Título: Clientes preocupados nas casas noturnas
Autor: Mariz, Renata; Almeida, Amanda; Valadares, João
Fonte: Correio Braziliense, 31/01/2013, Política, p. 4

A tragédia ocorrida em Santa Maria levantou dúvidas sobre a segurança nas boates de todo o Brasil. O que antes passava despercebido passou a ser observado por clientes no Distrito Federal, como a localização de extintores de incêndio e portas de emergência, principalmente. Apesar de alguns estabelecimentos não apresentarem condições ideais de evacuação de pessoas em caso de necessidade, há uma maior preocupação por parte dos proprietários e frequentadores da noite, conforme constatou o Correio, que visitou alguns estabelecimentos. Porém, ainda existe receio quanto ao preparo dos funcionários das casas noturnas.

Em uma casa de shows na Asa Norte, o primeiro ponto questionado é a localização. Ela fica no subsolo de uma entrequadra. Sem portas de emergência, o único acesso de entrada e de saída é uma porta de vidro. Outra opção é a área de fumantes, bem ao lado. Duas grandes cortinas de veludo também chamam a atenção. O teto e a parede revestidos de madeira preocupam os mais atentos. Sem janelas, a ventilação fica por conta do ar-condicionado. Um dos seguranças confirmou que não há saídas alternativas em caso de emergência. No entanto, apontou a localização exata dos extintores: são quatro, dois de cada lado do bar, que fica no centro da casa noturna. Nos banheiros, a ventilação é feita por uma pequena fileira de basculantes em cada um.

Felipe Wendel de Araújo Gonçalves Júnior, de 19 anos, e Fernando Nascimento Moura, 25, festejavam o aniversário de um amigo. Ambos admitiram não ter reparado na segurança do local. "É raro eu frequentar boates. A tragédia de Santa Maria foi chocante e a gente tem que ficar preocupado. É importante prestar atenção, mas hoje eu deixei passar", disse Felipe. Fernando confessou que não notou os pontos básicos de segurança, mas se redimiu. "Na hora que você (repórter) me falou, veio a preocupação porque me lembrei da tragédia. Se alguma coisa acontecer, deve haver uma saída de emergência. Aqui é subsolo, não tem janelas e não acredito que quatro extintores sejam suficientes", disse. "Vou ficar mais ligado agora", garantiu.

DJs e bandas O administrador Elson dos Santos, de 51 anos, veio do Rio de Janeiro a trabalho. Com amigos na cidade, aproveitou a noite para se divertir. "Quando eu entrei (na casa de show), acabei pensando na tragédia, mas você nunca imagina que vá acontecer uma situação semelhante", disse. Mais atento, Elson desaprovou a estrutura da boate. "Aqui é parecido ou pior que a de Santa Maria", completou. Uma das gerentes do local, que não quis se identificar, afirmou que, após a tragédia no Sul, algumas mudanças serão feitas. "Vamos aumentar o número de extintores, por exemplo", garantiu a funcionária.

Em outra casa noturna, na Asa Sul, um dos seguranças fez questão de apresentar o local, apontando a saída de emergência e extintores, além de explicar onde ficam a pista de dança e os banheiros. Com um espaço pequeno e três andares, a saída de emergência está localizada no térreo, sentido contrário à porta principal. No subsolo fica a área de DJs e bandas. A ventilação é feita por ar-condicionado e ventiladores, com o teto do subsolo revestido de espuma. "Somos treinados para casos de emergência e nunca deixamos ultrapassar a lotação", diz o segurança. Já em uma casa de shows de striptease, em Taguatinga, a situação era de regularidade. Havia extintores em cada uma das várias colunas existentes no salão, além de duas portas de emergência pintadas em vermelho, e com indicação de saída iluminada e localizadas nas laterais do estabelecimento.

Frequentador da noite, Bruno Batista, 24 anos, questiona as condições de segurança das casas de shows da cidade. "Muitos ambientes não têm janela nem no banheiro. Se acontecesse uma situação como a do Sul, não teria como as pessoas saírem", afirma o estudante. Ele ressalta, ainda, um outro ponto polêmico na tragédia em Santa Maria que pode ser preocupação em todo o país: a função dos seguranças nos momentos de pânico. "Quando acontece briga e nos afastamos ou temos que correr, por exemplo, eles impedem as pessoas de saírem por conta da comanda, isso realmente acontece aqui como lá", explica Bruno.

Segundo o coronel do Corpo de Bombeiros, Mauro Sérgio de Oliveira, mesmo com todos os cuidados, o risco sempre existe. "Lugar fechado já não é seguro. Mesmo com saída de emergência e extintores, quando há concentração de público, o oxigênio é mais baixo", disse. Alguns cuidados podem ser tomados para minimizar esses riscos, como respeitar a capacidade do local, além de sinalizadores de emergência e luzes.

"A tragédia de Santa Maria foi chocante e a gente tem que ficar preocupado. É importante prestar atenção, mas hoje eu deixei passar" Felipe Wendel de Araújo, 19 anos