O globo, n. 31750, 11/07/2020. Sociedade, p. 19
Pastor é nomeado para o MEC
Cleide Carvalho
Naira Trindade
Renata Mariz
Raphael Kapa
11/07/2020
Ex-vice-reitor da Mackenzie é o quarto ministro da atual gestão
O presidente Bolsonaro designou o professor e pastor Milton Ribeiro para o cargo de ministro da Educação. Ele será seu quarto titular da pasta. Com experiência em gestão no setor, Ribeiro foi vice-reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, onde se empenhou por causas sociais. A escolha foi vista como uma vitória do grupo evangélico próximo ao presidente. Ribeiro é presbiteriano. Ele assume o posto com o desafio de articular políticas educacionais com estados e municípios na pandemia.
O presidente Jair Bolsonaro escolheu o pastor da Igreja Presbiteriana Milton Ribeiro, de 62 anos, para assumir o Ministério da Educação (MEC). Ele é ligado à Universidade Mackenzie e tem doutorado em Educação registrado no currículo. Conforme revelou O GLOBO, Ribeiro é o "paulista" que passou a ser cotado nesta semana por indicação do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Jorge Oliveira, auxiliar de confiança de Bolsonaro. A nomeação, vista como um aceno ao grupo de evangélicos e à ala ideológica do governo, foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União. Ribeiro será o quarto ministrodo MEC em um ano e meio de governo Bolsonaro. Após Ricardo Vélez Rodríguez e Abraham Weintraub, o economista Carlos Alberto Decotelli teve uma passagem relâmpago à frente da pasta. Ele ficou menos de uma semana no comando do ministério e pediu demissão em 30 de junho, após a divulgação de informações falsas em seu currículo. Há mais de 20 dias sem titular, o MEC de Milton Ribeiro terá de lidar com temas como a renovação do Fundeb, principal fundo de financiamento da Educação Básica, que vence neste ano, e as diretrizes para estados e municípios lidarem com o impacto da pandemia da Covid-19 nas escolas e universidades. Bolsonaro usou seu perfil no Facebook para anunciar a indicação de Ribeiro para a pasta. O presidente afirmou que o pastor é "doutor em Educação pela USP, mestre em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e graduado em Direito e Teologia".
'VERDADEIRO PACTO'
A primeira fala do novo ministro da Educação também foi por rede social. "Sei da responsabilidade da missão. A educação transforma vidas; transforma uma nação. É hora de um verdadeiro pacto nacional pela qualidade da educação em todos os níveis. Precisamos de todos: da classe política, academia, estudantes, suas famílias e da sociedade em geral. Esse ideal deve nos unir", publicou Ribeiro no Twitter. Advogado, ex-professor da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Ribeiro foi vicereitor da instituição e tem experiência de mais de 12 anos em gestão da educação particular. É um dos integrantes do conselho do comitê gestor da instituição, e sua passagem pela reitoria é lembrada pelo desenvolvimento dos cursos de pósgraduação e especialização. Dentro do conselho da universidade, que cultiva o liberalismo, é o responsável por chamar a atenção para questões sociais. No seu currículo, Ribeiro relata ser especialista em Velho Testamento pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper. Integra ainda a Junta Regional de Educação Teológica de Campinas.
O pastor, há quase 20 à frente da Igreja Presbiteriana Jardim de Oração, em Santos (SP), é também defensor da liberdade religiosa, inclusive de não ter religião. O tema é tratado no livro "Liberdade religiosa, uma proposta para debate", lançado em 2002. "A liberdade religiosa compreende até mesmo à liberdade
De não crer", escreveu. Num culto transmitido para os fiéis, em 24 de maio passado, visto por cerca de 930 pessoas, Ribeiro falou sobre Pôncio Pilatos, que não interveio para evitar que Jesus fosse condenado à morte. "Essa questão de governantes indecisos atrapalha a vida de todo o povo", afirmou. Sobre a Covid-19, disse estar tomando todos os cuidados, mas que "não é o esforço dos homens e dos cientistas que vai fazer com que o mundo melhore, é a ação de Deus". João Marcelo Borges, diretor de estratégia do Todos pela Educação, diz que Ribeiro possui desafios acumulados pelos seus antecessores na pasta. — O novo ministro tem dois desafios pela frente. O primeiro é mostrar que tem respaldo do governo. Recentemente, ocorreu um leilão
Público do MEC com aliados exigindo X ou Y. O segundo desafio é a articulação com os estados e municípios. Foram indicados nomes para o CNE (Conselho Nacional de Educação) que têm um potencial maior de estrago do que qualquer nomeação para ministro. E foram publicados antes de ele assumir. Isso vai dificultar a sua gestão. Sobre o currículo do novo titular, Borges afirma que ele tem experiência no setor privado, mas não no público. — Não conhecemos esse ministro. Ele não estava envolvido nos debates sobre educação pública. Não tem publicação relevante sobre o tema. É possível dizer que ele não é um técnico com experiência no setor. O que se espera é que ele monte uma equipe que supra essa necessidade.