O globo, n. 31756, 17/07/2020. País, p. 7
Fabrício Queiroz depõe ao MP após 19 meses da primeira convocação
Bela Megale
Chico Otavio
Juliana Dal Piva
17/07/2020
Ex-assessor de Flávio Bolsonaro na Alerj permaneceu em silêncio: sua mulher, Márcia. também preferiu não falar
Depois de 19 meses da primeira convocação pelo Ministério Público do Rio (MP-RJ), o subtenente da PM do Rio Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio (Re publicanos-RJ ), prestou na quarta-feira seu primeiro depoimento na investigação que apura o esquema de “rachadinha” no antigo gabinete de Fláviona Assembleia Rio( Alerj ). Queiroz, em prisão domiciliar, foi ouvido por videoconferência pelos promotores do Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (Gaecc). No entanto, preferiu ficar em silêncio. O ex-assessor é suspeito de ser o operador do esquema de recolhimento de parte dos salários dos funcionários do gabinete em favor de Flávio.
A mulher de Queiroz, Márcia Aguiar, também foi convocada para depor e permaneceu calada. A primeira vez que Márcia foi convocada pelo MP para prestar esclarecimentos no caso da “rachadinha” foi há 19 meses, como o marido.
Procurado, o advogado Paulo Emílio Catta Preta, que defende Queiroz, disse por nota que “não pode comentar nada sobre depoimento sigiloso”. O MP informou que “as investigações continuam sob sigilo, razão pela qual não é possível fornecer informações”.
Foi o primeiro depoimento de Queiroz nocas o desde oinício das investigações, em julho de 2018. O MP notificou o PM aprestar esclarecimentos, pela primeira vez, em 29 de novembro de 2018. Ada tapara comparecimento seria 4 de dezembro de 2018. Desde então, ele começou a pedir o adiamento do depoimento por meio de advogados. Nesse estágio da investigação, ele não é obrigado a comparecer.
Ainda sem ter prestado um depoimento, Queiroz se manifestou por escrito na investigação. Em fevereiro do ano passado, su ad efes a à época entregou uma petição na qual o PM admitia ficar com parte dos salários de alguns assessores, coma justificativa de que isso servi apa raque outros funcionários fossem contratados fora do gabinete, sem registro na Alerj, o que é considerado ilegal pela Casa. Na ocasião, Queiroz disse que forneceria uma lista com os nomes dos assessores contratados dessa maneira, o que não ocorreu.
Depois, não atendeu mais às convocações do MP para depoimento. Em 2019, Queiroz internou-se no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, para se tratar de um câncer. Ele não foi mais visto publicamente no Rio até o último dia 18 de junho, quando a polícia cumpriu ordem de prisão preventiva expedida pela Justiça do Rio. Queiroz estava na casa do advogado Frederick Wassef, em Atibaia, interior paulista. Wassef atuava até o mês passado na defesa de Flávio.
A investigação teve origem em um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que apontou movimentações atípicas de assessores de vários parlamentares da Alerj, entre eles Queiroz. Nas investigações, o MP-RJ conseguiu identificar que Queiroz recebeu R$ 2 milhões em 483 depósitos de assessores de Flávio. Ainda encontrou imagens de Queiroz pagando, em dinheiro vivo, despesas pessoais do senador, como amensalidade das escolas das filhas.
No último dia 7, o senador prestou seu primeiro depoimentona investigação, de Brasília, também por videoconferência. No mês passado, o Tribunal de Justiçado Rio concedeu foro privilegiado a Flávio, tirando o caso da 1ª instância da Justiça do Rio. A investigação do MP do Rio corre agora sob supervisão do Órgão Especial do TJ, com relatoria do desembargador Milton Fernandes de Souza.
AGENDA COM ‘ENSAIO’
Durante busca e apreensão em dezembro 2019, o MP-RJ apreendeu uma agenda em que Márcia fez uma espécie de ensaio do depoimento que prestaria aos promotores que investigam o caso da “rachadinha”. Ela listou as funções de um assessor parlamentar.
Márcia enumerou pontos, como se fosse uma ordem de argumentos. Anotado como número “1” está “fazer ponte entre a população e o político” e, em seguida, escreveu: “Nosso deputado nem sempre podia estar com seus eleitores por diversos compromissos. E aí que nós acessores (sic) fazemos essa parte entre eleitor e deputado”. Já no “2”, escreveu que “éramos escolhidos para representar o deputado em eventos importantes as quais (sic) ele não podia comparecer, anotando as demandas da população e dando feedback aos cidadãos (por exemplo)”. Depois, no “3”, escreveu: “Eu realizava pesquisas diversas que tenham( sic) como objetivo identificar as demandas dos cidadãos e constatar quais ações o político deve tomar para trazer benefício a( sic) população ”. A mulher de Queiroz, no entanto, ficou em silêncio no depoimento.