Correio braziliense, n. 20898, 11/08/2020. Brasil, p. 5

 

Pazuello defende diagnóstico precoce

Maria Eduarda Cardim 

Renata Rios 

11/08/2020

 

 

Com o país tendo ultrapassado a barreira de 100 mil mortes por covid-19, o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, evitou o tom agressivo do Palácio do Planalto e procurou mostrar que a pasta está empenhada em enfrentar a pandemia. Diferentemente do presidente Jair Bolsonaro, crítico contumaz de governdores e prefeitos, o general declarou apoio ao isolamento social e outras ações realizadas por estados e municípios. E ressaltou a necessidade do diagnóstico precoce da doença para evitar novas mortes.

“Medidas preventivas e afastamento social são medidas de gestão dos municípios e estados, e nós apoiamos todas elas porque quem sabe que é o necessário naquele momento precisa de apoio”, afirmou Pazuello, durante a cerimônia de início das operações da Unidade de Apoio ao Diagnóstico da covid-19, localizada na sede da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro. O ministro interino, que completará três meses na gestão da pasta no próximo domingo, disse que não é o momento de politizar sobre a pandemia.

“Não existe neste momento diferenças partidárias ou ideológicas. Nós somos todos brasileiros, combatendo dia a dia da melhor forma, nos dedicando para que não haja mais mortos no nosso país”, declarou. Segundo ele, o Ministério da Saúde revê os protocolos de enfrentamento à covid-19 para procurar as melhores alternativas e alterar aquilo que não está dando certo. Uma das principais mudanças ressaltadaS por Pazuello é o diagnóstico precoce da covid.

Além de adotar um discurso oposto ao de Bolsonaro, Pazuello insistiu em uma nova diretriz para o tratamento da covid-19: a importância do diagnóstico precoce. “Não está correto ficar em casa doente com sintomas até passar mal com falta de ar. Isso não funciona, não funcionou e deu no que deu. Nós há dois meses já mudamos esse protocolo”, reforçou o ministro, que indica a procura por unidades de saúde quando o primeiro sintoma for notado pelo paciente. Pazuello afirmou, ainda, que esse diagnóstico pode ser feito de diversas maneiras e não somente pelo testes laboratoriais.

“Qualquer sintoma procure imediatamente um médico e esse médico tem todo o poder soberano de diagnosticar, de forma clínica, clínica-epidemiológica, laboratorial, com exames de imagens e testes”, ressaltou.

Ranking do Planalto

O discurso com viés técnico de Pazuello contrasta com a ação do Palácio do Planalto. Após o Brasil ultrapassar as 100 mil mortes pela covid-19, no sábado, o governo enviou a parlamentares relatório em que cita governadores e prefeitos de locais com o maior número de novos óbitos e novos casos da doença. Ao tentar se eximir das críticas pela condução do enfrentamento do coronavírus, o presidente tem atribuído a responsabilidade do avanço da pandemia a gestores de estados e municípios.

O documento é assinado pela Secretaria Especial de Assuntos Federativos, subordinada ao ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, e usa dados do Ministério da Saúde. O relatório interno cita os cinco governadores de estados com mais mortes e novos casos. A lista de prefeitos é feita com base apenas no número de diagnósticos da doença.

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), aparece no topo das listas de números de casos e de óbitos. O estado ultrapassou 600 mil infectados e 25 mil mortes. Doria é adversário político de Bolsonaro e, durante a pandemia, os dois intensificaram a troca de ataques.

Outros quatro governadores são mencionados: Eduardo Leite (PSDB), do Rio Grande do Sul; Rui Costa (PT), da Bahia; Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e Carlos Moisés (PSL), de Santa Catarina. Na relação de mais mortes por covid, após Doria, aparecem Zema, Leite, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), e Costa. O Distrito Federal é citado, mas o nome do governador Ibaneis Rocha (MDB) não é destacado.

Na lista de municípios com mais casos são citados os prefeitos de São Paulo, Bruno Covas (PSDB); do Rio, Marcelo Crivella (PRB); de Salvador, ACM Neto (DEM); e de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT).

Em nota, a Secretaria Especial de Assuntos Federativos disse que o documento tem “o objetivo de monitorar a disseminação da covid-19 nos entes federativos para auxiliar na articulação do governo federal”. Mas não esclareceu por que foram mencionados nomes de governadores e prefeitos.

O Brasil registrou, ontem, mais de 703 óbitos pela covid-19 e 22.048 novas infecções. Segunda nação com mais infectados e vítimas da covid-19 no mundo, o país soma 101.752 mortes e 3.057.470 casos. Apesar do número alto de casos diários de infecções e mortes, houve queda de casos e óbitos ao comparar a última semana epidemiológica encerrada, a 32ª, com a anterior, a 31ª.

