O globo, n. 31761, 22/07/2020. Economia, p. 27

 

Reforma avança

Manoel Ventura

Geralda Doca

Ramona Ordoñez

22/07/2020

 

 

Governo envia proposta, mas setor de serviços teme alta da carga tributária

 

De­ba­te. Maia, Al­co­lum­bre e Gu­e­des após a en­tre­ga do tex­to: pro­pos­ta do governo se­rá dis­cu­ti­da em co­mis­são jun­to com tex­tos que tra­mi­tam no Con­gres­so

 Com me­ses de atra­so e após pres­são de par­la­men­ta­res e em­pre­sá­ri­os, o ministro da Economia, Pau­lo Gu­e­des, en­vi­ou on­tem ao Con­gres­so a pri­mei­ra eta­pa de sua reforma tri­bu­tá­ria, que uni­fi­ca dois im­pos­tos fe­de­rais: PIS e Co­fins. A ola do­do secretário da Re­cei­ta, José Tos­tes, Gu­e­des foi pes­so­al­men­te ao Con­gres­so entre­ga­ra pro­pos­ta aosp re­si­den­tes do Se­na­do, Da­vi Al­co lum­bre( DE M-AP),edaCâ ma­ra, Ro­dri­go Maia (DEM-RJ). A ação é vis­ta co­mo um gesto político pa­ra fa­zer a reforma avan­çar. Gu­e­des dei­xou de fo­ra im­pos­tos es­ta­du­ais, co­mo o ICMS, e mu­ni­ci­pais, co­mo o ISS, e dei­xou pa­ra o Con­gres­so a decisão so­bre in­cluir os tri­bu­tos em uma úni­ca alí­quo­ta.

Com me­ses de atra­so e após pres­são de par­la­men­ta­res e em­pre­sá­ri­os, o ministro da Economia, Pau­lo Gu­e­des, en­vi­ou on­tem ao Con­gres­so a pri­mei­ra eta­pa de sua reforma tri­bu­tá­ria, que uni­fi­ca dois im­pos­tos fe­de­rais: PIS e Co­fins. A ola do­do secretário da Re­cei­ta, José Tos­tes, Gu­e­des foi pes­so­al­men­te ao Con­gres­so entre­ga­r a pro­pos­ta aosp re­si­den­tes do Se­na­do, Da­vi Al­co lum­bre( DE M-AP),edaCâ ma­ra, Ro­dri­go Maia (DEM-RJ). A ação é vis­ta co­mo um gesto político pa­ra fa­zer a reforma avan­çar. Gu­e­des dei­xou de fo­ra im­pos­tos es­ta­du­ais, co­mo o ICMS, e mu­ni­ci­pais, co­mo o ISS, e dei­xou pa­ra o Con­gres­so a decisão so­bre in­cluir os tribu­tos em uma úni­ca alí­quo­ta.

O ema­ra­nha­do de im­pos­tos no­país­re pre­sen­ta en­tra­ve an­ti­go no­paísàat ra­ção de in­ves­ti­men­tos e faz par te­do cha­ma­do cus­to Brasil. A pro pos­ta­do governo, porém, é mais tí­mi­da do que os dois tex­tos que já tra­mi­tam no Con­gres­so. Ela se­rá in­cluí­da na dis­cus­são des­sas pro­pos­tas, que che­gam a me­xer com im­pos­tos que re­pre­sen­tam 12% do Pro­du­to In­ter­no Bru­to — en­quan­to o tex­to do governo abran­ge o equi­va­len­te a 4% do PIB.

RE­GI­ME DE UR­GÊN­CIA

Mes­mo que se­ja mais mo­des­ta, is­so não sig­ni­fi­ca que já exista con­sen­so em tor­no da pro­pos­ta. O governo afir­ma que a mudança não ele­va a car­ga tri­bu­tá­ria do país, hoje na fai­xa de 34% do PIB. Mas, pa­ra o se­tor de ser­vi­ços — res­pon­sá­vel por 70% do PIB e um dos mais afe­ta­dos pe­la pan­de­mia —a uni­fi­ca­ção de PIS e Co­fins po­de re­sul­tar em um per­cen­tu­al ain­da mai­or de im­pos­tos que o atu­al. A pro­pos­ta do governo pre­vê alí­quo­ta úni­ca de 12% na cha­ma­da Con­tri­bui­ção so­bre Bens e Ser­vi­ços (CBS), co­mo an­te­ci­pou O GLO­BO na se­ma­na pas­sa­da.

