Título: Bombardeios no refúgio dos radicais
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Fonte: Correio Braziliense, 04/02/2013, Mundo, p. 13

Alvo das tropas francesas eram locais de treinamento de extremistas islâmicos. Em resposta, talibãs conclamaram a união dos muçulmanos contra "guerra ideológica"

Poucas horas depois de o presidente François Hollande anunciar no Mali que a França ainda “não terminou a sua missão” no país africano, o exército bombardeou intensamente a região de Tessalit, perto da fronteira com a Argélia. De acordo com o porta-voz do Estado-Maior das Forças Armadas francesas, coronel Thierry Burkhard, o alvo da ação eram depósitos logísticos e centros de treinamento de grupos extremistas ligados à Al-Qaeda.

Bastante montanhosa, a área bombardeada na madrugada de ontem pelo exército francês é cheia de grutas, onde, segundo autoridades de segurança local, boa parte dos chefes e de combatentes dos grupos radicais se refugia. No local, sete franceses estariam sendo mantidos como reféns pelos “terroristas”, de acordo com Hollande. Durante a visita relâmpago à ex-colônia, o presidente falou sobre a situação vivida pelos seus compatriotas. Pediu que eles sejam liberados sem negociação e avisou que as tropas estão muito perto de onde os radicais estão escondidos. Até o fechamento desta edição, não havia informação sobre a liberação de reféns.

Como reação aos bombardeios, um vídeo divulgado ontem por talibãs do Paquistão conclamou o “mundo muçulmano” a se unir contra a ação das tropas europeias no Mali. “O governo francês atacou os mujahedines no Mali, e os Estados Unidos apoiam a França. Peço a todo o mundo muçulmano que se una porque essa é uma guerra ideológica”, afirmou Ehsanullah Ehsan, porta-voz dos talibãs do Paquistão. Os Estados Unidos reforçaram ontem o apoio à França, que recebe dos americanos informações e aviões de abastecimento na investida no Mali.

A intervenção militar no norte do país africano teve início em 11 de janeiro e envolveu 3,7 mil soldados franceses. As tropas francomalinesas retomaram várias cidades que estavam em poder dos radicais, como Gao e Timbuktu. A situação, no entanto, é mais complexa no extremo norte do país, principalmente em torno de Kidal, que foi por muito tempo reduto do Ansar Dine (Defensores do Islã), um dos grupos armados que intensificaram as violações dos direitos humanos no norte malinense. Antes da chegada das tropas, a cidade passou a ser controlada pelo Movimento Islâmico de Azawad, grupo dissidente da Ansar Dine, e pelo Movimento Nacional pela Libertação de Azawad. Ambos os grupos asseguraram que apoiarão a ação da França desde que não sejam praticados abusos contra os seus combatentes.