O globo, n. 31755, 16/07/2020. Colunas, p. 3

 

Os limites

Luiz Fernando Verissimo

16/07/2020

 

 

Santo Agostinho disse que, entre todas as tentações do homem, a pior era a “doença da curiosidade”. Ela nos levava a especular sobre as razões da existência e os mistérios do Universo, ou sobre tudo que estava além da compreensão humana e só a fé explicava. Antes de Agostinho, outra autoridade, Deus, já advertira Adão e Eva a não comer o fruto da árvore do saber, para não contrair a doença da curiosidade e perder para sempre o paraíso da ignorância satisfeita. Deus, Agostinho e outros tentaram nos convencer a aceitar os limites da fé como os limites do conhecimento. Tentar compreender mais longe só traz perplexidade e angústia.

Os limites da religião e da Ciência vêm se alternando desde que o primeiro hominídeo, ou o primeiro curioso, tentou explicar uma tempestade. O que era aquilo? Como se explicava? Einstein contou que a existência da força magnética foi o que despertou seu interesse pela Física e, como consequência, iniciou a maior aventura intelectual do nosso tempo, com suas descobertas e teorias. E Einstein, como a Ciência em geral, só estava repetindo a pergunta do nosso primitivo hominídeo das cavernas: o que era aquilo? Como se explicava? Enquanto isso, até hoje milhões de pessoas só aceitam as explicações do mundo que estão na Bíblia, no Corão e em outros textos sagrados. Dá até para comparar o número crescente de evangélicos nos seus templos, por exemplo, com o número crescente de revelações da Ciência sobre a origem e o destino desta bola insignificante rodopiando pelo espaço em que nos meteram. O conhecimento perde para a fé, longe.

Botar um pastor evangélico como ministro da Educação não nos ajuda a conhecê-lo. O homem pode ser competente e tomara que seja, mas até que se saiba mais sobre os limites das suas crenças e convicções — criacionista ou evolucionista, para começar? — temos o direito de incluí-lo na longa lista de escolhas desastradas que Bolsonaro vem fazendo.