Correio braziliense, n. 20895, 08/08/2020. Economia, p. 9

Inflação sobe em julho: 0,36%

Rosana Hessel 

Marina Barbosa 

08/08/2020

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 0,36% em julho, na comparação com o mês anterior, quando já havia subido 0,26%. Foi a maior alta para o período desde 2016. O aumento foi puxado pelos reajustes de gasolina e de energia elétrica, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado ficou em linha com a mediana das expectativas do mercado, de 0,36%. No acumulado do ano, o IPCA registra elevação de 0,46% e nos 12 meses encerrados em julho, de 2,31%.

De acordo com os dados do IBGE, a gasolina subiu 3,42% em julho. A energia elétrica avançou 2,59% no mês. No entanto, para os especialistas ouvidos pelo Correio, a aceleração na inflação em julho reforça o entendimento de que o pior da recessão provocada pela pandemia da covid-19 ficou para trás, com a interrupção do ciclo de deflação e de inflação baixa visto nos primeiros meses da pandemia. Contudo, destacam que a retomada da atividade econômica ainda é incerta.

 “Houve a interrupção de uma trajetória baixista da inflação, com taxas em aceleração ou positivas, inclusive em itens como vestuário. Mostra que a economia já pode ter encontrado o fundo do poço, mas a gente ainda não consegue aferir uma recuperação muito forte”, comentou o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez. 

André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, observou que a demanda ainda fraca está ajudando a inflação a ficar abaixo do piso da meta determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é de 4% para 2020, com piso de tolerância de 2,5%. “A situação não é preocupante para a dinâmica inflacionária de curto prazo. Como a atividade está fraca, a inflação não ganha tração. Infelizmente a ‘boa notícia é que está ruim’”, ironizou.

Reforça essa avaliação o fato de que o setor de serviços registrou deflação de 0,11% em julho. “O segmento continua em baixa, porque muitos serviços ainda estão fechados devido ao isolamento social, como cinemas e teatros. E mesmo os que reabriram, como os salões de beleza, ainda não apresentam muita demanda, seja porque as pessoas estão com medo de voltar a frequentar esses locais, seja porque estão sem renda”, explicou o coordenador do Índice de Preços da Fundação Getúlio Vargas (FGV), André Braz.