Título: Partidos disputam indicações para cargos
Autor: Correia, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 27/01/2013, Política, p. 4

Indefinição sobre quem vai comandar a Câmara e o Senado trava nomeações para postos cobiçados no governo e no Poder Judiciário

Tão logo sejam resolvidas as eleições das mesas diretoras da Câmara e do Senado, o governo terá que se debruçar sobre faturas políticas acumuladas desde o pleito municipal do ano passado, resultantes, sobretudo, de acordos firmados com partidos da base aliada que cederam espaço na corrida pelas prefeituras. Com uma reforma ministerial mais discreta do que a desejada pela base aliada, os mais de 20 cargos vagos ou com mandatos prestes a expirar distribuídos nas agências reguladoras passam a ser a menina dos olhos das legendas governistas em busca de mais espaço no butim federal.

O poder de ditar as regras sobre setores regulados da economia e um bolo orçamentário de mais de R$ 9 bilhões, se considerados os números de 2012, fazem das agências alvo comum da cobiça partidária. São, também, fonte de escândalos frequentes, como o desencandeado recentemente pela Operação Porto Seguro da Polícia Federal, que defenestrou os diretores de Infraestrutura Aeroportuária da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Rubens Vieira, e de Hidrologia da Agência Nacional de Águas, Paulo Vieira. Ambos indicações políticas da ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha.

As duas vagas permanecem em aberto. A demora do governo em preencher esses espaços é motivo constante de atrito entre a base e o Palácio do Planalto, hoje menos pródigo com as indicações políticas do que durante a administração de Luiz Inácio Lula da Silva. A irritação da bancada mineira do PMDB com a presidente Dilma Rousseff é um exemplo. Desde o início da atual gestão, o diretório estadual do partido sonha em expandir seus horizontes para o setor de petróleo. Acalenta o desejo de ocupar a Diretoria Internacional da Petrobras e trabalha firmemente pela indicação de José Carlos Amigo, que foi gerente executivo da estatal para a América do Sul. Também mira uma das duas diretorias vagas da Agência Nacional do Petróleo (ANP). “Até agora, é só o silêncio. Está tudo congelado até as eleições para as mesas no Congresso”, lamenta o deputado Antônio Andrade (PMDB-MG), presidente do diretório estadual do partido em Minas.

Ameaça de rebelião Sem espaço no governo, a bancada ameaça se descolar da base e apoiar o projeto de candidatura do senador Aécio Neves (PSDB-MG) ao Planalto em 2014. No ano passado, o vice-presidente Michel Temer chegou a ir a Minas para acalmar os ânimos da bancada. Mas, com a demora do governo em atender os pleitos aliados, o clima voltou a esquentar. “Temos um bom relacionamento com o Aécio e, por outro lado, nossa participação no governo federal é ínfima. Já existe uma ala do partido que é mais próxima do senador. Em uma circunstância como essa, por que não apoiar sua candidatura?”, questiona Andrade.

PMDB e PT dividem a maior parte das indicações políticas nas agências e, em consequencia, travam os mais acirrados embates pelas vagas abertas. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) é, hoje, um dos principais palcos dessa disputa. O PMDB perdeu uma vaga no Conselho Diretor da agência ao não emplacar a recondução de Emília Ribeiro. Ligada ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), Emília deixou a agência em novembro e, até agora, a vaga está aberta, objeto de uma queda de braço entre Sarney e o Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo — que, se conseguir emplacar uma indicação, terá ascendência sobre todo o conselho da Anatel.

“Até agora, é só o silêncio. Está tudo congelado até as eleições para as mesas no Congresso” Deputado Antônio Andrade (PMDB-MG), presidente do diretório estadual do partido em Minas Gerais