Título: Líder sem-terra é morto
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Fonte: Correio Braziliense, 27/01/2013, Brasil, p. 10

Cícero dos Santos coordenava uma invasão do MST em usina no norte fluminense

Um dos principais líderes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no norte do estado do Rio de Janeiro, Cícero Guedes dos Santos foi encontrado morto, com marcas de tiros, na manhã de ontem em uma estrada vicinal de acesso à BR-364, que liga Campos dos Goytacazes a São João da Barra. Alagoano, Cícero coordenava uma ocupação do MST na Usina Cambahyba. Ele foi baleado após participar de uma reunião do movimento.

As terras da Usina Cambahyba, um complexo de sete fazendas que totalizam 3,5 mil hectares, pertenciam ao ex-vice governador biônico do Rio de Janeiro Heli Ribeiro Gomes, já morto, e eram administradas pelos seus herdeiros. Em agosto de 2012, o Incra informou que havia ganho na Justiça uma ação que mantinha a desapropriação das terras da usina, determinada em 1998. A ocupação liderada por Cícero, em novembro do ano passado, foi a segunda do MST nas terras da usina. Na primeira, em 2000, 100 famílias acamparam na área durante seis anos, sendo posteriormente despejadas por decisão da Justiça Federal em Campos.

Embora estivesse assentado desde 2002 no lote Brava Gente, do assentamento Zumbi dos Palmares, no norte fluminense, Cícero dos Santos não deixou de liderar novas invasões. Em nota, o MST lamentou o assassinato do militante e cobrou justiça. “A morte do companheiro Cícero é resultado da violência do latifúndio, da impunidade das mortes dos sem-terra e da lentidão do Incra para assentar as famílias e fazer a reforma agrária”, diz um trecho da nota divulgada na página do movimento na internet. Segundo o MST, líderes da ocupação da fazenda já haviam sofrido ameaças. Para a polícia, o crime pode estar ligado à ocupação da Usina Cambahyba.

A usina foi citada no livro Memórias de uma guerra suja, na qual o ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), Cláudio Guerra, revela que os corpos de 10 ativistas políticos de esquerda foram incinerados nos fornos da usina durante a ditadura militar.