O globo, n. 31755, 16/07/2020. Colunas, p. 3
Os limites
Luiz Fernando Verissimo
16/07/2020
Santo Agostinho disse que, entre todas as tentações do homem, a pior era a “doença da curiosidade”. Ela nos levava a especular sobre as razões da existência e os mistérios do Universo, ou sobre tudo que estava além da compreensão humana e só a fé explicava. Antes de Agostinho, outra autoridade, Deus, já advertira Adão e Eva a não comer o fruto da árvore do saber, para não contrair a doença da curiosidade e perder para sempre o paraíso da ignorância satisfeita. Deus, Agostinho e outros tentaram nos convencer a aceitar os limites da fé como os limites do conhecimento. Tentar compreender mais longe só traz perplexidade e angústia.
Botar um pastor evangélico como ministro da Educação não nos ajuda a conhecê-lo. O homem pode ser competente e tomara que seja, mas até que se saiba mais sobre os limites das suas crenças e convicções — criacionista ou evolucionista, para começar? — temos o direito de incluí-lo na longa lista de escolhas desastradas que Bolsonaro vem fazendo.