Título: O galã quer ser xerife ou prefeito
Autor: Caitano, Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 27/01/2013, Política, p. 5
>> perfil Fábio Faria
Mais conhecido pelas namoradas famosas, o deputado das baladas é candidato à corregedoria ou a primeiro-secretário da Câmara
Galã, pegador, celebridade. Entre os adjetivos que costumam acompanhar o nome do deputado federal Fábio Faria (PSD-RN), quase nenhum qualifica sua atuação política. O parlamentar de segundo mandato é muito mais conhecido pela coleção de namoradas famosas e pelos escândalos nos quais costuma se envolver — como quando foi flagrado usando dinheiro público para custear viagens de um casal de irmãos atores de TV. Mesmo frequentando mais as revistas de fofoca que o próprio plenário da Câmara, o potiguar descolado pode assumir um cargo na Mesa Diretora e tornar-se o xerife ou o prefeito da Casa.
O currículo extra-oficial do deputado reforça as características do jovem bem sucedido. Fábio Faria é sócio de uma rede de academias com filiais em todo o país, que tem como outros donos Alexandre Accioly, o técnico de vôley Bernardinho e o herdeiro do Grupo Pão de Açúcar João Paulo Diniz. Com 1,90m de altura, já desfilou como namorado da atriz Priscila Fantin e das apresentadoras Sabrina Satto e Adriane Galisteu. A loira, aliás, foi uma das celebridades que viajou por aí às custas da verba de passagens que deveria ser usada apenas pelo deputado. Além dela e da mãe, os atores Kayky Brito, Sthefany Brito e Samara Felippo também foram brincar o carnaval potiguar com bilhetes pagos pela cota do deputado na Câmara. Quando o escândalo veio à tona, Fábio Faria devolveu, em 2009, R$ 21,3 mil que gastou com as passagens dos amigos famosos. E tentou se desvencilhar da imagem de garanhão. “O meu mandato é muito maior do que qualquer ex-namorada”, declarou na época.
Já como parlamentar, o portfólio de Faria não é dos mais extensos. Nos seis anos que já cumpriu de mandato, apresentou 43 projetos — nenhum aprovado ainda. A maioria foi apensada a propostas anteriores que já tratavam dos mesmos temas. Mas um, em particular, chama a atenção: o deputado quer impedir, por meio de lei, que a imprensa tenha acesso a informações sobre crimes que estão sendo investigados, como o valor de um produto furtado.
No ano passado, Faria faltou a 24% das sessões e fez 18 discursos. Nesta legislatura, participa como titular apenas da Comissão de Turismo e Desporto e da Frente Parlamentar do Esporte.
Os parlamentares que convivem com Fábio Faria garantem que a convivência não chega a ser desagradável. “Ele é gente fina, mas é um menino que ainda tem muito a aprender sobre política”, comenta um colega que integra o time de deputados que joga futebol todas as semanas, em Brasília. “Ninguém o vê direito nos corredores da Casa, ele não participa muito das comissões nem tem atuação relevante em qualquer área”, revela um correligionário que coloca Faria no grupo dos “menudos”, como são chamados os deputados mais jovens e inexperientes da Câmara.
Fábio Faria foi eleito deputado federal pela primeira vez em 2006, aos 29 anos. Filho do vice-governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria, até o ano passado o deputado integrava o nanico PMN, mas viu na criação do PSD de Gilberto Kassab a oportunidade de crescer e aparecer. O parlamentar já era queridinho do ex-prefeito de São Paulo na época em que se encontravam em eventos sociais na capital paulista. Com a ida para a nova legenda, ganhou status e a promessa de alçar voos mais altos.
A chance foi facilitada pelo ex-líder do partido Guilherme Campos (SP), seu maior defensor. Diante da possibilidade de o PSD ganhar uma vaga na Mesa por causa do tamanho da bancada, Campos apressou-se em oficializar Fábio Faria como candidato. A indicação irritou outros integrantes da legenda, que não foram consultados. “Ele não tem perfil para nenhum dos cargos, mas é amigo do Kassab e do Guilherme; aí a concorrência é desleal”, reclamou um pessedista que pretende entrar na disputa contra o potiguar na próxima semana.
O posto que o representante do PSD vai ocupar ainda não foi definido. O partido disputa com o PSDB a vaga que ficará com a terceira maior bancada. O presidente Marco Maia (PT-RS) deve decidir quem terá esse direito — de acordo com critérios técnicos — até sexta-feira. O escolhido terá duas opções: a segunda vice-presidência, cujo comandante também exerce o papel de corregedor, uma espécie de xerife que investiga a quebra de decoro dos colegas; ou a primeira-secretaria, que funciona como a prefeitura da Câmara, posto mais desejado porque cuida de todas as questões administrativas da Casa, da contratação de funcionários a licitações e compras.
Ciente do poder que terá em mãos, se eleito, Fábio Faria colocou o bloco na rua. Nas últimas semanas ele não desgrudou do conterrâneo candidato à presidência da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB). Faria e o peemedebista posaram para fotos ao lado de governadores país afora, discursaram para parlamentares e apertaram a mão de prefeitos — o pessedista fez questão de postar tudo nas redes sociais. Mas a campanha já começa a desagradar antigos aliados.
A turma do futebol, com cerca de 40 deputados que incentivaram a candidatura do coordenador do grupo, Júlio Delgado (PSB-MG), ao comando da Casa, anda criticando Fábio Faria pelos cantos. “Ele está sendo traíra ao ficar tanto tempo ao lado do Júlio e, de repente, viajar por aí com o Henrique. Eu votaria nele para secretário, mas, agora, não voto mais”, resmungou um dos peladeiros.
Fábio Faria tem apenas uma semana de campanha pela frente. No dia 4, os deputados vão às urnas — em voto secreto — para eleger os novos dirigentes da Casa. Até lá, terá de convencer os colegas de que não é só um playboy que coleciona namoradas famosas.
“O meu mandato é muito maior do que qualquer ex-namorada” Fábio Faria, deputado federal (PSD-RN)
Desfile de celebridades
A lista de namoradas famosas de Fábio Faria é extensa e inclui a atriz Priscila Fantin e as apresentadoras Adriane Galisteu (acima) e Sabrina Satto (abaixo). Elas também costumam deixar o deputado em saias-justas, que nada têm a ver com as roupas que costumam usar. Em uma entrevista, Galisteu mandou este recado para Satto: “Quando você ganhar um presente do Fábio, peça a nota fiscal ou pergunte de onde veio o dinheiro”.