O globo, n. 31760, 21/07/2020. Rio, p. 13
Witzel, agora, quer “paz e amor” com a família Bolsonaro
21/07/2020
Governador diz que reuniu deputados do PSC para ajudar o presidente e faz elogios ao senador Flávio: “Fomos eleitos juntos'
Vamos ajudar o presidente”; “a política é feita de ajustes”. As duas declarações, somadas a elogios ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos), deram o tom, ontem, de uma entrevista do governador Wilson Witzel (PSC) à Rádio Tupi. Alvo de um processo de impeachment na Assembleia Legislativa e de investigações da Polícia Federal, ele passou a apostar num tom conciliatório, afirmando que “o momento é de união”.
Witzel, que já trocou ofensas publicamente com o presidente Jair Bolsonaro — por quem foi chamado de “estrume” —, é investigado por conta do superfaturamento de contratos emergenciais para a construção de hospitais de campanha e compra de respiradores, entre outros equipamentos. Mas ele disse não estar preocupado com o inquérito, que se encontra no Supremo Tribunal de Justiça (STJ) devido ao seu foro privilegiado. No melhor estilo “paz e amor”, afirmou que suas atenções estão voltadas para um maior entendimento entre os governos estadual, federal e municipal.
Com esse objetivo, Witzel afirmou que teve uma reunião no mês passado com a bancada federal do partido, do qual é presidente de honra, e pediu aos deputados que ajudassem o Palácio do Planalto.
—Falei “vamos ajudar o presidente”. É um momento de união. Nós fomos eleitos juntos —disse Witzel, acrescentando: —O senador Flávio Bolsonaro caminhou comigo pelo Estado do Rio de Janeiro. Ajudou o Estado do Rio no fim do ano passado com aquele leilão da cessão onerosa (de blocos de exploração do pré-sal). Mais de um bilhão de reais vieram para o Rio. Eu solicitei aos nossos deputados federais que fizessem uma reunião com o presidente e colocassem o PSC à disposição para estar na base, apoiando as políticas do governo federal.
Deputados do PSC foram, de fato, recebidos pelo presidente no Palácio do Planalto, mas fontes ouvidas pelo GLOBO contaram que a ideia da reunião partiu da bancada, sem a interferência de Witzel.
O governador ainda minimizou as críticas de Jair Bolsonaro às medidas de isolamento social tomadas no Rio para o enfrentamento da pandemia do coronavírus. Segundo ele, o Palácio do Planalto adotou ações recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
—Nosso governo mantém um relacionamento institucional com a União e o município. Em nenhum momento houve uma quebra de diálogo. A gente pode ter uma diferença aqui, acolá. Mas quero dizer o seguinte: o governo federal adotou uma postura de acordo com a OMS. O presidente tem as críticas dele, que têm que ser respeitadas, mas adotou a postura de seguir orientações da OMS. Os governadores, também.
Em relação ao ex-secretário de Saúde Edmar Santos, preso sob a acusação de praticar irregularidades à frente da pasta, Witzel foi duro:
—Em nenhum momento nós imaginaríamos que ele pudesse fazer algo da natureza como estamos vendo ele ser acusado. Aquela dinheirama toda que apareceu (R$8 milhões apreendidos durante a operação que resultou na prisão de Edmar), que provavelmente estão dizendo que é dele, é algo assustador.
Na semana passada, Edmar teria negociado um acordo de delação premiada com a Procuradoria Geral da República.