Correio braziliense, n. 20900, 13/08/2020. Política, p. 4

 

Mais baixas à vista

Rosana Hessel 

Renato Souza 

13/08/2020

 

 

A debandada no Ministério da Economia parece não ter acabado, em meio à expectativa, ontem, de que o ministro Paulo Guedes pode ter novas baixas na pasta. O mercado ficou apreensivo sobre os rumos da política econômica diante do visível enfraquecimento do “Posto Ipiranga” do presidente Jair Bolsonaro. Até mesmo a saída do ministro foi cogitada, se o chefe do Executivo não defender o teto de gastos, o que ele fez publicamente, ontem, em postagem nas redes e em pronunciamento à noite.

Os secretários especiais Waldery Rodrigues (Fazenda) e Carlos da Costa (Produtividade, Emprego e Competitividade) poderiam ser os próximos a deixar o governo, pois eles chegaram a falar sobre a intenção de pedir demissão a alguns interlocutores, após desgastes recentes. Os rumores da saída de ambos foram grandes ontem, após Guedes, na véspera, confirmar a “debandada” na equipe durante o anúncio dos pedidos de demissão de Salim Mattar, secretário especial Desburocratização e Privatização, e de Paulo Uebel, secretário especial de Desestatização e Privatização. Em nota no fim da tarde de ontem, o Ministério da Economia negou a saída de Waldery e de Carlos Da Costa.

Desde junho, houve outras quatro baixas importantes na equipe econômica: Marcos Troyjo, Mansueto Almeida (Tesouro Nacional), Caio Megale (diretor de Programas) e Rubens Novaes, que anunciou sua saída da presidência do Banco do Brasil para o fim deste mês. No ano passado, os desfalques foram o secretário especial da Receita Federal, Marcos Cintra, e o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES), Joaquim Levy.

Para analistas, a desidratação de Guedes é evidente devido à falta de resultados das promessas feitas em campanha. E, para piorar, o presidente não é um adepto da cartilha liberal do ministro. “O estilo de governo que Bolsonaro quer fazer é o da direita da Polônia e da Hungria, que não é compatível com o liberalismo. Só que Guedes foi muito importante para a eleição de Bolsonaro, pois garantiu apoio do mercado financeiro. Se ele rifar o ministro, aí não tem reeleição”, disse José Luis Oreiro, professor de Economia da UnB.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, não vê a saída de Guedes “por enquanto”, mas ele não a descarta se os riscos fiscais ficarem incontornáveis. “A pressão por aumento do gasto público será grande nos próximos anos, especialmente, da nova base de apoio do governo: o Centrão. Bolsonaro nunca foi liberal. Era normal que esse problema fosse aparecer, em algum momento, e Guedes está perdendo força”, lamentou.