Título: 76 ainda em estado grave
Autor: Mader, Helena
Fonte: Correio Braziliense, 29/01/2013, Política, p. 2

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha afirmou ontem, em Santa Maria, que 76 feridos estão em estado grave e correm risco de morte por causa de complicações de saúde ocorridas após o incêndio na boate Kiss, no interior do Rio Grande do Sul. Todos estão internados em unidades de terapia intensiva (UTIs), dos quais 54, em unidades de saúde de Porto Alegre e 22 em Santa Maria. No total, há 129 hospitalizados, segundo informações confirmadas pelo site da Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul no fim da noite.

Outras 53 pessoas estão em observação em hospitais da cidade onde ocorreu a tragédia. Cerca de 20% tiveram queimaduras no corpo e precisaram ser transferidos para tratamento na capital gaúcha. À exceção de um paciente, que não tinha condições de ser removido de Santa Maria. No incêndio na casa noturna, morreram 231 vítimas.

A recomendação aos sobreviventes é que se apresentem em hospitais, mesmo que não revelem sintomas como tosse, falta de ar e alteração de cores nas extremidades. Mas, segundo o secretário de Saúde do Rio Grande do Sul, Ciro Simões, a procura ontem foi pequena. A funcionária da Kiss Ingrid Preigschadt Goldani, por exemplo, estava no local durante o incêndio e só começou a se sentir mal na noite de domingo. Na madrugada de ontem, ela foi hospitalizada e precisou ser transferida para Porto Alegre. Encontrava-se, até o fim da noite de ontem, em coma induzido.

O diretor do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), Paulo Feitosa, ressaltou que, muitas vezes, os sintomas em quem teve lesões no aparelho respiratório por causa da ingestão de fumaça só aparecem de 24 a 48 horas depois. “A chance de mortalidade pode passar dos 70% nas pessoas que foram para casa achando que estava tudo bem. Uma das coisas que contribui para isso é justamente o fato de as pessoas só procurarem os médicos quando o quadro evolui”, explicou.

Segundo o diretor da unidade de saúde do DF referência no tratamento de queimados, a manifestação tardia dos sintomas também pode ocorrer nos pacientes internados. “Há muitas chances de a pneumonite, quadro de inflamação atual dos pacientes, evoluir para uma infecção, como uma pneumonia bacteriana. A chance de ainda haver mortes é bastante significativa”, afirmou.

Doação No caso das vítimas de queimaduras, muitas precisarão de transplante de pele (veja ilustração). Ontem pela manhã, o ministro Alexandre Padilha pediu ajuda a hospitais brasileiros e estrangeiros a fim de reforçar a assistência aos queimados, como o envio dos estoques dos bancos de pele. Padilha entrou em contato com os governos da Argentina, do Peru e do Uruguai. Até o fim da noite de ontem, a Central de Transplantes do Rio Grande do Sul havia recebido doações de tecidos do Instituto Materno Infantil de Pernambuco e do banco de pele do Hospital Juan Garrahan, de Buenos Aires.

A Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul informou que a Universidade de São Paulo (USP) e o Instituto Nacional de Doação e Transplante de Montevidéu também devem contribuir hoje com o material. A presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica no Distrito Federal ressalta que é grande a dificuldade em se obter pele nos bancos do Brasil. “Não somente pela doação, que ainda é pequena, como pelo acondicionamento e pela conservação até a utilização”, disse.