Correio braziliense, n. 20899, 12/08/2020. Cidades, p. 16

 

Uma nova casa para as cobras

Jaqueline Fonseca

12/08/2020

 

 

A naja-de-monóculo e a víbora-verde-voguel, além de cinco corn snakes que estavam na Fundação Zoológico de Brasília, desde a primeira semana de julho, foram colocadas em um voo que saiu, hoje, por volta das 6h do Aeroporto Internacional de Brasília. Elas vão para o Instituto Butantan, em São Paulo.

O trajeto entre o Zoológico e o aeroporto foi feito no início da noite de ontem por uma transportadora particular. Os animais foram colocados em três caixas de madeira reforçadas com trava dupla e pequenos furos para garantir a entrada de ar. Apenas as serpentes da espécie corn snakes foram alocadas na mesma caixa porque, conforme explicou o biólogo e diretor de répteis do Zoológico Carlos Eduardo, são animais que convivem bem entre si. As outras viajaram em recipientes individuais.

As caixas foram preparadas pela equipe do Zoológico e incluídas no recinto onde os animais viviam alguns dias antes para garantir que as serpentes não estranhassem o ambiente onde viajariam.  Para aumentar a segurança, as tampas dos caixas foram parafusadas.

Motorista do carro que levou os animais até o aeroporto, Welliton Ribeiro contou que nunca realizou transporte de carga tão perigosa.  Segundo ele, tudo “era novidade” e relatou ter um pouco de medo. O profissional foi orientado pelo biólogo do Zoológico sobre os cuidados necessários no trajeto que também garantiu a segurança das caixas ao motorista.

À reportagem, Welliton explicou que acompanhou embarque das sete serpentes às 23h.  Após esse horário, a carga ficou sob a tutela da companhia aérea. No desembarque, em São Paulo, as cobras serão recolhidas por outro funcionário da transportadora e levadas ao Instituto Butantan, que finalmente receberá os animais.

O Instituto Butantan informou que não sabe se utilizará as cobras para estudos científicos ou para fins de educação ambiental. No Museu Biológico, em São Paulo, o instituto já abriga uma naja-de-monóculo — encontrada na rede de esgoto em Balneário Camboriú, Santa Catarina   — que possui características comuns à naja resgatada em Brasília. Elas podem ter o mesmo material genético, mas segundo o Butantan, não há como saber se as najas são “irmãs”.

No período de pouco mais de um mês que as serpentes ficaram no Zoológico, elas foram cuidadas e bem tratadas. O diretor de répteis da fundação explicou os animais não ficaram no Zoo porque não fazem parte do perfil da população do local. “Esses exemplares não se encaixam perfeitamente nas diretrizes de Zoologico de Brasília, que levam em conta conversação, pesquisa e educação ambiental. Então a gente optou pela destinação desses animais para o Ibama e aí sim o Ibama define o local para onde elas vão”, disse Carlos Eduardo Nóbrega.

O biólogo foi responsável pelos animais no período em que eles ficaram no Zoo e era o único a ter acesso direto as serpentes mais perigosas do Brasil. A naja foi solta num recinto onde tinha acesso a um pequeno tanque com água fresca, pedras e arbustos. Já a víbora-verde-voguel ficou todo tempo dentro de uma caixa forrada com jornal com pequenos galhos para que pudesse interagir no ambiente que vivia.

A naja de monóculo foi entregue ao Zoo, em 8 julho, após a serpente picar o jovem Pedro Henrique Krambeck que criava o animal ilegalmente em casa. A cobra foi resgatada pelo Batalhão Ambiental da Polícia Militar perto do shopping Píer 2z e entregue ao Ibama, que deixou o animal aos cuidados temporários do Zoo.

Já a víbora-verde-voguel foi devolvida na sede do Ibama em Brasília um dia após o caso da naja ganhar repercussão nacional. Como o animal foi entregue espontaneamente, o dono não foi incriminado. Mas a Polícia Civil do Distrito Federal investiga se os animais foram trazidos ilegalmente ao Brasil e, também, a atuação de uma quadrilha de tráfico de animais.