Título: Superlotação agravou o desastre
Autor: Mariz, Renata; Almeida, Amanda; Valadares, João
Fonte: Correio Braziliense, 31/01/2013, Política, p. 4

O comando do Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Sul disse ontem que a boate Kiss, em Santa Maria, poderia ter sido evacuada em dois minutos caso a capacidade máxima, de 691 pessoas, tivesse sido respeitada na madrugada do último domingo. A cúpula da corporação diz que há indícios de que havia entre 1,2 mil e 1,5 mil pessoas no dia da tragédia. O advogado Jader Marques, que defende Elissandro Spohr, o Kiko, um dos donos da casa noturna, disse que não havia mais de 650 pessoas na danceteria. "Me parece claro que o PCCI (Plano de Prevenção Contra Incêndio) foi aprovado e que 691 pessoas era o (número) que os bombeiros autorizaram. Os depoimentos obtidos até agora relatam que o público era entre 1,2 mil e 1,5 mil pessoas na hora do acidente. Uma análise de fotos anteriores à tragédia vai ajudar a levantar o número de pessoas que efetivamente estiveram lá para nos dar uma certeza. Mas 691 pessoas teriam abandonado o local em dois minutos", assegurou o tenente-coronel do 1º Batalhão do Corpo de Bombeiros em Porto Alegre, Adriano Krukoski Ferreira. O advogado de Kiko disse que foram impressos 850 convites para a festa que começou no sábado à noite, mas garantiu que havia menos frequentadores na casa noturna. "Se não foram atingidos pelo fogo, há cadernos de controle do público. Para essa festa, foram impressos 850 convites. Para comprovar isso, levaremos ao conhecimento das autoridades o arquivo da empresa de publicidade responsável. No total, 700 convites foram entregues a representantes dos estudantes", informou Marques. Segundo o advogado, Kiko sustenta que a noite "estava fraca" e que não havia mais de 650 pessoas na boate. Ainda de acordo com Marques, Kiko sugeriu que fossem pedidas ao supermercado que fica em frente à boate imagens de sua rede de segurança. "É necessário que a polícia solicite essas imagens porque, se pegar desde o momento em que abriu a casa e acompanhar a movimentação da entrada, é certa a comprovação de que não havia mais de 650 pessoas na casa", disse Jader Marques. O Corpo de Bombeiros sustenta que a boate cumpria as exigências em relação à saída de emergência. "De acordo com o PPCI apresentado pelo responsável técnico contratado pela boate Kiss e aprovado pelo Corpo de Bombeiros, havia duas saídas de emergência, cujas portas possuíam sentido de abertura para fora, dotadas de barras antipânico e devidamente sinalizadas. Suas dimensões estavam adequadas à população de 691 pessoas. A ocupação do local com público superior ao previsto no PPCI aprovado exigiria o redimensionamento das saídas de emergência e a apresentação por parte dos proprietários, para nova apreciação pelo Corpo de Bombeiros", registra nota da Brigada Militar, como a Polícia Militar é chamada no Rio Grande do Sul. O comandante da brigada, coronel Sérgio Roberto Abreu, diz que não há jogo de empurra entre autoridades e empresários. "A situação nossa não é atribuir a culpa a A ou a B, mas avaliar o grau de responsabilidade que nós temos. A prefeitura tem amplo poder de polícia e é quem concede o alvará de funcionamento. O funcionamento da casa depende da prefeitura. Não é atribuir culpa, é questão de responsabilidade", disse.