Correio braziliense, n. 20900, 13/08/2020. Cidades, p. 21

 

Não se esqueça da saúde mental

13/08/2020

 

 

No período de pandemia, com isolamento social, sobrecarga no trabalho e incerteza sobre o futuro, o lado emocional das pessoas pode ficar abalado. Neste momento, a meditação é uma das estratégias para lidar com os desafios psicológicos do dia a dia. Seja por conta própria, por meio de aplicativos ou em templos, a prática ajuda o corpo a relaxar e diminuir o estresse, além de manter boas energias, desenvolver habilidades como concentração, tranquilidade. Segundo especialistas, a alternativa é válida e, quando alinhada com outras atividades, pode até amenizar quadros de ansiedade e irritabilidade.

Respire. Expire. Concentre-se. São os comandos que Clara Lobo, 20 anos, escuta e segue todo dia antes de dormir. A universitária conhece a prática da meditação desde 2017, mas, foi durante a pandemia que inseriu a atividade na rotina. Segundo ela, o ritual noturno vai desde a preparação do ambiente até os exercícios, guiados, geralmente, por áudios de um canal do YouTube. Depois que se acostumou, a jovem afirma que não consegue ficar um dia sem praticar. “Ajuda a melhorar o foco e a respiração. Meu sono melhorou bastante, além da relação que tenho comigo mesma”, explica.

Além dos benefícios gerais, Clara percebeu uma melhora nos quadros de ansiedade e síndrome do pânico — que haviam se agravado desde o início do isolamento social. “Comecei a me sentir mais tranquila, paciente e positiva em relação ao meu dia e às minhas atividades. Com isso, minha saúde mental melhorou, também”, considera. Ela afirma que, desde que incorporou a meditação no dia a dia, não teve mais recaídas. “Faz tempo que os sintomas da ansiedade e síndrome do pânico não atacam. Fico muito feliz com isso”, conta.

A percepção de Clara sobre a melhora na saúde mental não é por acaso. De acordo com a psicóloga Raquel Manzini, a meditação oferece uma maior conexão com o momento, nova forma de olhar o mundo e foco no que é importante. Com isso, a pessoa consegue relaxar e controlar crises de ansiedade e irritabilidade, por exemplo. “É uma prática extremamente válida, pois auxilia na aceitação da realidade. A partir do momento que a pessoa aceita e enxerga o momento que está vivendo, ela é capaz de encontrar a melhor maneira de lidar com os problemas do dia a dia”, explica.

De acordo com a profissional, é comum que, durante a pandemia, as pessoas desenvolvam síndromes e quadros como os de depressão, ansiedade e irritabilidade. Raquel ainda afirma que uma mente malcuidada pode influenciar o desempenho do indivíduo em outras atividades. “A falta da saúde mental rompe todos os outros pilares da vida. Ela é a base para se ter saúde física, alimentar, realizar atividades profissionais ou sociais. É como um prédio que perde a base”, esclarece.

A própria Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas (ONU)  reconheceram os efeitos da crise sanitária no bem-estar psicológico das pessoas. Ainda em maio, as autoridades afirmaram que os cuidados com a saúde mental faz parte das medidas de combate ao novo coronavírus e, por isso, deviam ser intensificadas.

O primeiro passo

Qualquer pessoa pode começar a meditar. Segundo o monge Sato, responsável pelo Templo Shin Budista Terra Pura, em Brasília, apenas é necessário ter vontade. “A meditação, assim como a filosofia budista, é possível a todos e todas”, diz. Monge Sato afirma que a atividade ajuda na qualidade de vida e na concentração. “Gosto de dizer, durante as aulas guiadas, que a meditação deixa a mente limpa e tranquila, como o céu de Brasília. Tudo para se centrar no presente e desejar o bem para o futuro”, esclarece.

Para o monge, o ideal é que se pratique por 15 minutos diariamente. Devido à pandemia do novo coronavírus, o templo da Asa Norte passou a transmitir as aulas de meditação ao vivo e o retorno foi positivo. “Sinto que as pessoas têm procurado a meditação, porque é uma forma de encarar o momento com sabedoria e de peito aberto, permitindo-se otimismo de saber que é apenas uma fase”, ressalta. Algumas das transmissões do templo serão feitas durante a 47ª Quermesse Budista de Brasília. As lives serão realizadas em todos os sábados de agosto no canal do YouTube do templo.

Apesar da facilidade de acesso às aulas e instruções de meditação, a psicóloga Raquel ressalta que o apoio profissional não deve ser deixado de lado. “É necessário procurar um especialista que ajude a pessoa a entender como encaixar a prática na rotina e exercê-la da melhor forma possível”, diz. Ela ainda afirma que é importante não se comparar com os professores e instrutores, pois os resultados serão observados a longo prazo. “Não é algo fácil, rápido e automático. No início, pode ser que alguns pensamentos e posições incomodem, mas é preciso não desistir. É uma prática que demora a realmente fazer efeito”, explica.

Aplicativos aliados

Para quem quer meditar sozinho e seguir os próprios horários, os aplicativos são uma boa opção. A maioria das plataformas oferecem áudios e músicas que ajudam a pessoa a relaxar e se concentrar no momento. Além disso, é possível cronometrar as sessões e, assim, programar-se melhor para inserir a meditação no dia a dia. É o que faz Marcos Paulo Rodrigues, 22. O estudante de economia conta com o auxílio de aplicativos especializados para realizar as meditações.

Ele explica que, por meio do cronômetro da plataforma, consegue manter o tempo da prática uniforme. “Tento manter exercitar diariamente, mas, às vezes, acabo pulando um dia ou outro. O aplicativo ajuda nessa questão”, diz. Com o app, ele condiciona-se a meditar 20 minutos por dia e percebe os benefícios. “Sinto uma diferença muito grande no meu estado psicológico. Durante o isolamento social, estava muito ansioso. Com as meditações, aprendo a controlar mais o psicológico”, destaca Marcos Paulo.