Título: Está caro e pode ficar mais, afirma Mantega
Autor: Ribas, Sílvio; Dinardo, Ana Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 31/01/2013, Economia, p. 14

Apesar de considerar caro o litro da gasolina acima de R$ 3, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não descartou ontem a possibilidade de novos reajustes nos preços dos combustíveis nos próximos meses, para atender a demanda da Petrobras, que pleiteia correção de pelo menos 15%. Ontem, passaram a valer aumento de 6,6% para a gasolina nas refinarias e de 5,4%, no diesel. "Eu acho que tudo podia ser mais barato, mas temos uma inflação de 5,5% e é natural que haja correção de preços", disse. Ele assegurou que a alta anunciada pelo governo "é pequena e não vai atrapalhar ninguém".

Segundo Mantega, em 2012, a Petrobras foi autorizada a reajustar os combustíveis pelo menos duas vezes. Mas ainda não está decidido se um novo aumento virá. "Tudo dependerá das circunstâncias, do preço internacional do petróleo", explicou. "O que posso dizer é que este é o último aumento da gasolina nesta semana", afirmou, em tom de galhofa. O governo não quer pressionar demais a inflação, que, no acumulado de 12 meses, está encostando no teto da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 6,5%. Portanto, a tendência do Palácio do Planalto é liberar aumentos para a gasolina e o diesel a conta-gotas.

Os reajustes tentam melhorar a situação do caixa da Petrobras, que vem tendo prejuízo com o atraso na correção dos preços dos combustíveis. Especialistas estimam que ainda exista uma defasagem de 7% a 12% na gasolina e de 12% a 15% no diesel. Sem os aumentos que entraram em vigor ontem, a estatal vinha perdendo R$ 2 bilhões por mês. Agora, os prejuízos mensais devem cair para R$ 1,2 bilhão, o que ainda é muito pesado para a empresa, que tem ambiciosos planos de investimentos para tocar.

Não à toa, nos últimos três anos, as ações da estatal despencaram 45%. Atualmente, a Petrobras tem valor de mercado inferior até ao da concorrente colombiana Ecopetrol — US$ 129,5 bilhões contra US$ 126,8 bilhões, conforme dados do jornal britânico Financial Times. No Brasil, onde ocupou o topo do ranking das maiores companhias com papéis listados em bolsa de valores, cedeu espaço para a Ambev, avaliada em US$ 141 bilhões na semana passada.

Sem modéstia Mantega desconversou quando questionado sobre o que o governo fará em relação aos postos que estão fazendo reajustes abusivos na gasolina — até 10% em São Paulo. Levantamento feito pelo Correio revelou que há revendedores cobrando R$ 3,04 o litro no Distrito Federal, embutindo os 6,6% fixados apenas para as refinarias. Para o ministro, o repasse deveria ser menor, porque o combustível é misturado com álcool, que não teve correção. "O aumento foi de 6,6% na refinaria. No posto, deve ser de 4,4%, porque tem a mistura do álcool. E isso é menos que a inflação. Portanto, é uma elevação modesta", afirmou.

Pelos cálculos de Mantega, o impacto do reajuste será de 0,16 ponto percentual na inflação oficial, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). O ministro recordou que os aumentos de 2012 não foram totalmente sentidos pelo consumidor, porque o governo zerou a Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) sobre os combustíveis desde julho passado.