem Fronteiras.

Almoço para poucos O almoço oferecido ontem pela presidente Dilma Rousseff a representantes da União Europeia no Palácio da Alvorada deu o que falar nos bastidores. Nos dois encontros anteriores sediados pelo Brasil, a cúpula ocorreu no Itamaraty e a mudança gerou frustração do lado da UE. Devido à falta de espaço físico na residência oficial da Presidência da República, apenas 14 dos cerca de 40 membros da comitiva europeia fizeram parte do grupo de 27 “escolhidos”. Até o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não compareceu, pois tinha outro compromisso, segundo fontes palacianas. Do lado brasileiro, além de Dilma, estavam presentes 11 autoridades.