A reforma es­tá sen­do ava­li­a­da por uma co­mis­são mis­ta, que reú­ne de­pu­ta­dos e se­na­do­res. De­pois, te­rá que ser vo­ta­da pe­los ple­ná­ri­os da Câ­ma­ra e do Se­na­do. Nu­ma ten­ta­ti­va de ga­ran­tir que o tex­to se­ja dis­cu­ti­do ain­da es­te ano, uma men­sa­gem pu­bli­ca­da no Diá­rio Ofi­ci­al da União so­li­ci­tou que se­ja atri­buí­do o re­gi­me de ur­gên­cia pa­ra a pro­pos­ta.

Al­co­lum­bre dis­se que o dia de on­tem foi his­tó­ri­co e de­fen­deu a co­mis­são mis­ta:

— Hoje da­mos mais um pas­so sig­ni­fi­ca­ti­vo no ru­mo de fa­zer­mos a so­nha­da reforma tri­bu­tá­ria bra­si­lei­ra.

Hoje um ema­ra­nha­do de le­gis­la­ções, por­ta­ri­as, re­so­lu­ções, com­pli­ca a vi­da dos in­ves­ti­do­res, atra­pa­lha o am­bi­en­te bra­si­lei­ro.

Maia pe­diu pa­ra que os crí­ti­cos com­pre­en­dam o re­al ob­je­ti­vo da pro­pos­ta:

—O im­por­tan­te é que a gente pos­sa avan­çar nu­ma reforma tri­bu­tá­ria que aju­de e dê se­gu­ran­ça ju­rí­di­ca pa­ra o se­tor pro­du­ti­vo investir no Brasil e ge­rar em­pre­go e ren­da.

Já Gu­e­des afir­mou que ca­be à po­lí­ti­ca di­tar o rit­mo das re­for­mas. Ci­tou ou­tras me­di­das em tra­mi­ta­ção no Con­gres­so, co­mo mudanças no se­tor elé­tri­co e de petróleo. Dis­se que a reforma po­de ter atra­sa­do por “cir­cuns­tân­ci­as po­lí­ti­cas”. E de­fen­deu a decisão do governo de tra­tar ape­nas de im­pos­tos fe­de­rais.

—Em res­pei­to à Fe­de­ra­ção e ao Con­gres­so, não ca­be ao ministro da Fa­zen­da le­gis­lar so­bre os en­tes fe­de­ra­ti­vos. Não pos­so in­va­dir o ter­ri­tó­rio dos pre­fei­tos e gover­na­do­res. Man­da­mos pro­pos­tas que po­dem ser tra­ba­lha­das e aco­pla­das. Man­da­re­mos Im­pos­to de Ren­da, di­vi­den­dos, IPI. To­dos os im­pos­tos se­rão abordados.

A re­for­ma­do PIS/ Co fins so­fre­crí­ti­cas prin­ci­pal­men­te por par­te de em­pre­sas de ser­vi­ços. Pe­lo projeto do governo, to­das as em­pre­sas pas­sa­ri­am a ser tri­bu­ta­das pe­lo sis­te­ma não cu­mu­la­ti­vo, que pre­vê cré­di­tos nas com­pras de in­su­mos. Ao con­trá­rio da in­dús­tria, o seg­men­to de ser­vi­ços com­pra pou­cos in­su­mos eé in­ten­si­vo em mão de obra, por is­so, teme ser pre­ju­di­ca­do.

Per­gun­ta­do so­bre o im­pac­to pa­ra o se­tor de ser­vi­ços, Tos­tes afir­mou que o tri­bu­to pro­pos­to pe­lo governo in­ci­de so­bre o con­su­mi­dor fi­nal. Ele re­co­nhe­ceu, por outro la­do, que há rei­vin­di­ca­ções do seg­men­to de ser­vi­ços e que a equi­pe econô­mi­ca es­tá abrin­do diá­lo­go com to­dos os se­to­res:

— Exis­te rei­vin­di­ca­ção mui­to for­te pa­ra que se vi­a­bi­li­ze a de­so­ne­ra­ção da fo­lha. En­tão, um dos pon­tos que apre­sen­ta­mos vai ao en­con­tro da rei­vin­di­ca­ção do setor de ser­vi­ços.

