Título: Postos forçam a mão e gasolina vai a R$ 3,13
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 01/02/2013, Economia, p. 10
Dilma Rousseff manda a Agência Nacional do Petróleo investigar se está havendo reajustes abusivos dos combustíveis no país
O reajuste dos combustíveis autorizado pelo governo se disseminou ontem. Ao longo do dia, os postos que ainda não haviam repassado aos consumidores o aumento de 6,6% para a gasolina e de 5,4% para o diesel, nas refinarias, trataram de mudar as tabelas. Na média, a gasolina comum foi comercializada a R$ 2,99, com aumento de 5%, mas, em vários estabelecimentos, os preços chegaram a R$ 3,04, incorporando toda a correção anunciada na noite de terça-feira pela Petrobras. No caso da aditivada, que vinha sendo vendida pelo mesmo valor da comum (R$ 2,85), o litro passou para R$ 3,13 — alta de 10%, mais do que o dobro dos 4,4%, em média, previstos pelo governo.
A gula do empresariado irritou a presidente Dilma Rousseff, que ordenou ao Ministério de Minas e Energia e à Agência Nacional do Petróleo (ANP) uma ação coordenada para conter os abusos. A presidente também não escondeu o seu descontentamento com as declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que novos reajustes estão por vir e que o aumento já anunciado “não atrapalha ninguém”. O Palácio do Planalto avaliou que Mantega deu munição à oposição, que está usando as redes sociais para colar no governo a imagem de que dá com uma mão (corte de 18% na conta de luz residencial) e tira com outra (elevação dos combustíveis).
O ataque oposicionista foi tão forte, que aliados escalados pelo PT deram início a uma campanha mostrando que os reajustes da gasolina no governo Fernando Henrique Cardoso foram maiores do que na administração Lula. “Não podemos deixar que o governo da presidente Dilma seja difamado. Os aumentos de preços dos combustíveis só são autorizados quando necessários. E o anunciado na terça-feira foi mínimo”, disse um assessor do Planalto. Ele reconheceu, porém, que “ficou ruim para o governo a forma um tanto pejorativa com que Mantega tratou o aumento da gasolina, um tema que mexe muito com a classe média”, emendou. “Esperamos que esses escorregões não se repitam”, assinalou.
O movimento de remarcação de preços foi feito às claras, sem constrangimento dos empresários. No Posto Eixinho, na Asa Norte, o Correio chegou ao local no momento em que o gerente, Thiago Dantas, alterava o preço da gasolina comum de R$ 2,85 para R$ 2,99 e da aditivada, para R$ 3,13. Já o diesel pulou de R$ 2,29 para R$ 2,52, ficando 10% mais caro. Dantas explicou que o repasse foi inevitável. “Seguramos os preços enquanto havia estoque. Mas, depois do anúncio do governo, o posto ficou lotado e todo o combustível armazenado foi embora. As filas estão enormes”, afirmou. A corrida está sendo movida pelo receio de novos reajustes.
Apesar de esperado, o aumento dos combustíveis provocou revolta em muitos consumidores. O empresário Cladston Pinheiro, 37 anos, disse que determinou uma política de contenção de gastos em casa. Um dos dois veículos da família ficará na garagem. “A ordem é economizar. Distâncias pequenas, só a pé ou de ônibus”, afirmou. Ele lembrou que o próprio governo vinha incentivando todo mundo a comprar carro, para incrementar a economia. Agora, com o reajuste dos combustíveis, obriga muita gente a encostar os veículos.
Para o administrador de dados Fábio Costa, 48, os consumidores vão sofrer, sobretudo se vingar a ameaça de Mantega de que outros aumentos estão por vir. “Em Brasília, as distâncias são muito longas. E usar álcool como combustível está fora de cogitação, pois também está muito caro. Infelizmente, terei de continuar abastecendo com gasolina. Não há para onde correr”, lamentou.
» Ameaça de greve
Não bastassem os problemas de caixa, a Petrobras poderá sofrer um revés se a proposta de greve que será submetida à categoria pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) sair vitoriosa. A paralisação duraria cinco dias nas unidades da estatal em todo o país, a partir de 20 de fevereiro. A Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), que também representa os petroleiros, defende a deflagração de uma greve, mas por tempo indeterminado. Os petroleiros querem modificar os cirtérios do plano de Participação nos Lucros ou Resultados (PLR) referente a 2012. Eles alegam que o PLR será 50% inferior ao pago em 2011. A Petrobras informou em nota que está disposta a negociar, mas não marcou uma data, o que desagradou aos sindicalistas. O impasse poderá ser discutido em audiência da FUP com o presidente do Conselho Administrativo da Petrobras, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e a presidente da Petrobras, Graça Foster.