Correio braziliense, n. 20894, 07/08/2020. Brasil, p. 6

 

Estudo da USP confirma reinfecção

Bruna Lima

Maria Eduarda Cardim 

07/08/2020

 

 

No combate à pandemia, o novo coronavírus sai na frente diante das altas taxas de transmissão, agravadas pelo desrespeito ao isolamento e pela divergência nos discursos de autoridades. Como se não bastasse, uma nova problemática entra na equação: a possibilidade de uma pessoa contrair a doença mais de uma vez. Ontem, um estudo baseado no caso de uma enfermeira de 24 anos, realizado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, que pertence à Universidade de São Paulo (USP), concluiu que, apesar de raros, a reinfecção e o adoecimento por covid em mais de uma ocasião são eventos possíveis.

Em maio, a profissional de saúde da cidade de Ribeirão Preto foi infectada após ter contato próximo com um colega de trabalho doente. A técnica apresentou mal-estar, sensação febril, leve dor de garganta e congestão nasal. Ela chegou a realizar um teste de RT-PCR, que deu negativo. Como os sintomas persistiram, repetiu o exame dias depois e confirmou a infecção. Após apresentar melhoras dos sintomas, a paciente passou 38 dias assintomática e trabalhou normalmente até que, em 27 de junho, acordou com novos sintomas, que se agravaram e se manifestaram de forma mais severa. Ao refazer o teste, a surpresa: estava novamente infectada pela covid.

Recuperados

Com isso, o estudo conclui que a possibilidade de reinfecção de pacientes é possível e “traz implicações clínicas e epidemiológicas que precisam ser analisadas com cuidado pelas autoridades em saúde”. A recorrência do vírus em cidadãos já infectados é investigada desde o início da pandemia e, mais do que nunca, os mais de dois milhões de brasileiros já recuperados da doença não devem, portanto, baixar a guarda. É o que reforça o pesquisador da Fiocruz, Marcelo Gomes. “A gente tem visto cada vez mais casos de pessoas infectadas em algum momento, que tiveram um primeiro quadro e, depois de ter se recuperado, voltam a apresentar sinais de dificuldade respiratória, sintomas, necessitando de novos atendimentos”, declarou.

Por isso, Gomes frisa a necessidade de pautar as ações pensando no pior cenário, já que o futuro, ao se considerar uma doença nova, é ainda mais incerto. “Na pior das hipóteses, ao antever o pior, a gente tem condições de atendimento com mais preparo, ainda que além do necessário. Na abordagem inversa, o custo desse erro são vidas.”