Título: Dois cargos em aberto
Autor: Caitano, Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 04/02/2013, Política, p. 3

Indicações dos partidos devem ser confirmadas em oito dos 10 postos da Mesa Diretora em disputa na eleição de hoje. Exceções são a segunda-vice e a segunda-secretaria, que terão candidaturas avulsas em plenário

Para além da disputa pelo comando da Câmara dos Deputados, estão os outros 10 cargos distribuídos entre os partidos. Cada vaga tem uma função específica e interesses particulares envolvidos. Ao todo, as nomeações de comissionados a que a Mesa Diretora terá direito custarão R$ 22,9 milhões. A cifra na casa dos oito dígitos, no entanto, não é o maior desejo dos concorrentes. A principal briga em curso diz respeito ao poder de decisão que cada posto detém. Entre os futuros ocupantes estão empresários, agricultores e alguns parlamentares que colecionam registros em processos judiciais. Pelo menos em dois postos, a segunda-vice-presidência e a segunda secretaria, haverá disputas internas.

O vice-presidente da mesa deve ser o paranaense André Vargas, secretário de Comunicação do PT. O petista conquistou a indicação do partido ao cargo graças aos anos em que se dedicou a traçar estratégias de defesa pública do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de alguns colegas réus no julgamento do mensalão, como José Dirceu. Integrante da bancada empresarial da Câmara, Vargas é um dos que atribui à “mídia” toda a culpa pela imagem negativa do Legislativo. Saiu em vantagem na indicação da legenda também por ter um bom relacionamento com peemedebistas, especialmente com Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), candidato favorito à presidência da Casa. O posto que Vargas assume hoje coloca ainda em suas mãos a substituição imediata de Renan Calheiros (PMDB-AL) no comando do Congresso.

O também empresário Fábio Faria (PSD-RN) foi indicado pelo partido de Gilberto Kassab para a segunda-vice-presidência. A pasta deve perder a função de corregedoria da Casa — ficaria apenas com o controle de ressarcimento de despesas médicas. Ele enfrentará os também pessedistas Átila Lins (AM) e Júlio César (PI), que resolveram lançar-se como candidatos avulsos.

A vaga que o PSD queria mesmo ocupar era a primeira-secretaria, cujo comandante é responsável por toda a área administrativa da Casa, desde contratações até compras e contratos. O posto acabou permanecendo com o PSDB e o tucano indicado para exercê-lo foi Márcio Bittar (AC) — integrante da bancada ruralista. O acriano assume uma das cadeiras mais desejadas da mesa, já de olho nas eleições de 2014, quando pretende se candidatar pela segunda vez a governador.

Currículos à prova Com a prerrogativa de providenciar passaporte diplomático e visto para os colegas deputados, a vaga de segundo-secretário da mesa não será definida com tanta facilidade. O nome indicado pelo PP é Simão Sessim (RJ), mas Waldir Maranhão (PP-MA) e Vilson Covatti (PP-RS) também resolveram entrar na disputa. A principal resistência ao nome de Sessim é baseada em sua biografia. O deputado é também conhecido pelos laços sanguíneos — ele é primo do contraventor Anísio Abraão David, considerado um dos chefões do jogo do bicho no Rio.

Os ocupantes das últimas duas vagas de titulares da mesa não são amplamente conhecidos na Casa. Maurício Quintella Lessa (PR-AL), que ficará com a terceira-secretaria, ganhará de brinde a Corregedoria, retirada da segunda-vice-presidência, mas ainda deve explicações à Justiça. Ele é um dos citados na ação civil pública do Ministério Público de Alagoas que investiga desvio de R$ 52 milhões de verbas federais destinados à educação.

O professor Carlos Biffi (PT-MS) ficará com a quarta-secretaria, cujo ocupante é responsável por cuidar da distribuição dos apartamentos funcionais entre os parlamentares. O MP do estado acusa Biffi de supostamente receber pagamentos mensais vindos do desvio de R$ 30 milhões dos gastos com publicidade de Mato Grosso do Sul feito pelo ex-governador Zeca do PT. A assessoria do parlamentar garante que ele não tem qualquer envolvimento com o caso e que seu nome nem sequer foi citado nas investigações.

Assim que o novo presidente da Câmara dos Deputados for eleito, no entanto, mais dois postos, fora da Mesa Diretora, serão definidos. Caberá ao chefe da Casa escolher os novos ouvidor e procurador. O primeiro cargo foi oferecido a Átila Lins, mas a insistência dele em disputa a segunda-vice-presidência pode jogar a posição no colo de outro parlamentar. Na procuradoria, o atual ocupante Nelson Marquezelli (PTB-SP) tenta negociar a permanência na cadeira.