O globo, n. 31755, 16/07/2020. País, p. 4
Rota de fuga
Juliana Dal Piva
16/07/2020
Queiroz também se escondeu em apartamento de ex-rnuiher de Wassef
Mensagens encontradas pelo Ministério Público do Rio nos celulares de familiares de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), revelam que ele e o filho também usaram um apartamento em São Paulo da empresária Maria Cristina Boner Leo, ex-mulher do advogado Frederick Wassef. Até agora, os investigadores só haviam descoberto dois endereços de Wassef usados por Queiroz como refúgio em 2019: o sítio, em Atibaia, onde o ex-assessor foi preso, e um imóvel no Guarujá. Os telefones foram apreendidos por determinação da Justiça.
As mensagens que comprovam a localização, obtidas pelo GLOBO, começaram a ser trocadas na madrugada de 24 de novembro do ano passado. Pouco depois da meia-noite, Queiroz avisou Márcia Aguiar, sua mulher, por Whatsapp, que estava indo “para a casa do Anjo” (codinome de Wassef, segundo as investigações). Márcia questionou: “Felipe também? Tomara que tenha boas notícias”, disse, em referência ao filho do casal. Em seguida, Queiroz enviou para Márcia uma foto do filho sentado em um sofá branco, com uma ampla sala ao fundo.
Horas depois, Felipe tirou cinco fotos de si mesmo na mesma sala da foto enviada por Queiroz para Márcia. Depois, as enviou para um amigo, elogiando o apartamento. Foi justamente esse movimento que indicou o endereço onde estava com o pai.
A partir do envio das imagens pelo WhatsApp, o celular registrou que os dados foram remetidos da Rua Jerônimo da Veiga, esquina com a Rua Emanuel Kant, no bairro Chácara Itaim, exato endereço do prédio onde Maria Cristina Boner Leo tem um apartamento na capital paulista.
À época, Queiroz e Márcia estavam apreensivos com o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) que decidiria sobre a legalidade do compartilhamento de dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) com órgãos de investigação. A Corte se posicionou a favor do repasse de informações, o que possibilitou a retomada da investigação a respeito de Queiroz e Flávio Bolsonaro.
Em junho, o UOL mostrou que o governo de Jair Bolsonaro fechou contratos que somam R$ 53 milhões com a Globalweb Outsourcing, fundada por Maria Cristina Boner Leo e administrada por sua filha. Reportagem do GLOBO mostrou que a empresa pública Dataprev suspendeu, em março de 2019, uma multa de R$ 27 milhões aplicada a um consórcio de empresas, que contava com a Globalweb.
WASSEF NEGA
O advogado Paulo Emílio Catta Preta, que defende Queiroz e sua família, disse que as perguntas deveriam ser direcionadas a Wassef. Sem contestar a titularidade do imóvel, Maria Cristina Boner Leo afirmou que mora em Brasília, não estava em São Paulo na data citada e “só vai se manifestar após ter acesso aos autos”. Wassef afirmou que nunca abrigou Queiroz ou familiares “em qualquer propriedade minha ou de conhecidos meus na cidade de São Paulo”. O defensor completou afirmando que Maria Cristina “não tem e nunca teve qualquer relacionamento” com Queiroz e familiares, “assim como também nunca teve relacionamento com a família Bolsonaro”.