Título: Tucanos na conta do PMDB
Autor: Correia, Karla; Braga, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 02/02/2013, Política, p. 3
Aliados de Renan somam pelo menos seis votos do PSDB no novo presidente do Senado
Apesar do discurso público de apoio ao senador Pedro Taques (PDT-MT) na disputa pela presidência do Senado, a maior parte da bancada do PSDB votou em Renan Calheiros (PMDB-AL), eleito ontem para o comando da Mesa Diretora da Casa. Na contabilidade dos articuladores da candidatura de Renan, ao menos seis tucanos votaram no peemedebista. Outros quatro teriam mantido o apoio a Taques.
O episódio de “traição” a Taques entrou na negociação do posto de primeiro-secretário da Mesa Diretora, cargo que ficou com o tucano Flexa Ribeiro (PA). Apoiadores declarados de Renan no início da campanha, os tucanos recuaram à medida que se intensificaram as denúncias contra o peemedebista veiculadas na imprensa.
A bancada do partido chegou a negociar com Renan a encenação do apoio a Taques. “Eles queriam votar em Renan, mas aparecer nas câmeras como rebelados”, disse um aliado do peemedebista. “Recusamos. Ou nos apoiam inclusive no discurso, ou nada feito”, disse. No fim da tarde de quinta-feira, a bancada tucana pagou para ver e anunciou o voto no senador do PDT.
Foi a vez de os aliados de Renan recuarem e aceitarem a proposta inicial dos tucanos. “Não vamos tensionar neste momento. Não precisamos de mais inimigos”, aconselhou um cacique peemedebista, indicando o acordo com o PSDB. Garantidos os votos a Renan, Flexa Ribeiro foi conduzido sem sobressaltos à primeira-secretaria da Casa.
Contas Após a apuração, o líder do PT no Senado, Wellington Dias fez questão de destacar o placar folgado. “Acho que inclusive parlamentares do bloco de partidos que declararam apoio ao senador Pedro Taques respeitaram a regra da proporcionalidade e votaram no senador Renan Calheiros”, alfinetou.
O senador Álvaro Dias não gostou das declarações dos colegas petistas, que davam como certa a traição tucana ao bloco alternativo. “Eles contam com muita coisa, eles podem contar, eles são maioria esmagadora. Agora, até adivinhar o voto já há uma diferença enorme. Isso aqui não é uma sessão espírita”, rebateu.
Nem o Planalto esperava uma diferença tão grande de votos. Nas contas feitas nos gabinetes palacianos, estavam contabilizadas algumas traições, que não ocorreram. Uma delas, por exemplo, foi a do senador Paulo Paim — os articuladores do governo garantem que o senador gaúcho votou em Renan Calheiros. O placar deu certeza ao governo de que não houve traições.
A maior preocupação da presidente Dilma Rousseff e seus auxiliares era de que Eunício Oliveira lançasse candidatura, nome mais forte do que de Pedro Taques, que, além de atrair mais votos da oposição, poderia rachar o PMDB e criar uma situação desconfortável. Eunício desistiu da ideia e Dilma se viu livre da possibilidade de um presidente do Senado eleito com o voto da oposição e, portanto, comprometido com ela.
"Acho que inclusive parlamentares do bloco de partidos que declararam apoio ao senador Pedro Taques respeitaram regra da proporcionalidade e votaram no senador Renan Calheiros” Wellington Dias (PI), líder do PT no Senado