De­pois que o pre­si­den­te Jair Bol­so­na­ro ve­tou a pror­ro­ga­ção da de­so­ne­ra­ção da fo­lha por um ano pa­ra os 17 se­to­res que são os mai­o­res em­pre­ga­do­res, o governo tem ace­na­do com a hi­pó­te­se de uma de­so­ne­ra­ção ge­ral, que vi­ria a re­bo­que da reforma tri­bu­tá­ria. Pa­ra vi­a­bi­li­zar is­so, po­rém, afir­ma que se­rá ne­ces­sá­rio cri­ar no­vo im­pos­to so­bre tran­sa­ções ele­trô­ni­cas, que não faz par­te do projeto en­tre­gue ao Con­gres­so. Ele se­ria in­cluí­do em eta­pa pos­te­ri­or. Na ava­li­a­ção de entida­des dos se­to­res afe­ta­dos, o país cor­re o ris­co de per­der até um mi­lhão de em­pre­gos sem a de­so­ne­ra­ção.

Pa­ra Car­los Tha­deu de Frei­tas, chefe da Di­vi­são Econô­mi­ca da Con­fe­de­ra­ção Na­ci­o­nal do Co­mér­cio, foi im­por­tan­te o en­vio da pro­pos­ta, mas é pre­ci­so dis­cu­tir o im­pac­to pa­ra o se­tor:

—Ao lon­go des­ta se­ma­na e da pró­xi­ma, va­mos ter con­ver­sas com o ministro pa­ra ver se tem al­ter­na­ti­va me­lhor pa­ra o se­tor de ser­vi­ços.

IM­PAC­TO PA­RA CON­SU­MI­DOR

Se­gun­do es­pe­ci­a­lis­tas, vá­ri­os sub­se­to­res de ser­vi­ços pa­gam o equi­va­len­te a 3,65% da re­cei­ta bru­ta de PIS e Co fins. Co­ma mudança, o per­cen­tu­al su­bi­ria pa­ra 12%. O ar­gu­men­to é que a me­di­da pro­pos­ta pe­lo governo faz sen­ti­do pa­ra a in­dús­tria, por­que o se­tor re­co­lhe os dois tri­bu­tos de uma ma­nei­ra que ga­ran­te créditos em ca­da eta­pa de pro­du­ção, o que não acon­te­ce pa­ra o se­tor de ser­vi­ços, que tem na mão de obra seu prin­ci­pal cus­to.

—Se­ma de­so­ne­ra­ção da fo­lha pa­ra com­pen­sar, a pro­pos­ta te­rá efei­to ime­di­a­tos obre os em­pre­gos do se­tor de ser­vi­ços — dis­se o es­pe­ci­a­lis­ta Emer­son Ca­sa­li, di­re­tor da CBPI Pro­du­ti­vi­da­de Ins­ti­tu­ci­o­nal.

Pa­ra Mar­cos Fer­ra­ri, pre­si­den­te exe­cu­ti­vo do Sin­di­te­le­bra­sil, a pro­pos­ta po­de re­pre­sen­tar au­men­to de dois pon­tos per­cen­tu­ais pa­ra o se­tor, o que pre­ju­di­ca­ria o con­su­mi­dor e a ex­pan­são dos ser­vi­ços. O pre­si­den­te da Fe­de­ra­ção Na­ci­o­nal das Es­co­las (Fe­nep), Ademar Ba­tis­ta Pe­rei­ra, dis­se que a me­di­da che­ga em momento ruim pa­ra o se­tor e po­de re­sul­tar em au­men­to de men­sa­li­da­des de até 10%.

O governo man­tém isenções, co­mo a dos pro­du­tos que com­põem aces­ta bá­si­ca. A as­ses­so­ra especial Va­nes­sa Ca­na­do dis­se­que o governo não de­sis­tiu de acabar co­ma de­so­ne­ra­ção des­ses pro­du­tos, mas fa­rá is­so jun­to com o no­vo pro­gra­ma de trans­fe­rên­cia de ren­da, o Ren­da Brasil.

“Hoje da­mos mais um pas­so sig­ni­fi­ca­ti­vo no ru­mo de fa­zer­mos a so­nha­da reforma tri­bu­tá­ria bra­si­lei­ra. Hoje um ema­ra­nha­do de le­gis­la­ções com­pli­ca a vi­da do investidor” 

Da­vi Al­co­lum­bre, pre­si­den­te do Se­na­do