Título: Combustível leva a deficit histórico
Autor: Dinardo, Ana Carolina; Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 02/02/2013, Economia, p. 13

Os combustíveis derrubaram a balança comercial brasileira de janeiro. As importações de todos os produtos superaram as exportações em US$ 4,03 bilhões, de acordo com dados divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Foi o maior deficit mensal no comércio exterior já registrado no país, bastante superior ao recorde anterior, de US$ 1,79 bilhão em dezembro de 1996. Em janeiro de 2012, a diferença entre o que entrou e o que saiu ficou negativa em US$ 1,3 bilhão.

As importações de combustíveis e lubrificantes do mês passado somaram US$ 4,07 bilhões. Ou seja, apenas ignorando esse quesito, o Brasil teria superavit. Além disso, porém, as exportações do produto despencaram, prejudicando a balança pelos dois lados. Em janeiro de 2012, a exportações desse item renderam US$ 1,55 bilhão. No mês passado, ficaram em US$ 474 milhões. A Petrobras importa e exporta petróleo de acordo com conveniência de uso de suas refinarias, que processam tipos específicos do produto.

Em janeiro do ano passado, o gasto com as compras externas de petróleo foram de US$ 2,62 bilhões. Segundo a secretária de Comércio Exterior do MDIC, Tatiana Prazeres, o aumento do mês passado se deve à contabilização de US$ 1,6 bilhão em combustíveis que a Petrobras trouxe para o país no terceiro trimestre do ano passado. A secretária explicou que o atraso no registro da compra se deveu a uma nova norma da Receita Federal, que passou a exigir a apresentação de documentos originais de importação para produtos a granel, categoria em que o petróleo predomina.

Há suspeitas no mercado, porém, de que a postergação no registro das compras externas teve por objetivo garantir números melhores para a balança comercial de 2012. Mesmo sem parte das importações de petróleo, o superavit da balança no ano passado foi de US$ 19 bilhões, o pior desde 2002. Indagada, em entrevista a jornalistas, se a mudança nas regras contábeis traz risco para a credibilidade dos números apresentados pelo governo, Tatiana negou. “O Brasil continua a adotar o mesmo padrão estatístico, de acordo com metodologia da ONU (Organização das Nações Unidas) para a contabilização das importações e exportações. Esse processo segue intocado. O que houve foi a uniformização de procedimentos de importação pela Receita”, explicou.

Contaminação De acordo com a secretária, mais US$ 2,9 bilhões na importação de combustíveis serão contabilizados em fevereiro e março. “Poderá haver deficit (na balança) nesses dois meses”, alertou. A partir daí, o estoque de importações da Petrobras no ano passado não contaminará mais os números. Tatiana chamou atenção, porém, para o fato de que mesmo sem o US$ 1,6 bilhão de combustíveis que entraram nas contas de janeiro, o mês já teria um deficit “expressivo”, e também seria um recorde. Um fator que atrapalha as exportações no início do ano, explicou, é a entressafra dos grãos: os embarques de soja não começaram ainda e os de outras culturas já terminaram.

Quanto ao resultado da balança neste ano, Tatiana disse que “a expectativa é de saldo positivo, mas não atribuiremos um número. As exportações devem manter o patamar elevado dos últimos dois anos”. Apesar dos números predominantemente negativos, o governo comemora o aumento de 1% nas vendas de produtos manufaturados em relação a janeiro de 2012.

As vendas de automóveis foram 52,6% maiores em valor e 33,3% superiores em quantidade, tendo como destinos principais Argentina, México, Colômbia e Venezuela. No caso dos semimanufaturados, a elevação foi ainda maior: 6,6%. Nessa categoria, destaca-se o açúcar, que rendeu 45,2% mais do que em janeiro do ano passado em valor, apesar da queda de 20,2% no preço — compensada pela alta de 81,9% da quantidade embarcada para Indonésia, Malásia, China e Rússia.