Título: Dados desatualizados dificultam ação
Autor: Mader, Helena; Mariz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 02/02/2013, Brasil, p. 8

Nem as grandes tragédias nem os pequenos, numerosos e potencialmente fatais incêndios registrados no dia a dia ensinaram ao Brasil a importância das estatísticas. Com sistemas de informação pulverizados e não padronizados, o país não pode mensurar a realidade com que está lidando. Os últimos dados da área de Segurança Pública do Ministério da Justiça são subnotificados, não trazem o detalhamento necessário para traçar uma radiografia do problema e estão defasados em cinco anos. Deficiência que impacta diretamente no planejamento preventivo.

“Não existem estatísticas nacionais em quantidade nem com qualidade suficiente para fundamentar políticas públicas”, afirma a pesquisadora da área de segurança contra incêndios e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), Rosaria Ono. “As informações que existem ainda são muito superficiais. Não mostra, por exemplo, o número de mortos e feridos por tipo de ocorrência”, complementa.

As últimas informações disponibilizadas pelo Ministério da Justiça mostram que, em 2007, foram registrados 144.232 incêndios. Naquele ano, segundo as estatísticas oficiais, as ocorrências em residências representaram 15,4% do total de notificações. Chamas em veículos ficaram em segundo lugar, com 9%. Pesquisadores que participam do projeto Brasil sem Chamas, no entanto, alertam para o subdimensionamento do problema, já que apenas 14% das cidades brasileiras contam com Corpo de Bombeiros. Outra razão dos índices incertos, segundo estudo do Brasil sem Chamas, está no fato de que os bombeiros não são acionados para um número significativo de incêndios, que acabam sendo combatidos por brigadas ou pessoas no local da ocorrência, por exemplo.

“A falta de estatísticas nacionais atrapalha em vários aspectos. O Brasil não tem a noção de onde precisa investir. Com os números reais, seria possível dimensionar melhor o efetivo dos bombeiros, direcionar cursos de capacitação para aquelas ocorrências mais frequentes e orientar a aquisição dos equipamentos e viaturas necessários”, pontuou o comandante-geral do Corpo de Bombeiros de Pernambuco e presidente da Liga Nacional dos Corpos de Bombeiros, Carlos Eduardo Casa Nova. O Correio procurou o Ministério da Justiça para questionar a desatualização dos dados, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.