Título: Missão impossível no DF
Autor: Colares, Juliana ; Chaib, Julia
Fonte: Correio Braziliense, 01/02/2013, Brasil, p. 6

Na zona central de Brasília, excesso de veículos, desrespeito às leis de trânsito e outras irregularidades barram bombeiros em caso de incêndio

No centro da capital federal, o perigo éi minente. Ao menos oito áreas de grande concentração de público na cidade são inacessíveis ao Corpo de Bombeiros, segundo apontaram especialistas em segurança a pedido do Correio. Caso um incêndio ameaçasse a vida de centenas de pessoas, como aconteceu em Santa Maria (RS) no último domingo, as barreiras impostas por carros parados em locais proibidos e passagens estreitas impediriam a chegada dos veículos dos socorristas. O caminhão de 9 metros de comprimento e 3 metros de largura dificilmente passaria por mais de 30 quadras comerciais do Plano Piloto (veja arte).

As regiões mais críticas são os setores Comercial e Bancário das asas Sul eNorte. Mas os setores de Autarquias Sul, de Rádio e TV Sul eNorte e o de Diversões Sul não estão livres do risco. Com vários edifícios próximos e estacionamentos conturbados, as áreas representam uma barreira intransponível para as equipes de resgate doCorpo de Bombeiros.

Na tarde de ontem, o Correio acompanhou o desafio dos militares em circular pelas quadras problemáticas e constatou a impotência dos socorristas. Mesmo quando consegue acessar alguma via, a unidade dos bombeiros não tem espaço para trabalhar. "A gente não tem como abrir a escada nesses locais. Se pegar fogo, vai queimar tudo", explica o sargento Giovanni Boscoli, condutor e operador do caminhão doCBDF.

No Setor Bancário Sul, após 10 minutos tentando manobrar o veículo, Boscoli desistiu e saiu do local em marcha ré. No Setor Comercial Sul, o motorista só conseguiu passar pela curva de uma das entradas depois que três condutores retiraram os carros do local proibido onde estavam estacionados.NaQuadra 1, havia inclusive um carro oficial, do gabinete do senador MárioCouto (PSDB-PA).

A posição do carro oficial retardou o acesso dos militares às vias internas. Apesar disso, a assessoria de imprensa do político explicou que o funcionário só parou no local para dar passagem ao carro do Corpo de Bombeiros.

O setor visitado pela corporação é excelente exemplo de como modificações estruturais feitas sem a participação de engenheiros especializados podem comprometer a segurança. "Na Quadra 1, construíram passarelas para proteger os pedestres da chuva. Acontece que elas estão emumlocal que impede a entrada de caminhões de bombeiros pela calçada, se não for possível entrar pela rua, como é comum acontecer por ali", cita o integrante do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Distrito Federal (CREA-DF) Francisco Rabello.

O diretor de Fiscalização do Detran- DF, Nelson Leite, reconhece que organizar o trânsito nesses setores é difícil. "A gente enxuga gelo. Multa, reboca, sinaliza, mas, na hora que a viatura sai, a infração volta a ser cometida. Nós não podemos ficar 24 horas no local", diz.