O globo, n. 31750, 11/07/2020. País, p. 12
Para ampliar base, Bolsonaro acena ao PSL
Paulo Cappelli
Naira Trindade
11/07/2020
Presidente deixou o partido no fim do ano passado em meio a um racha e, depois de ouvir conselhos,ligou para Luciano Bivar há duas semanas. Dirigente da sigla defende paz e diz que não guardou 'mágoa' da ruptura
Após o rompimento, em novembro de 2019, Jair Bolsonaro e o PSL, partido pelo qual foi eleito presidente, voltaram a estreitar laços. Um aceno da legenda com a retirada de Joice Hasselmann (SP) da liderança na Câmara deu início à reaproximação. Depois, o Planalto ofereceu cargos à sigla. Em seguida, aconselhado pelo deputado Arthur Lira (PP-AL), considerado um líder informal do governo, Bolsonaro ligou para o presidente do PSL, Luciano Bivar, há duas semanas. Foi a primeira vez que os dois se falaram desde a crise que levou à saída do presidente da legenda. No fim do ano passado, Bolsonaro disse a um apoiador que Bivar estava “queimado”.
O movimento acontece junto com a negociação feita pelo governo com os partidos do centrão. No lado do Planalto, o distensionamento foi costurado pelo senador Flávio Bolsonaro (RJ), que trocou o PSL pelo Republicanos quando houve a ruptura. Já no PSL, a reaproximação com o governo federal tem sido protagonizada pelo vice-presidente da legenda, Antonio Rueda, e pelo novo líder da bancada na Câmara, Felipe Francischini (PR). Procurado pelo GLOBO, o presidente do PSL, Luciano Bivar, disse não guardar ressentimentos da ruptura. —Não ficou mágoa. Questões nacionais se sobrepõem às pessoais. Óbvio que todos no partido queremos estar em paz com os Poderes. Seja com o presidente da República, seja com os presidentes do Legislativo e do Judiciário. O PSL é o mesmo desde a campanha (eleitoral). Não vejo distorção entre as nossas pautas e as do governo. O governo deu boas demonstrações em pautas tributárias e, assim como o partido, defende privatizações quando elas forem possíveis — disse Bivar, que evitou falar sobre a conversa com Bolsonaro. Antes de o presidente ser contaminado pelo coronavírus, aliados de Bivar articulavam um encontro presencial entre ambos para a semana que vem.
A oferta de cargos feita pelo Planalto ao PSL ocorreu em paralelo às conversas com o centrão. Foram oferecidos os comandos da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), da Eletrosul e do Banco da Amazônia. O objetivo do governo é que a metade da bancada que ficou ao lado de Bivar na disputa volte a apoiar as propostas do Planalto. Dirigentes do partido, contudo, afirmam que a oferta de cargos não foi aceita. A reaproximação, porém, continua por, na descrição de bivaristas, haver “afinidade de pautas”. O movimento político de buscar formar uma base aliada na Câmara começou quando Bolsonaro passou a temer um processo de impeachment. Outro objetivo era enfraquecer o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEMRJ). O movimento passou a contemplar também a disputa pela presidência da Câmara, cuja eleição será no começo do ano que vem —o governo busca evitar um nome que lhe seja hostil.
Bivar afirma que o PSL não deseja cargos e que “eventuais indicações pessoais de políticos do partido passam à margem da executiva nacional”. Outro dirigente do PSL disse que o apoio a Bolsonaro não será irrestrito e que a sigla não dará suporte a pautas que considerar “autoritárias”.
Aliados do presidente afirmam que Bolsonaro percebeu que “precisa de um time no Congresso”:
— A reabertura do diálogo com o governo federal é um mérito do (Felipe) Francischini, e é algo pelo qual sempre lutei. Fui contra a ruptura do partido com o presidente. Bivar e Bolsonaro nunca deveriam ter brigado. No nosso sistema político, não há como um presidente ser independente. Não tem jeito — afirma o deputado federal Luiz Lima (PSL-RJ). Francischini, em nota, afirmou que “a bancada defende, de forma independente, todas as pautas importantes ao desenvolvimento do Brasil”. “Nosso compromisso continua a ser exclusivamente com o povo brasileiro e independe de qualquer indicação no governo”, concluiu. Flávio Bolsonaro não retornou até o fechamento desta edição.
PSC NA MIRA
Além do PSL, o governo passou a procurar outro partido do qual o presidente tinha se afastado, o PSC. Bolsonaro chegou a ser filiado ao partido, mas saiu em 2017 após o presidente da sigla, Pastor Everaldo, não garantir que ele teria a vaga de candidato à Presidência.
Uma primeira reaproximação já tinha ocorrido no início da gestão, mas houve novo afastamento após Bolsonaro romper com o governador do Rio, Wilson Witzel, no ano passado. Como Witzel, alvo de um processo de impeachment, está enfraquecido na sua própria legenda, Bolsonaro buscou novamente o partido e chegou a receber, semanas atrás, a bancada de deputados federais da sigla. Segundo fontes que participam das conversas, as negociações com o PSC envolvem o controle de agências reguladoras. O líder do PSC na Câmara, André Ferreira (PE), nega que haja negociações de cargos.
Para ampliar base, Bolsonaro acena ao PSL