Correio braziliense, n. 20902, 15/08/2020. Economia, p. 7

 

Menos imposto para o leite

Israel Medeiros 

15/08/2020

 

 

É preciso diminuir ou dar isenção de tributos para que a cadeia de produção de leite seja mais competitiva. É o que defende Geraldo Borges, presidente da Associação de Produtores de Leite (Abraleite). Em entrevista ao CB.Agro — uma parceria do Correio com a TV Brasília —, ele disse acreditar que o ministro da Economia, Paulo Guedes, está atento às preocupações do setor e que é possível evoluir nas conversas em torno da reforma tributária.

Na última semana, Guedes participou de uma live sobre o setor leiteiro ao lado da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, organizada pela Frente Parlamentar Agropecuária (FPA). Na ocasião, o ministro ressaltou que a reforma simplificará os pagamentos de impostos. Para Borges, o fato de Guedes ter participado do evento é positivo.

"Paulo Guedes realmente está entendendo. A participação dele demonstra interesse em nos ouvir. Nós esperamos que sejam implementadas ações, por exemplo, na importação de equipamentos de produção que não temos no país. Queremos que esses produtos sejam isentos ou tenham diminuição de tributos para tornar a cadeia mais competitiva. Às vezes, o produtor paga até 40% de imposto, fora a manutenção. Isso dificulta o investimento", desabafou.

Para o presidente da Abraleite, Guedes tem se mostrado maleável, o que deve possibilitar avanço nas conversas com o governo sobre impostos. "Há uma preocupação do setor produtivo como um todo, esperando-se que essa reforma não traga mais problemas. O setor agropecuário precisa ser elogiado, por trazer resultados maravilhosos para o país. É um setor que cresceu durante a pandemia, a maioria dos setores alimentícios teve ganhos nesse período. E o leite precisa entrar nessa agenda positiva", defendeu.

Consumo
Borges destacou que o país é o terceiro maior produtor mundial de leite. Ele acredita que é preciso ampliar o consumo do produto no país, que ainda é baixo, comparado ao de outras nações. "Nosso consumo per capita é em torno de 170 litros por ano, considerando todos os produtos lácteos como litros de leite. É muito abaixo de países europeus, que chegam a 300 ou 360 litros anuais. Podemos expandir esse consumo nacional, mas isso depende de alguns fatores. Um deles é o econômico."

Ele afirmou que há esperança do setor de que a economia nacional voltará a crescer em breve. "Isso ajuda a demanda, certamente. A produção está sendo muito bem trabalhada e organizada para que o Brasil também seja um grande exportador. São ações para melhorar nossa competitividade. Para isso, precisamos diminuir os custos de produção, industrialização e transporte", disse.

 Problemas
Geraldo Borges afirmou, ainda, que um dos principais problemas do setor durante a pandemia foi o fato de que muitas pessoas fizeram estoques de alimentos, temendo desabastecimento. "Tivemos dificuldades pontuais em bacias leiteiras de algumas regiões. Normalmente, foram pequenos laticínios e cooperativas, que, por sua vez, compram de produtores pequenos — que tiveram dificuldades em escoar a produção. A Abraleite, com outras instituições e o Ministério da Agricultura, trabalhou para sanar esses problemas em março e abril. Conseguimos equilibrar a distribuição do leite entre indústrias de maneira segura. Não houve desperdício nem desabastecimento", comemorou.

Uma solução adotada para evitar desperdícios, explicou Borges, foram os acordos para distribuição do leite a famílias carentes. Outra preocupação do setor é com a qualidade e segurança dos alimentos. Ao comentar sobre as amostras de frango supostamente contaminadas por covid-19 na China, ele afirmou que, no setor leiteiro, a segurança foi uma preocupação central desde o início da pandemia.

"Desde o início, nossas instituições orientaram os produtores e não tivemos problemas com contaminação nem nas propriedades, nem nas agroindústrias produtoras. Nós temos reuniões todos os sábados com o Ministério da Agricultura, das quais as principais instituições do setor participam. Essas reuniões foram muito importantes para discutirmos a implantação de normas de segurança, seguindo o que os órgãos públicos recomendaram para os alimentos", completou.

*Estagiários sob a supervisão de Odail Figueiredo

"Às vezes, o produtor paga até 40% de imposto, fora a manutenção. Isso dificulta o investimento"

Geraldo Borges,
presidente da Associação de Produtores de Leite