O globo, n. 31750, 11/07/2020. País, p. 12
Trocas fortalecem líder do governo e miram trégua
11/07/2020
Em mais um aceno ao Judiciário, Palácio do Planalto retirou de vice-lideranças na Câmara dois deputados investigados pelo STF
A troca de vice-líderes governistas na Câmara dos Deputados, oficializada na quinta-feira, fortaleceu o líder do governo na Casa, Vitor Hugo (PSLGO), e foi mais um gesto de trégua do Palácio do Planalto em direção ao Judiciário e ao Legislativo. Dos quatro nomes que passaram a compor a linha de frente da defesa dos interesses do governo na Câmara, três são alinhados a Vitor Hugo. Por outro lado, dos quatro deputados que deixaram os cargos, dois já fizeram críticas diretas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e são alvos dos inquéritos que tramitam na Corte e apuram a organização e o financiamento de atos antidemocráticos, além da disseminação de notícias falsas e ataques aos ministros do STF. Recém-nomeados, Diego Garcia (Podemos-PR), Aluísio Mendes (PSC-MG) e Carla Zambelli (PSL-SP) mantêm relação estreita com Vitor Hugo na Câmara. Já a indicação de Maurício Dziedricki (PTB-PR) agrada ao presidente do PTB, Roberto Jefferson, que tem se aproximado do governo do presidente Jair Bolsonaro.
O movimento para a substituição dos vice-líderes começou no início desta semana e, segundo integrantes do Palácio do Planalto, é parte da estratégia que busca distensionar a relação do Executivo com Judiciário e Legislativo. A nova linha de atuação também já contou com a participação de ministros, como André Mendonça (Justiça e Segurança Pública), que se reuniu no fim do mês passado com o ministro Alexandre de Moraes, do STF.
Um deputado que perdeu a vice-liderança foi Otoni de Paula (PSC-RJ), que publicou nas redes sociais um vídeo com ofensas a Moraes. Daniel Silveira (PSLRJ), que já foi alvo de busca e apreensão determinada pelo STF, também perdeu o posto. No Twitter, o parlamentar criticou o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, responsável pela articulação política, e disse que sua saída foi pedida pelo ministro para abrir espaço a um nome do centrão.
O governo justificou a saída dos deputados Carlos Henrique Gaguim (DEMTO) e José Rocha (PL-BA) com o argumento de que a função exige perfis mais empenhados em buscar votos na Câmara. A escolha dos quatro nomes passou pelos crivos de Bolsonaro, Vitor Hugo e Ramos.