Testagem

A Unidade de Apoio ao Diagnóstico da covid-19 é uma iniciativa para dar suporte aos Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen). De acordo com a Fiocruz, a unidade pode processar diariamente até 15 mil testes moleculares, conhecidos como RT-PCR, o padrão ouro para diagnosticar a covid-19. A estrutura e equipamentos foram financiados pelo programa Todos Pela Saúde, do Itaú Unibanco, e o Ministério da Saúde custeará a operação. “Sabemos que entre as estratégias para o enfrentamento a esta pandemia a política e a capacidade de testagem são fundamentais hoje e em todas as etapas”, destacou a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima.

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Debate sobre regras de imunização 

Alessandra Azevedo 

11/08/2020

 

 

Com o avanço das testagens de vacinas contra a covid-19, o Congresso começa a discutir propostas para regulamentar a distribuição dos lotes, assunto que também está em debate no Ministério da Saúde. Projetos de lei tratam da prioridade da imunização e da obrigatoriedade de que planos e saúde cubram a imunização dos segurados. Algumas vacinas em desenvolvimento, como a de Oxford, podem ficar prontas para distribuição ainda neste ano ou no início de 2021.

A imunização deverá vir acompanhada de grande concorrência interna, “em uma disputa entre governos estaduais e municipais, além de entidades privadas”, aponta o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), no Projeto de Lei 4.023/2020, no qual propõe que pessoas mais vulneráveis sejam as primeiras a receber a vacina. O ideal, segundo ele, é garantir priorização dos grupos de risco, como idosos, diabéticos, hipertensos, entre outros.

O texto proposto pelo senador muda a lei que trata de medidas de enfrentamento à pandemia do novo coronavírus para inserir critérios técnicos, “de acordo com estatísticas e indicadores demográficos, epidemiológicos e sanitários”, explica. Vieira sugere que a distribuição leve em conta o percentual da população que já está imunizada, além do número de casos, óbitos e hospitalizações. A capacidade da rede de saúde e o potencial de disseminação da doença na região também devem ser considerados.

O deputado Wolney Queiroz (PDT-PE) sugeriu um PL (3982/ 2020) com o mesmo tema, na Câmara. Na proposta dele, primeiro seriam vacinados profissionais da saúde. Em seguida, idosos com mais de 60 anos, pessoas com comorbidades, profissionais da educação, pessoas que trabalhem com atendimento ao público e jornalistas. Depois, viriam as pessoas saudáveis com menos de 60 anos. O projeto do deputado, porém, não especifica as regiões prioritárias.

Planos de saúde

O Congresso também deve discutir se a vacinação precisará ser coberta pelos planos de saúde. A senadora Kátia Abreu (PP-TO) propõe, no PL 3.987/2020, que a cobertura seja obrigatória. Além de beneficiar os 47,1 milhões de brasileiros assistidos pela saúde suplementar, a medida “trará benefícios indiretos às operadoras, que evitarão os enormes custos associados ao tratamento de seus beneficiários acometidos pelas formas graves da covid-19”, argumenta, no texto.

O projeto cria uma regra permanente para outras eventuais epidemias. “Sempre que a autoridade sanitária declarar emergência de saúde pública de importância nacional ou internacional, a vacinação eventualmente disponível contra a doença em questão terá cobertura obrigatória pelos planos de saúde”, resume a senadora.

69 anos  é a idade máxima dos voluntários aptos a participar dos testes com a vacina desenvolvida pela universidade de Oxford.

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Vacina de Oxford avança

11/08/2020

 
 

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou ontem que os voluntários da vacina de Oxford contra a covid-19 recebam a segunda dose, de reforço, da imunização. A decisão está na Resolução 2.895/2020, publicada no Diário Oficial da União. A dose de reforço será dada aos voluntários que já haviam sido vacinados e também aos que ainda vão entrar para o estudo.

A inclusão da segunda dose na pesquisa foi motivada pela publicação de alguns resultados que mostraram que o reforço aumenta a chance de imunização. “A expectativa é que a segunda dose acrescente informação aos estudos e sobre a forma pela qual essa vacina poderá ser utilizada no futuro”, explicou, em nota.

A Anvisa autorizou a mudança da pesquisa com base nos dados de segurança apresentados até o momento. Cientistas de Oxford divulgaram, em 20 de julho, resultados que mostram que a dose de reforço resultou em maior produção de anticorpos em voluntários das fases 1 e 2 de testes da vacina. No Brasil, os testes estão na terceira e última fase.

A Anvisa destacou que o intervalo para a segunda dose dos participantes deve ser de quatro semanas. “Para os voluntários que já passaram pelo estudo, a segunda dose deve ser dada entre quatro e seis semanas. Neste caso, a variação do prazo se deve à necessidade de entrar em contato com o voluntário e mobilizá-los novamente para a dose de reforço”, explica.

Além disso, a Anvisa ampliou a faixa etária para a realização dos testes. Com isso, voluntários de 18 a 69 anos poderão participar da pesquisa. A faixa etária inicialmente aprovada era dos 18 aos 55 anos. Segundo a agência, ainda não havia dados para justificar a aplicação em pessoas de 55 a 69 anos. “Após a apresentação das informações necessárias pela empresa, a autorização para testes em voluntários de até 69 anos foi deferida”, destaca o órgão. (AA)