Título: Suspeitos têm prisão prorrogada
Autor: Mader, Helena; Mariz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 02/02/2013, Brasil, p. 8

Sócios da Kiss e dois integrantes da banda responsável pelos fogos de artifício que resultaram no incêndio ficarão sob custódia por 30 dias

A Justiça determinou a prorrogação, por 30 dias, da prisão temporária de quatro pessoas envolvidas no incêndio da boate Kiss, no último domingo, em Santa Maria (RS), que resultou em 236 mortes. De acordo com o delegado Marcelo Arigony, da Polícia Civil do município gaúcho, a preocupação era que, se os investigados fossem soltos, pudessem atrapalhar a coleta de provas, novos depoimentos ou mesmo tentar fugir.

Permanecerão na Penitenciária Estadual de Santa Maria um dos proprietários da casa noturna, Mauro Hoffman, e dois integrantes da banda Gurizada Farroupilha, que se apresentava no momento da tragédia — o cantor Marcelo de Jesus dos Santos e o produtor Luciano Augusto Bonilha Leão. Elissandro Callegaro Spohr, o Kiko, sócio da boate que também teve a prisão temporária prorrogada, continuará internado na Hospital Santa Lúcia, em Cruz Alta (RS), sob custódia da polícia.

Segundo os promotores Joel Oliveira Dutra e Waleska Flores Agostini, uma série de elementos demonstram que a casa noturna não oferecia segurança para os frequentadores, como superlotação, extintores de incêndio inoperantes, ausência de luzes e saídas de emergência e o despreparo da equipe, que teria bloqueado a saída durante o incêndio. Para o MP, tais fatores indicam “a ocorrência de dolo eventual nas condutas dos representados Mauro e Elissandro”, ou seja, os donos da boate assumiram o risco ao qual expuseram seus clientes.

“Da mesma forma”, segue a manifestação do MP, “os representados Marcelo e Luciano, integrantes da Banda Gurizada Fandangueira, com suas condutas, teriam concorrido para a prática do ilícito”. O produtor teria comprado de forma consciente material pirotécnico impróprio para ambientes fechados, e o vocalista, além de ter incendiado o material de revestimento acústico, “estando com o microfone na mão, não foi capaz de alertar as pessoas acerca da existência de fogo no ambiente”, continua o MP.

O delegado Sandro Meinerz, da Polícia Civil, anunciou ontem que parte dos envolvidos podem ser indiciados por homicídio qualificado por asfixia. Mais pessoas podem ser indiciadas como responsáveis pelo incêndio, inclusive agentes públicos que teriam falhado em fiscalizar o estabelecimento. Um novo inquérito civil foi aberto para investigar essa hipótese. O delegado disse que a polícia recebeu do Corpo de Bombeiros o Plano de Prevenção Contra Incêndio da boate, mas o documento não está assinado por nenhum responsável técnico — e, mesmo assim, foi aprovado. Um novo inquérito civil foi aberto para apurar se houve falhas de fiscalização. Os bombeiros alegam que uma reforma foi feita na boate após a última inspeção, na qual foi instalada a espuma de revestimento acústico.