Título: Egito: Protestos levam a mais mortes no norte
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 28/01/2013, Mundo, p. 37
Seis perdem a vida em Port Said. Morsy decreta estado de emergência em três cidades
O clima de tensão levou à morte de mais 6 pessoas e a outras 600 feridas, ontem, no enterro dos 31 mortos durante as manifestações de domingo contra a condenação à pena capital de envolvidos no massacre em uma partida de futebol em fevereiro de 2012. O presidente do Egito, Mohamed Morsy, declarou estado de emergência em Suez, Port Said e Ismailia.
O cortejo em Port Said, norte do país, teve tom de reação política ao poder islamita, atualmente no governo. Gritos de "abaixo o poder do guia", em referência à Irmandade Muçulmana e ao presidente Mohamed Morsy, membro do grupo religioso, eram ouvidos no meio da multidão. Segundo o jornal espanhol El País, desconhecidos abriram fogo durante uma celebração na mesquita. Protestos contra o governo central também terminaram em confronto entre policiais e manifestantes e deixaram mais de 400 feridos em todo o país.
Cidadãos de Port Said asseguraram que as condenações à morte foram motivadas pelo desejo de evitar confrontos ainda mais graves com membros da torcida do Al Ahly, que ameaçaram semear o caos se o resultado do julgamento não fosse severo. "É um veredicto político que sacrificou nossos filhos", afirmou Ashraf Sayed. No total, 21 pessoas foram sentenciadas pelo envolvimento nos atos de violência que deixaram 74 mortos numa disputa do Al Masry, equipe local, com o Al Ahly, em 2012.
O balanço oficial das pessoas mortas no sábado, em Port Said, subiu para 31, mas o número de corpos enterrados ontem ainda não havia sido divulgado até o fechamento desta edição. Fontes médicas indicaram à France-Presse que as vítimas morreram baleadas. O Exército desmentiu ter utilizado munição real na repressão aos protestos.
Desde sexta-feira, várias cidades do Egito, entre elas a capital, foram palco de confrontos durante a celebração do segundo aniversário do movimento popular que depôs o então presidente, Hosni Mubarak. Ontem, no Cairo, aconteceram novos choques entre grupos de jovens e policiais perto da Praça Tahrir. As forças de segurança respondiam com bombas de gás lacrimogêneo às pedradas dos manifestantes. As autoridades ordenaram que os hotéis da região central da cidade mantivessem as portas fechadas e não deixassem ninguém entrar ou sair. Em Suez, também foram registrados confrontos durante a noite na entrada do canal de mesmo nome, onde quatro delegacias foram atacadas. A Embaixada dos Estados Unidos anunciou a suspensão de seus serviços ao público como medida de segurança em decorrência dos confrontos em locais próximos de suas instalações. Mohamed Ibrahim Al Beltagis, secretário-geral do Partido Liberdade e Justiça, ala política da Irmandade Muçulmana, exigiu, em mensagem no Facebook, que Morsy demonstre "força e determinação" para atacar o que classificou como "vandalismo".